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Novo Banco com parecer negativo por contratar a Alantra Espanha para vender imóveis

Administração Executiva do Novo Banco contratou a Alantra Espanha com “expressa proibição de ser envolvida a equipa portuguesa”. É essa divergência na escolha do assessor que o banco não referiu ao Fundo de Resolução “por considerar um detalhe sem especial relevância” e que é reportada na Auditoria Especial, esclarece o banco em reação à notícia do Público. A Deloitte levantou reservas à contratação da Alantra Espanha, quando se levantavam problemas de ‘compliance’ com a Alantra Portugal.
  • Cristina Bernardo
8 Setembro 2020, 11h03

A auditoria especial da Deloitte levanta reservas ao facto de o Novo Banco ter contratado a Alantra Espanha, quando havia questões de compliance levantadas pelo facto de o CEO da empresa portuguesa (Alantra Portugal) ser um antigo quadro do BES. Essa revelação é feita no comunicado enviado às redações em reação à notícia da edição de hoje do Público.

O Novo Banco confirma que escolheu para seu assessor a Alantra, “empresa com reconhecida experiência no mercado internacional e na Península Ibérica num total de 117 assessoradas. Em 2017 fechou 29 operações de venda, 4 das quais em Portugal e, em 2018, só em Portugal acompanhou 7 operações de vendas de portfólios”.

“O Conselho de Administração Executivo do Novo Banco ponderou o parecer do compliance, sobre matéria em que o parecer não é vinculativo, visando exclusivamente potencial risco reputacional [por a CEO da empresa portuguesa ser ex quadro do BES], que o próprio departamento de compliance referiu como tema de decisão “estratégica e de gestão””, esclarece o banco liderado por António Ramalho.

O Conselho de Administração Executivo decidiu contratar a Alantra Espanha com expressa proibição de ser envolvida a equipa portuguesa. É essa divergência na escolha do assessor que o Novo Banco não referiu ao Fundo de Resolução “por considerar um detalhe sem especial relevância e que é reportada na Auditoria Especial”, refere a instituição financeira.

O banco lembra que entre os diversos clientes da Alantra se encontra a Oitante sociedade sobre a tutela do Fundo de Resolução e a Parvalorem sociedade sob a tutela do Estado Português.

Para além da operação Viriato, o Novo Banco contratou a Alantra Espanha para vender outro portefólio que inclui imóveis, o Albatros. A Deloitte relata que “a reunião de CAE de 19 de setembro de 2018 foi aprovada a contratação do assessor financeiro Alantra, cuja equipa seria constituída por membros da Alantra Espanha, por proposta da Sucursal de Espanha do Novo Banco (suportada pelo facto de esta entidade se encontrar a colaborar com o Novo Banco na assessoria do projeto Viriato). No entanto, o parecer emitido pelo Departamento de Compliance do Novo Banco a 10 e 11 de abril de 2018 no contexto da operação Viriato foi o de que este Grupo fosse excluído não só dessa operação como de quaisquer outros processos lançados pelo Novo Banco”.

O Jornal Público escreve hoje que o Novo Banco não avisou o Fundo de Resolução sobre o “chumbo interno” à venda de imóveis. O negócio, citado pelo jornal, envolveu imóveis no valor de 645 milhões e uma instituição espanhola [Alantra Espanha], que os vendeu. A direção que garante o cumprimento das boas práticas no banco [compliance] desaconselhou duas vezes o negócio. Mas o Fundo de Resolução só soube dois anos depois, diz o Público.

O Novo Banco “desmente categoricamente” o diário, porque, diz, “não existe qualquer crítica a qualquer operação não reportada ao Fundo de Resolução como falsamente o Público refere a sua primeira página”.

“A operação teve a aprovação por todos os órgãos do Banco e pelo Fundo de Resolução, não tendo havido qualquer chumbo da operação. O departamento de compliance não chumbou a operação, muito menos duas vezes”, assegura o Novo Banco.

Este reparo da Deloitte já tinha sido referido em conferência de imprensa pelo CEO do Novo Banco, sem no entanto citar o caso concreto. Quando questionado sobre o queria o banco dizer quando em comunicado admitiu que há recomendações da Deloitte ao banco, que o Novo Banco diz estar “totalmente empenhado em continuar o caminho traçado” para “cumprir na íntegra as indicações” referidas no relatório de auditoria, António Ramalho citou vários exemplos de forma genérica. Um deles é precisamente este. “Existem dois pareceres contraditórios na contratação de um consultor para efeitos da venda de uma carteira de imobiliário” e a Deloitte pede uma clareza das regras de compliance, sobre “se devemos ou não permitir que um determinado consultor trabalhe, por exemplo, uma operação em Espanha quando não pode trabalhar essa operação em Portugal”.

No fim da semana passada também a Deloitte esteve sob fogo cruzado por causa de operações alegadamente conflituantes que foram realizadas por empresas dos dois lados da fronteira dentro da Península Ibérica. A Deloitte & Associados, SROC, auditora que elaborou esta auditoria independente ao Novo Banco, que será tornada pública em breve, esteve também sob os holofotes mediáticos por a Deloitte Espanha ter assessorado o banco na venda da GNB Vida, que foi desencadeada em março de 2017 e concluída em outubro de 2019. Em reação, a Deloitte já veio esclarecer que não identificou qualquer situação que a impedisse de auditar o Novo Banco. A Deloitte assegurou que “cumpre a lei e obriga-se às mais rigorosas regras legais, profissionais e deontológicas, bem como à verificação de independência e de conflito de interesses das entidades da rede Deloitte e dos seus profissionais para a execução deste tipo de trabalhos”.

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