Durante muitos anos e em diversos quadrantes da sociedade portuguesa, a democracia tem sido vista como uma conquista e um avanço civilizacional pelo qual muitos portugueses e portuguesas batalharam e pugnaram.

Em jeito de balanço, de mais um ano das comemorações de Abril e dos valores defendidos em cada 1º de Maio, e sem de forma alguma querer colocar em causa este legado, atrevo-me a perguntar se a maioria das franjas da nossa atual sociedade sente esta conquista como uma mais valia ou uma ferramenta que os ajuda a viver verdadeiramente melhor no seu dia a dia?

Perante os mais diversos indicadores sociais, políticos, económicos, religiosos e éticos, não faltam as vozes mudas de esperança a clamar por uma reforma do estado das coisas que traga alento a uma sociedade, que continua a empurrar para as margens homens e mulheres que sentem na pele os resultados discriminatórios de uma política que traz a responsabilidade de manter um país inteiro em cima dos ombros duma classe média cada vez menor e mais sobrecarregada por impostos – que deveriam ser aliviados pelos cortes na gordura do Estado, mas que, infelizmente, pela inoperância ou incapacidade de quem nos governa, vê esta mudança de paradigma sistematicamente adiada.

Acresce a falta de transparência e credibilidade política, com as constantes e graves falhas de Estado, a falta de responsabilização dos intervenientes públicos, económicos e políticos, um Portugal que crescesse do ponto de vista económico, com menos carga fiscal sobre os cidadãos, com menos recurso ao endividamento público e menos manipulação ideológica dos valores constitucionais, da educação e da justiça, sectores vitais do Estado.

Perante este cenário, e o facto de se sentir a necessidade de se construir uma democracia mais verdadeira, honesta e que corresponda às expectativas de quem está preenchido de promessas, são cada vez mais as vozes que perguntam se não chegou a hora de fazermos um parêntesis real a esta democracia enferma (sem esquecer a necessidade democrática) e, durante uma fase, tentarmos um novo regime político e social mais exigente?

Não terá chegado a hora de tentarmos fazer diferente para não cairmos na loucura de esperarmos resultados diferentes continuando a fazer tudo igual? É que a verdadeira crise do País é do seu sistema político, e alterar o que é necessário é passar das palavras às soluções. Nem sequer é o facto de quem governa ter ou não maioria parlamentar de suporte. Trata-se da falta de credibilidade e estabilidade que mina os avanços necessários a Portugal

Talvez tenha chegado a hora de sermos audazes e descobrirmos novas fórmulas que permitam que se cumpra Portugal. Para que os portugueses possam acreditar mais nas instituições, na ação governativa, na justiça, na equidade, na proporcionalidade e no equilíbrio do Estado Social, temos todos que fazer diferente. E pugnar por alterar, na nossa Democracia, o nosso sistema eleitoral e o sistema político, para que possamos construir, para as próximas décadas, um país melhor, com uma economia mais robusta e uma sociedade que combata o fosso da desigualdade e da injustiça social, para uma democracia mais sã e duradoura.

No momento em que escrevo este meu artigo, nem sequer sabemos se teremos governo por mais um dia, ou meia de dúzia de meses, ou até final da legislatura em outubro de 2026, tamanha é a degradação, a que se soma agora o desentendimento entre titulares de Órgãos de Soberania. E poucos se preocupam com a imperiosa necessidade de termos uma democracia mais sã e duradoura, um Portugal capaz de gerar riqueza e desenvolvimento, que se refletisse em qualidade de vida e poder de compra dos cidadãos, financiados na capacidade de com menos fazer mais, e não no expediente insustentável e esgotado de continuar a financiar a nossa democracia com o único “petróleo” que temos conseguido explorar: o poço da máquina fiscal.

Vale a pena pensar no assunto e escolher a mudança, que parece mesmo inevitável.