Enquanto escrevo esta crónica tem início a 50ª reunião anual do Fórum Económico Mundial, na cidade suíça de Davos. As atenções mediáticas estão centradas no “duelo” entre Donald Trump e Greta Thunberg, travado a propósito do que a jovem ativista designa como o “apocalipse climático”. No entanto, os holofotes em torno destas duas figuras não devem deixar-nos escapar a importância estrutural do que está em causa no manifesto subscrito pelos participantes e que foi redigido pelo fundador e atual presidente executivo do Fórum Mundial, Klaus Schwab – o tema da Quarta Revolução Industrial e a definição de um propósito universal e comum, orientador da atividade empresarial.

Um dos pontos do manifesto é digno de redobrado destaque. Segundo o texto: “Uma empresa é mais do que uma unidade económica que gera riqueza. Aborda as aspirações humanas e sociais dentro da estrutura do sistema social como um todo. O desempenho não deve ser medido apenas pelos benefícios dos acionistas, mas também em relação ao cumprimento de objetivos ambientais e sociais. Os salários da equipa de gestão devem refletir a responsabilidade para com as partes interessadas.”

Críticos haverá que apontarão o dedo a estas intenções inscritas no referido manifesto como não passando disso mesmo, boas intenções que não se transformarão em atos e resultados. No entanto, essa abordagem cética peca por ignorar a importância desta abordagem humanista, ou mesmo se quisermos democrata-cristã, por parte dos líderes do mundo corporativo. Noutro lugar do Manifesto, essa preocupação é igualmente evidente: “Uma empresa trata os seus funcionários com dignidade e respeito. Respeita a diversidade e aspira à melhoria contínua das condições de trabalho e ao bem-estar dos funcionários”.

Como declarou Klaus Schwab, que lidera a organização desde a fundação em 1971:  “As pessoas estão a revoltar-se contra as ‘elites’ económicas que acreditam as ter traído (…). “Com o mundo numa encruzilhada tão crítica, este ano desenvolvemos o ‘Manifesto de Davos 2020’ para reimaginar o objetivo e as avaliações para empresas e governos”. Tal como visiona Schwab, os líderes empresariais têm uma grande oportunidade diante deles. E se conseguirem dotar de um significado concreto aquilo que se designa como “capitalismo das partes interessadas” ou “stakeholder capitalism”, esse mesmos líderes poderão ir além de suas obrigações legais e responder ao apelo da sociedade civil, ajudando a atingir objetivos sociais mais amplos, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e o  Acordo de Paris.

É, assim, muito importante que olhemos com atenção para o que se passará depois deste Davos 2020 ao nível da humanização empresarial e da integração de segmentos da sociedade como stakeholders até aqui ignorados ou, pelo menos, não incluídos. Citando as palavras recentes do Papa Francisco a um grupo de jovens empresários: “Nunca foi fácil sermos cristãos e termos grandes responsabilidades”. Mas, fácil ou não, é esse o caminho que não podemos deixar de percorrer.

 

 

 

Este fim de semana, em Aveiro, o CDS decidirá o seu caminho futuro. Será o culminar de um processo eleitoral que foi aberto, disputado como na política sempre é suposto ser, assente no debate plural e na discussão frontal de ideias. Ganhe quem ganhar, o CDS manterá sempre o seu papel como partido de referência, humanista e democrata-cristão, virado para as pessoas e as famílias. É nisso que todos nós, centristas, acreditamos.