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De “O regresso do filho pródigo” a “E tudo Pizzi levou”. Seis episódios que marcaram o regresso de Jesus ao SL Benfica

Foram seis episódios mas podiam ter sido quatro temporadas se Jorge Jesus tivesse aceite a oferta inicial de Luís Filipe Vieira. Recorde os momentos mais importantes de um regresso que se adivinhava doloroso e que terminou de forma precoce, época e meia e 130 milhões de euros depois.
  • Lusa
28 Dezembro 2021, 17h30

A 48 horas de um embate importantíssimo para o SL Benfica, a SAD e Jorge Jesus terminaram uma relação que levava apenas época e meia mas na qual estava impregnado um divórcio mal resolvido desde 2015. Apesar do maior investimento da história do futebol português e de uma qualificação para a fase a eliminar da Liga dos Campeões, em que as ‘águias’ superaram o FC Barcelona, Jorge Jesus sai a partir do momento em que deixa de ter o plantel consigo.

Da detenção e consequente queda de Luís Filipe Vieira aos conflitos públicos entre a estrutura do futebol e o técnico, recorde esta série de seis episódios que, se Jorge Jesus quisesse, poderia ter quatro temporadas (duração do contrato que o ex-presidente queria dar ao técnico português).

 

Episódio 1: “O regresso do filho pródigo”

Depois de um ano ao serviço do Flamengo, Jorge Jesus conquistou seis troféus em pouco mais de um ano, incluindo a Taça Libertadores e o campeonato brasileiro. Aclamado pelos mais de 40 milhões de adeptos do Flamengo, o técnico não resistiu ao apelo de Luís Filipe Vieira, apesar das acusações que marcaram a sua saída do SL Benfica para o Sporting CP no “verão quente” de 2015. No verão de 2020 e com promessas de um forte investimento, Jesus deixou-se fotografar ao lado de Vieira e Rui Costa com promessas de que o SL Benfica iria jogar o triplo e que iria arrasar. O técnico fez questão de dizer que queria apenas um ano de contrato já que Vieira ofereceu quatro: “Então fazemos dois anos”, disse Jesus que fez sempre questão de dizer que vinha para o SL Benfica ganhar menos do que auferia no Flamengo.

Episódio 2: “A culpa é da Covid”

No verão de 2020 e com o mercado de transferências em absoluta retração, fruto da quebra de receitas devido à pandemia, Luís Filipe Vieira cumpriu a promessa e deu a Jorge Jesus o maior investimento alguma vez efetuado na história do futebol português: 105 milhões de euros (o dobro do investimento de Sporting CP e FC Porto juntos). Apesar da eliminação da Liga dos Campeões da época passada, os ‘encarnados’ começaram a época de forma irrepreensível com vitórias e exibições convincentes. No entanto, a pandemia não deu tréguas aos plantéis e as ‘águias’ não escaparam a esse infortúnio, apesar de terem um plantel repleto de soluções para atacar as várias competições. Jorge Jesus e o SL Benfica acabaram por não celebrar a conquista de qualquer troféu e no fim, o balanço de direção e equipa técnica ditou um e apenas um culpado: a pandemia.

Episódio 3: “A prisão do presidente”

Com foco na próxima temporada e a convicção de que à segunda é que Jorge Jesus iria conseguir ganhar títulos para o SL Benfica, a preparação da atual época foi ensombrada pela detenção de Luís Filipe Vieira, em julho de 2020. Num absoluto momento de indefinição e com Rui Costa a autoproclamar-se novo presidente do clube e da SAD (quando na verdade só poderia ser interino), Jorge Jesus assumiu-se como o único elemento de estabilização do grupo de trabalho, com o foco na primordial entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões, fundamental para o equilíbrio das contas da Benfica SAD. Apesar de ter mantido algumas conversas com Luís Filipe Vieira, a agora legítima direção do SL Benfica (eleita em outubro de 2020) tolerou os contactos de Jorge Jesus com o amigo, a quem o técnico chegou a chamar de presidente em conferências de imprensa (mesmo depois da eleição de Rui Costa).

 

Episódio 4: “Ficou tudo a tremer”

No início de dezembro, e antes das derrotas frente a Sporting CP (Liga portuguesa) e FC Porto (Taça de Portugal), Jorge Jesus falava aos jornalistas enaltecendo a qualificação do SL Benfica para a próxima fase da Liga dos Campeões, apesar de um grupo onde constavam dois colossos do futebol mundial: Bayern de Munique e FC Barcelona. Citado pelo jornal “A Bola”, o técnico dos “encarnados” deu a entender que foi o único na estrutura do futebol do SL Benfica a acreditar no apuramento na altura do sorteio: “Agora é fácil dizer que o Benfica passou, mas minha estrutura sabe isto: quando estava a dar o sorteio, eu estava com Rui Costa, Rui Pedro Braz e Domingos Soares de Oliveira, saíram Barcelona e Bayern e ninguém gostou. Ficou tudo a tremer, mas eu disse que íamos ser apurados e que iam passar Benfica e Bayern. Disse isto na altura porque acreditava exatamente naquilo que aconteceu”. O comentário caiu muito mal junto da estrutura do futebol das “águias”.

 

Episódio 5: “O Rio de Janeiro continua lindo”

A vinda dos dirigentes do Flamengo no final do ano adivinhava-se picante mas poucos podiam antever que iria atingir contornos de novela como acabou por acontecer. Com a direção a perder a paciência com Jesus e os adeptos em rota de colisão com o treinador dos “encarnados”, Marcos Braz e Bruno Spindel, dirigentes do clube carioca, rumaram a Portugal em busca do novo treinador. Existiam apenas duas certezas neste processo: o sucessor de Renato Gaúcho seria português e a sua saída faria mossa, fosse qual fosse a escolha. Os alvos oficiais eram outros mas a reunião dos dirigentes cariocas em casa de Jorge Jesus a poucas horas do jogo da Taça de Portugal, gerou um enorme desconforto. A TV Globo divulgou uma mensagem via WhatsApp trocada entre um jornalista da rede e Jorge Jesus. Questionado sobre a possibilidade de rumar ao Flamengo, o treinador do SL Benfica terá respondido: “Isto não é o que eu quero, ou o que o Flamengo quer. Tenho contrato até maio. Não tenho hipóteses de sair antes”. Nesse dia, o SL Benfica desmentiu que Jorge Jesus tivesse intenções de sair.

 

Episódio 6: “E tudo Pizzi levou”

No rescaldo da derrota por 3-0 no Estádio do Dragão para a Taça de Portugal e ainda com o desaire frente ao Sporting CP bem presente (momento em que Jorge Jesus viu lenços brancos num Estádio da Luz repleto de adeptos), Pizzi desabafou no balneário que algo teria que mudar, um comentário que mereceu repreensão de Luisão e o apoio de Rui Pedro Braz, um momento em que mostrou uma total desunião no seio da estrutura de futebol dos encarnados. A estocada final veio uns dias depois, com Jorge Jesus a confrontar Pizzi sobre as declarações proferidas após a eliminação da Taça. A conversa terminou com o treinador a castigar o subcapitão mas com uma reação inesperada do grupo de trabalho que se recusou a treinar perante a atitude da equipa técnica. Poucas horas depois, Rui Costa reuniu com Jorge Jesus e foi colocado um ponto final num contrato que só terminava em maio de 2022.

 

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