Agora que o pior da pandemia parece estar para trás, a maior ameaça para a economia poderá vir exatamente de onde veio em março de 2020: da China.

Já é praticamente um lugar-comum falar das dificuldades logísticas com um dos subprodutos da Covid-19. Um ano e meio depois do início da pandemia, persistem os constrangimentos de abastecimento com origem na China de que já dávamos conta em março de 2020 neste artigo e, da mesma forma que o país tem sido o principal motor da economia mundial nos últimos anos, poderá ser agora o grão de areia na engrenagem da recuperação a nível global.

Nesta fase preocupam, sobretudo, dois tipos de ameaças. Começando pela mais óbvia – o tema logístico. Quando no Ocidente falamos em problemas de abastecimento, é comum pensar em como esses constrangimentos prejudicam o fabrico de produtos finais e as cadeias comerciais, mas esquecemos que as “nossas” importações são as exportações chinesas. A escassez de produtos intermédios, mas sobretudo de navios e dificuldades de expedição das mercadorias nos portos provoca a jusante uma subida dos custos, mas a montante uma contração da atividade. E se a indústria na China continuar a contrair, como os números já dão a entender, o resto do mudo irá sofrer.

Por outro lado, há cada vez mais sinais de que o setor imobiliário chinês está em contração. Vários promotores imobiliários, bastante endividados, estão em dificuldades num mercado em que os preços e transações estão a estabilizar e mesmo a recuar em algumas regiões. Este setor está a ser afetado por decisões governamentais que pretendem limitar o custo das casas e que podem implicar dificuldades para o sistema financeiro.

Os sinais de maior regulamentação que emanam de Pequim podem contaminar outros setores, abrandando ainda mais a economia da China numa fase em que o resto do mundo mais precisa de indutores de crescimento.