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Das bolsas ao ouro até à energia, como vão reagir os mercados se a Rússia invadir a Ucrânia?

A tensão crescente entre a Rússia e a Ucrânia tem agitado os mercados financeiros. Caso o conflito se materialize, haverá uma corrida aos ativos considerados seguros e um potencial aumento dos preços da energia na Europa.
25 Janeiro 2022, 17h15

A tensão entre a Rússia e a Ucrânia já se arrasta há vários anos, mas ganhou novos contornos nos últimos meses. Desde o final do ano passado que os sinais estão à vista, com os receios de uma invasão a ganharem agora mais força pelo impacto que um conflito poderá ter para as economias, sobretudo na Europa, mas também para os mercados financeiros. Se as autoridades russas passarem das palavras aos atos, os especialistas esperam que haja uma corrida aos ativos considerados seguros, como o ouro, mas também um aumento da fatura de energia para os cidadãos europeus.

Os primeiros alertas soaram em novembro, com o aumento das tropas russas na fronteira junto à Ucrânia. São agora mais de 100 mil os soldados russos convocados por Moscovo, naquela que diz ser uma resposta a ameaças feitas pela NATO e pelas potências do Ocidente. Um movimento que aumentou os receios em torno de uma possível invasão do território ucraniano pelas forças russas, depois de estas terem ocupado e anexado a Crimeia em 2014.

Os EUA ordenaram mesmo que as famílias dos diplomatas norte-americanos colocados em Kiev abandonassem a Ucrânia. Mais recentemente, Joe Biden disse acreditar num possível ataque, alertando que, se assim for, Moscovo vai pagar um “preço elevado”. O líder da Casa Branca garantiu que as forças americanas e os seus aliados estão preparados para impor as sanções mais pesadas de sempre em caso de invasão.

Do lado da Europa, o tom também tem sido duro. Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) reuniram-se esta segunda-feira em Bruxelas e reiteraram o “apoio inabalável” à soberania e integridade territorial da Ucrânia. E deixaram um aviso: qualquer agressão militar terá “graves consequências e custos avultados” para os russos.

Tensão abala mercados

Este agravar da tensão acabou por abalar os mercados financeiros no início da semana, com perdas elevadas na Europa e nos EUA. Isto depois de, durante o fim de semana, ter chegado a Kiev o primeiro carregamento de ajuda militar norte-americana. E após o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico ter afirmado que a Rússia tem em marcha um plano para instalar um regime controlado por Moscovo na Ucrânia.

“A Ucrânia é claramente uma preocupação que está a pesar nos mercados”, diz Darren Schuringa, responsável pelos investimento na ASYMmetric ETFs, citado pela BBC, notando que isto “vai continuar a pesar nos mercados num futuro próximo até que haja algum tipo de resolução e mais clareza” sobre o que vai acontecer.

A resiliência manteve-se entre os ativos considerados seguros pelos investidores, como é o caso do ouro – que alcançou um máximo de dois meses – ou do franco suíço. Mas as ações caíram, com o Stoxx 600 – o índice de referência europeu – a tocar mínimos de três meses e, nos EUA, o S&P 500 cedeu para os valores mais baixos em sete meses, entrando em território de correção (queda superior a 10% desde o último máximo). O VIX, o chamado índice do medo, duplicou este ano, devido ao conflito Rússia-Ucrânia, mas também às expectativas em torno de uma subida das taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA.

A Ucrânia é claramente uma preocupação que está a pesar nos mercados (…) vai continuar a pesar nos mercados num futuro próximo até que haja algum tipo de resolução e mais clareza.

Também ativos como a bitcoin recuaram. Por outro lado, na Alemanha, as “yields” das obrigações a 10 anos, que tinham entrado em terreno positivo pela primeira vez desde 2019, voltaram ao “vermelho” à boleia da procura por ativos de refúgio.

Em sentido contrário seguiram os preços do gás, que aumentaram perante os receios de interrupções no fornecimento de energia da Rússia à Europa, numa altura em que já se vive uma crise energética que está a criar pressão inflacionista.

Conflito pode aumentar custo da energia na Europa

O Velho Continente – e não os EUA – é o que será mais afetado caso se materialize uma invasão russa e a consequente aplicação de sanções, considera a casa de investimento Edmond de Rothschild. A Rússia representa 25% das importações de petróleo da UE e 40% das importações de gás natural na Europa. E ainda 50% das importações de gás natural da Alemanha, sendo o quinto maior parceiro comercial da Europa, mas situando-se em 30.º para os EUA.

Perante isto, as expectativas apontam para que a fatura da energia dos europeus possa subir até mil euros este ano, aos atuais preços da energia, o que pode representar um risco para o crescimento económico na Europa, a não ser que os governos intervenham com medidas para subsidiar estes custos, refere a Edmond de Rothschild.

Deverá aumentar a procura por ativos considerados seguros, como obrigações, dólar, iene e franco suíço.

Além disso, um aumento dos preços do gás natural poderá levar “outros preços da energia a subir e abalar o valor dos ativos financeiros de uma maneira muito mais significativa do que vimos em 2014”, quando a Rússia anexou a Crimeia, afirma Steve Barrow, responsável do Standard Bank, citado pelo Marketwatch, referindo que, neste cenário, deverá aumentar a procura por ativos seguros, como obrigações norte-americanas, dólar, iene e franco suíço.

Aliás, analistas do ING consideram que a existência de volatilidade em torno do mercado de energia deverá traduzir-se em ganhos para a moeda norte-americana versus o euro. “Qualquer escalada será positiva para o dólar – na perspetiva de que a dependência da Europa das exportações de energia da Rússia vai ser ainda mais evidente”, rematam.

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