Numa nota intitulada “Portuguese Banks: Key factors to consider as impact of Covid reduces“, a DBRS Morningstar analisou os bancos portugueses (CGD, BCP, Novo Banco e Banco Montepio). Nela, a DBRS diz que a banca portuguesa escapou ao impacto negativo da pandemia que se anunciava, mas ainda demorará até que os créditos em risco, que saíram das moratórias, se transformem em malparado, pelo que o risco persiste. A agência nota ainda que os riscos diretos da Rússia e da Ucrânia parecem contidos, mas uma avaliação completa das implicações mais amplas do conflito ainda não está clara.

A intervenção na Ucrânia pela Rússia apresenta riscos negativos para o crescimento económico. “Isso exacerba os riscos de uma inflação alta persistente, alimentada pelo aumento dos preços da energia e das commodities, além de prejudicar as relações comerciais e a confiança devido às sanções”.

“Constatamos que a exposição direta do setor bancário português à Rússia e à Ucrânia é limitada”, diz a DBRS que acrescenta que totalizou cerca de 186 milhões de euros de acordo com dados do BIS no terceiro trimestre de 2021.

“No entanto, não podemos descartar potenciais efeitos negativos indiretos, dado o contexto macroeconómico. Além disso, a situação atual coloca desafios para os bancos em termos de risco operacional e segurança cibernética”, salienta a DBRS.

Sobre o rescaldo da pandemia, a DBRS diz que uma posição financeira mais forte dos bancos e clientes, juntamente com medidas de apoio sem precedentes dadas para travar o impacto da pandemia na economia, ajudaram a resistir ao choque. A DBRS ressalva no entanto que “embora os riscos de curto prazo para a Covid-19 tenham diminuído, assistimos a um aumento no valor dos empréstimos classificados em “Stage 2”, que anteriormente eram apoiados pela moratória (+8% desde o início da Covid-19). Em “Stage 2” são classificados os contratos cujo risco de crédito aumentou significativamente desde o reconhecimento inicial, mas para os quais não existe evidência objetiva de imparidade.

“Pode levar algum tempo até que o risco de formação de NPL (Non-Performing Loans) nesses empréstimos se concretize. Nesse contexto, continuaremos a avaliar as implicações pós-Covid-19, incluindo o impacto do potencial aumento de taxas de juros, mas também os riscos negativos para o crescimento económico decorrentes do aumento dos preços da energia, do estrangulamento das cadeias de suprimentos, bem como os desenvolvimentos em curso no conflito entra a Rússia e a Ucrânia”, diz a DBRS.

Os bancos portugueses continuam a diminuir o rácio de NPL (em 2021 estava em 4,7%, em média) devido à alienação de ativos problemáticos.

A rentabilidade dos bancos portugueses melhorou significativamente em 2021, tendo regressado a níveis superiores aos observados antes da crise do Covid-19, reconhece a agência de rating canadiana.

“Todos os bancos da nossa amostra registaram um lucro líquido em 2021, em grande parte devido à redução das imparidades de crédito. Em média, as provisões e imparidades totais diminuíram 28% em 2021 (face a 2020) como resultado da redução das perdas de crédito e da melhoria das condições macroeconómicas. O risco de crédito agregado caiu para 42 bps em 2021, de 102 bps em 2020”, diz a agência.

Olhando para a atividade em 2021 a DBRS salienta que as receitas bancárias ‘core’ permaneceram amplamente estáveis, enquanto as receitas de ‘trading’ cresceram devido à melhoria das condições do mercado de capitais em 2021.

As receitas de comissões aumentaram, impulsionadas por níveis mais altos de atividade e de volumes de transações em sistemas de pagamento, gestão de ativos e seguros. Todos os bancos registaram um crescimento homólogo das comissões, embora o ritmo de crescimento tenha variado entre os bancos.

Embora o crescimento dos empréstimos tenha acelerado em 2021, a pressão sobre a margem financeira permaneceu devido às baixas taxas de juros, lembra a DBRS que diz também que em 2021, os bancos portugueses avançaram ainda mais na racionalização das operações e na melhoria da eficiência através da racionalização da área de cobertura das sucursais e de operações de simplificação da estrutura.