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Dar futuro ao passado

O artista visual João Lobo propõe-se, na exposição patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, lançar um olhar muito pessoal sobre um universo longínquo no tempo que urge preservar e projetar no futuro.
11 Setembro 2022, 16h47

O bicentenário da independência do Brasil tem sido pródigo em celebrações onde se espera, o país que os assinala, mas também por cá, fruto da vontade de pessoas e instituições que acreditam em manter vivas as pontes sobre o Atlântico.

Foi assim que surgiu o convite do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa ao artista visual brasileiro João Lobo. E foi a partir daí que a exposição “ÍNDICE itacoatiara do ingá” começou a ganhar forma. No epicentro deste exercício estão as inscrições rupestres das Itacoatiaras do Ingá, localizadas no Estado de Paraíba, Brasil, que João Lobo fotografou usando filmes analógicos com datas de validade alteradas. Objetivo? Subverter a técnica e reproduzir impressões visuais ampliadas das gravuras do rochedo. Depois, recorreu à tecnologia digital para produzir imagens com longas exposições e diversas variações nos movimentos.

O artista iniciou este trabalho no ano de 2004, no qual procura estabelecer um diálogo entre o antigo e o moderno sem pôr em causa os fundamentos da ciência. A leitura que aqui propõe espelha o seu olhar pessoal e reflete uma abordagem que prima pela ausência de procedimentos técnicos formais, colocando antes em evidência a riqueza plástica do sítio arqueológico do Ingá. Por essa razão, não surpreende que analógico e digital caminhem de mãos dadas.

A pedra do Ingá mede 24×03 metros e é composta por rocha metamórfica coberta por inscrições antigas. Localizada no Sítio Arqueológico das Itacoatiaras na cidade brasileira de Ingá, no estado de Paraíba, no Nordeste do país, a sua origem é tudo menos consensual. Há historiadores que defendem tratar-se de inscrições da autoria dos fenícios e outros para quem estas são vestígios de um calendário lunar extraterrestre. Há ainda quem aponte para os primórdios de uma arte escultórica, ao passo que outros ainda sugerem que as inscrições são da autoria de uma comunidade pré-histórica, ilação que tem por base a técnica utilizada para desenvolver os grafismos esculpidos em baixo-relevo.

Neste clássico “a doutrina divide-se”, figura igualmente a tese defendida pelos arqueólogos do Instituto do Património Histórico Artístico e Natural do Brasil, para quem as gravuras rupestres das Itacoatiaras do Ingá foram feitas por habitantes do sítio pouco antes da chegada dos colonizadores portugueses.

A exposição tem curadoria de Sofia Marçal e realça o experimentalismo de João Lobo, que se propõe aqui valorizar um património e uma “experiência” que se encontra publicada em livro trilingue, com depoimentos de investigadores e críticos de arte de referência do Brasil, Portugal, Argentina e EUA.

A exposição “ÍNDICE itacoatiara do ingá” divide-se em três capítulos – Yesterday, Today e Tomorrow – e pode ser vista na Sala Azul do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, até dia 30 de setembro.

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