Existe uma nova forma de big data a que chamamos dataficação. É a tendência tecnológica de transformar a nossa vida em dados, que posteriormente são transformados em informação útil para os modelos de machine learning e plataformas de inteligência artificial (IA).

O processo de dataficação, por vezes chamado de “vigilância distribuída” (dataveillance) dos dados tem permitido às empresa tecnológicas e digitais desenvolver plataformas e ferramentas de IA nas mais variadas áreas, como a saúde (no diagnóstico precoce de doenças graves como o cancro e diabetes), fome (na otimização de distribuição de alimentos), igualdade e inclusão (no reconhecimento de emoções e ajuda de indivíduos que sofrem de autismo a interagir em ambientes sociais), banca (na deteção de fraude em operações financeiras e na análise de risco de crédito), seguros (na definição do perfil de risco dos segurados), recursos humanos (na identificação do perfil de risco dos funcionários), recrutamento de pessoal (no processamento de linguagem natural e análise de sentimentos em substituição de testes de personalidade), educação (na aprendizagem adaptativa e recomendação de conteúdos programáticos), segurança (na prevenção da criminalidade e rastreio de criminosos), resposta a crises (em missões de busca e salvamento, combate a incêndios florestais e surto de doenças), entre outras.

Os números da dataficação nas redes sociais são impressionantes. Cerca de 75% das pessoas em idade adulta conectadas à internet usam redes sociais. A cada dia, são enviados mais de um bilião de tweets e aderem mais de 200 mil pessoas ao LinkedIn. A cada minuto, são publicadas no Facebook mais de 150 mil fotos e o número de mensagens trocadas no WhatsApp é superior 50 milhões.

Segundo a Gartner, existem atualmente cerca de 20 biliões de dispositivos com um sistema de conexão à IoT (Internet das Coisas). Em 2022, estima-se que cerca de 40 biliões de sensores e dispositivos vão estar conectados à IoT através de cidades, hospitais, casas e escritórios inteligentes. Este número pode quadruplicar ou quintuplicar em 2025 e crescer a um ritmo exponencial até meados de 2030.

O fenómeno de dataficação conjugado com o número de dispositivos conectados na internet irá dar, aliás já está a dar, origem a uma nova forma de Inteligência Artificial, denominada de Federated Learning.

Esta nova metodologia criada pela Google para dar resposta a quantidade de dados gerados nos dispositivos conectados à internet, como o nosso telemóvel, permite que se criem modelos de machine learning nos próprios dispositivos. Desta forma, para além de agilizar muitas das temáticas relacionadas com a privacidade e segurança dos dados, permite que seja a inteligência, neste caso o modelo de machine learning, a circular perante os milhões de dispositivos, possibilitando que o mundo se torne mais inteligente sem necessidade de centralizar toda a informação gerada, o que resolve problemas de legislação.

Este avanço tecnologia da IA irá assim permitir acelerar o desenvolvimento de novos produtos em áreas em que não era possível pela legislação impedir centralização de dados, como a saúde. A transformação digital das empresas, escolas, hospitais, casas, cidades em organizações de dados será a próxima revolução industrial.

Artigo escrito em coautoria com Eliano Marques, Coordenador e Professor da Pós-Graduação em Applied Artificial Intelligence and Machine Learning do ISEG Executive Education.