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Depois das ‘hot pants’ a minissaia, ou como falar da ousadia de Mary Quant

Inovadora e visionária, Mary Quant não só soube ler o seu tempo como soube vivê-lo. “As jovens estavam cansadas de usar o mesmo que as mães”, escreveu na sua autobiografia. E passou à prática.
14 Abril 2023, 13h55

Mary Quant, estilista britânica, morreu aos 93 anos, esta quinta-feira, 13 de abril. O nome que ficou para sempre associado à minissaia também pode ser recordado a propósito de uma outra “bomba” na moda, as hot pants, que estiveram na origem do biquíni. Não por ser criação sua, nada disso, mas por ter ajudado a popularizá-las, na década de 60.

Mas, já agora, recorde-se o que Mary Quant andou até chegar a esse momento “implosivo”. Nascida a 11 de fevereiro de 1934 em Londres, fez os estudos na Escola de Arte Goldsmith, entre 1950 e 1953, e, posteriormente, começou a desenhar peças para um estilista de chapéus dinamarquês. Em 1955, quando tinha apenas 21 anos, abriu uma loja na capital britânica, na zona de Chelsea, tendo o marido e um amigo como sócios do negócio. O sucesso foi imediato e, volvidos sete anos, a empresa expandiu-se por quase toda a Europa e EUA, produzindo vestuário em grande escala a nível mundial.

As tendências jovens eram o que verdadeiramente interessava Mary Quant, fazendo dela uma protagonista da grande viragem no mundo da moda internacional na década de 60, uma vez que os costureiros de renome apenas apostavam na alta-costura. Nessa época, as roupas desenhadas por Mary Quant eram semelhantes às usadas pelas bailarinas, já que incluíam curtas saias de pregas, meias brancas e sapatos com fivelas brancas. Resultado? Nasceu aquele que ficou conhecido como Chelsea Look, que contribuiu para a vulgarização da minissaia e dos collants coloridos em todo o mundo.

Diga-se que a minissaia foi bastante contestada a nível mundial, por ser considerada demasiado ousada e, em parte, responsável pelos movimentos de libertação da mulher. Foi proibida pelo Papa Paulo VI, que a considerou um atentado à dignidade, e deu origem a uma série de debates. Apesar da polémica, muitas foram as jovens que aderiram à moda que refletia um novo gosto musical e novos valores sociais.

Chegou a dizer sobre a minissaia que, “foram as miúdas da King’s Road que inventaram a mini. Eu fazia roupas fáceis, jovens e simples, nas quais nos podíamos mover, correr e pular. Fazíamos as roupas com o comprimento que a cliente quisesse. Eu já a usava muito curta, e as clientes diziam: ‘Mais curto, mais curto’.”

Brigitte Bardot foi das primeiras estrelas de cinema a aderir à “mini”. Os ventos de mudança sopravam e o talento de Quant acaba por ser reconhecido ainda na mesma década, através de diversos prémios e menções, tendo inclusive sido nomeada, em 1966, Membro da Ordem do Império Britânico. No mesmo ano, publicou uma autobiografia, intitulada Quant by Quant (“Quant por Quant”) e, entrados na década de 70, Quant deixa de fabricar vestuário com o seu nome, continuando, contudo, a desenhar roupas, lingerie e armações de óculos.

Nesse mítico ano de 1966, criou ainda o seu negócio de cosméticos, que se caraterizava pelo design cuidado dos produtos, onde predominava o preto e o prateado, sempre ornamentado com a margarida que se tornou a imagem de marca de Mary Quant.

Em 1973 e 1974, o Museu de Londres prestou homenagem ao seu trabalho e à a moda dos anos 60, e, posteriormente, entre 1976 e 1978, integrou o Conselho Consultivo do Museu Alberto e Vitória, em Londres.

Inovadora e visionária são apenas dois adjetivos que muitos invocaram no dia da sua morte, 13 de abril de 2023, na sua casa em Surrey, no Reino Unido.

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