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Demissões em série no Instituto Camões com novo presidente

Críticos contestam qualificações de Faro Ramos para o cargo e amizade com Santos Silva. Visado e ministro recusam a ideia.
24 Dezembro 2017, 16h30

Desde que Luís Faro Ramos tomou posse do cargo de presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (CICL), a 3 de novembro, sucedem-se as demissões na respetiva equipa de gestão. A abertura de hostilidades coube a Maria Irene Paredes (vogal do Conselho Diretivo) e seguiram-se Márcia Pinheiro (diretora dos serviços de Planeamento e Gestão), Carla Graça (chefe da divisão de Planeamento e Recursos Humanos) e Tânia Lemos (chefe da divisão de Apoio Jurídico e Contencioso). O “mal-estar” na instituição é confirmado por várias fontes e poderão surgir novas demissões nas próximas semanas.

Mas qual é a origem desse “mal-estar”? As mesmas fontes alegam que Faro Ramos, diplomata de carreira, não tem as devidas qualificações para o cargo (nomeadamente “experiência de gestão” e “currículo nas áreas de atuação” do CICL) e só foi escolhido por causa da sua “relação de amizade” com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, responsável pela nomeação.

Questionado sobre estas alegações, Faro Ramos contrapõe: “Não posso deixar de contestar a ideia, absolutamente falsa, de que não tenho experiência de gestão, nem nas áreas de atividade do CICL. Fui entre 2010 e 2012 diretor-geral de Política de Defesa Nacional, desempenhando uma função de gestão da maior responsabilidade. E nesse quadro fui o responsável direto por uma área essencial da cooperação portuguesa, que é a cooperação técnico-militar. Depois, entre 2012 e 2017, fui o embaixador na Tunísia e em Cuba. Em ambos os casos, da minha atividade resultaram progressos concretos na promoção da língua e cultura portuguesas. Designadamente, o início do ensino de português no ensino secundário da Tunísia, a inauguração da cátedra Eça de Queirós na Universidade de Havana e o novo acordo de cooperação bilateral na área da cultura entre Portugal e Cuba.”

Importa salientar que Faro Ramos foi nomeado para o cargo de diretor-geral de Política de Defesa Nacional, em 2010, precisamente por Santos Silva, então nas funções de ministro da Defesa Nacional (no segundo Governo liderado por José Sócrates). Cerca de sete anos depois, Santos Silva volta a nomear Faro Ramos para um novo cargo. Nos corredores do CICL, nos meios diplomáticos e até em alguns setores do PS (desagradados com a substituição de Ana Paula Laborinho, militante socialista, por um outsider na presidência do CICL), comenta-se em surdina que a “relação de amizade” entre ambos se sobrepõs a critérios meritocráticos.

Ora, independentemente do mérito ou currículo do nomeado, a “relação de amizade” não terá influenciado a decisão do ministro Santos Silva, em detrimento de outras pessoas eventualmente mais qualificadas? “O meu currículo é público. Fui convidado para presidir ao CICL e aceitei com muita honra esse convite. Não por ser amigo deste ou daquele, mas porque, como cidadão e como diplomata, o meu dever é servir o meu país. Cumpro esse dever com muita honra e o melhor que sei,” responde Faro Ramos.

Por sua vez, Santos Silva começa por contestar a formulação da mesma pergunta: “Assenta em pressupostos falsos e tem um tom que me ofende”. De qualquer modo, prossegue: “Não conhecia o embaixador Faro Ramos até trabalhar com ele no Ministério da Defesa Nacional, onde pude comprovar as suas qualidades profissionais, humanas e de gestão. Como felizmente me tem acontecido ao longo da minha vida académica e política, construí com ele, como com muitos outros na Defesa e agora nos Negócios Estrangeiros (como antes na Universidade, na Educação, na Cultura e no Parlamento), relações de amizade. Mas nunca nomeei ou deixei de nomear alguém por razões de amizade.” E garante: “O atual presidente do CICL tem estatuto, qualificação e experiência para sê-lo, como vai demonstrar. Essa é a razão da sua escolha, nenhuma outra.”

Relativamente ao alegado “mal-estar” no CICL, Santos Silva diz que não comenta “opiniões de fontes anónimas” e explica: “O embaixador Faro Ramos foi nomeado pelo Governo pelas razões que apresentei detalhadamente no discurso da sua tomada de posse. Depois da integração das áreas da língua e cultura e da cooperação, fazia e faz todo o sentido escolher um diplomata com currículo e experiência bastantes para dirigir o CICL em todas as suas vertentes, fazendo equipa com três outros membros do conselho diretivo, esses sim com especialização: um na área da cooperação, outro na língua e cultura, outros nos serviços de suporte. O embaixador Faro Ramos já provou que sabe dirigir institutos ou direções gerais e, nas missões que chefiou, sempre se caracterizou pelos progressos que conseguiu, designadamente na promoção da língua portuguesa.”

De resto, tanto Santos Silva como Faro Ramos desvalorizam as demissões em série. “O pedido de demissão apresentado pela vogal do conselho diretivo do CICL implicará a nomeação em regime de substituição de um novo vogal e a consequente reorganização da área de gestão, valorizando os seus recursos humanos nessa área,“ afirma Santos Silva. “O CICL é uma organização que conta com valiosos recursos humanos em todas as áreas, incluindo as de suporte. Saberemos encontrar as melhores soluções de direção, nos diferentes níveis de responsabilidade em que ela se exerce, com o contributo de todos,“ destaca Faro Ramos.

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