Hoje termina um ciclo. O ciclo da minha colaboração, de vários anos, com estas páginas, este jornal e os leitores que me acompanharam nesta aventura.

Foram anos conturbados, que viram Portugal passar por uma atípica situação de emergência nacional, que veio a desaguar numa também atípica solução governativa, que ainda se mantém – foram tempos agitados mas interessantes, estes desde a troika até à geringonça.

Durante este longo período distribuí generosamente muitas críticas, por vezes virulentas e ocasionalmente amargas, à esquerda e à direita, e alguns (poucos) elogios. Sei de ciência certa que indispus muitos dos visados e presumo que tenha agastado muitos mais. Mas, mais importante do que isso, do meu ponto de vista, foi a grandeza de espírito daqueles que souberam reconhecer a justeza de algumas das censuras que lhes dirigi e o fair-play dos que, não lhes reconhecendo justeza nenhuma (provavelmente com muita razão), não se zangaram com as minhas apreciações e, concordando em discordar, se tornaram até, nalguns casos, meus amigos.

Este ciclo termina hoje, mas, enquanto houver uma foice e um martelo a ameaçar as mais básicas liberdades cívicas e económicas; enquanto formos esmagados sob o peso de um Estado centralista, tentacular e omnipresente; enquanto fizer escola a ideia de que a liberdade de iniciativa económica, sobretudo prosseguida com sucesso, é errada e deve ser demonizada, cá estarei – para defender a liberdade e para aplaudir uma Economia desenvolta e desamarrada de constrangimentos ideológicos e burocráticos. Cá estarei, um liberal convicto e confesso, para dar testemunho a favor de um tecido económico desencostado do Estado, subsídio-imune e desligado das teias clientelares que compõem o útero das operações Marquês. Cá estarei para denunciar um Orçamento que empurra mais uma vez para a frente qualquer resolução de problemas estruturais, que aumenta de forma despudorada o desequilíbrio das contas públicas, ao fazer crescer a despesa estrutural (num regabofe de aumentos, descongelamentos, etc.), e que corta nos chamados custos intermédios e no investimento público. Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!

A minha última palavra é de agradecimento por me ter sido permitido expor nestas páginas, sem constrangimentos e sem quaisquer mordaças, os meus pontos de vista e as minhas convicções e até, por vezes, os meus estados de alma. Agradeço ao Jornal Económico e ao seu Director, aos leitores que me foram acompanhando, com incomensurável paciência e generosidade sem fim, e a todos aqueles, muitos, que me dirigiram uma palavra de apreço, de agradecimento ou de crítica – graças a eles, estou hoje em melhores condições de continuar a defender as causas que considero valerem a pena. Até breve!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.