[weglot_switcher]

Descarbonização das financeiras implica caminho bem delineado e realista

Apesar dos desenvolvimentos recentes na definição de métricas padronizadas para a avaliação de objetivos de neutralidade carbónica, o caminho a percorrer para o ‘net-zero’ é ainda longo, refere a EY.
18 Setembro 2022, 14h00

A transição para uma economia neutra em emissões de gases com efeito estufa exige um compromisso sério dos vários agentes, em particular as grandes empresas, que se deparam com dificuldades frequentes em várias fases deste processo. A EY delineou, na antecâmara da Cimeira sobre Alterações Climáticas de Glasgow (COP26), um plano de quatro passos para ajudar a guiar as organizações na descarbonização, lançando ainda recomendações específicas para o sector agrícola, de bens de consumo e tecnológico.

Frisando a necessidade de manter a adaptabilidade face aos objetivos e à rápida evolução da tecnologia e ferramentas usadas, a EY sugere quatro etapas para os planos de descarbonização das empresas financeiras: mapeamento, definição de objetivos, implementação e comunicação.

Numa primeira fase, importa compreender as emissões decorrentes de cada operação, de forma a definir objetivos mensuráveis e realistas para a organização. A implementação apresenta-se como a fase mais desafiante para as empresas, reconhece a EY, dado o seu impacto nas decisões do dia-a-dia, e, finalmente, há a necessidade de reportar os processos incorridos e os seus resultados a todos os impactados.

Assim, a EY argumenta que qualquer estratégia de descarbonização deverá assentar numa capacidade da empresa de avaliar “o atual e futuro estado da transição de clientes, investidores e ativos”, os “trade-offs entre considerações económicas, sociais e ambientais de curto e longo-prazo”, bem como os “efeitos em cadeia das decisões de descarbonização nas relações com clientes, performance operacional e reputação da marca”.

Um dos principais desafios prende-se com a falta de métricas standardizadas para quantificar impactos de emissões, apesar dos desenvolvimentos recentes neste capítulo (como a Parceria para Contabilidade Financeira de Carbono), que “ainda estão atrasadas em relação às exigências do mercado”.

A postura das empresas do sector financeiro perante esta problemática também se tem vindo a alterar, com a EY a destacar “abordagens com mais nuances” que se distanciam do ultrapassado paradigma de “desinvestir ou envolver-se”. Estas baseiam-se no reconhecimento que estas duas posições “representam os pontos finais de um espetro que inclui o financiamento de soluções climáticas, escalamento de novos ativos e o suporte estruturado e firme” à transição.

Para as instituições financeiras, continua o estudo, é possível ainda adotar estratégias multi-ativos, que podem passar por refinanciamentos que troquem dívida convencional por títulos verdes, abordagens coletivas ou novas soluções inovadoras, com as organizações “a pensarem cada vez mais fora da caixa”.

“Acima de tudo, a capacidade das financeiras de refinar as suas técnicas de implementação dependerá de uma compreensão profunda dos caminhos de transição de algumas indústrias chave”, conclui o estudo.

Três exemplos práticos
Assim, importa contextualizar as dificuldades, tendências e objetivos em cada sector. A EY adiante algum trabalho, ao analisar a fileira agrícola, de bens de consumo e tecnológica, destacando as especificidades de cada abordagem.

No sector primário, várias disrupções nos últimos anos têm agravado o desafio de descarbonização, desde a pandemia até à guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia. Por outro lado, é uma atividade cada vez mais regulada e com proximidade das empresas ao Estado, alé de enfrentar consumidores cada vez mais conscientes em termos ambientais e de saúde.

Os objetivos numa área como esta são imediatos: o financiamento de novos equipamentos e de geração de energia renovável. No entanto, uma dificuldade clara vem da dimensão das empresas, o que cria a necessidade de incentivos a fusões e aquisições, de forma a ganhar escala.

Os bens de consumo caracterizam-se por margens bastante espremidas, por uma importância crescente do marketing e pela sensibilidade à confiança dos consumidores, que são cada vez mais influenciados por questões ambientais e de sustentabilidade.

Além da necessidade óbvia por instalações mais eficientes, este sector oferece às instituições financeiras a oportunidade de influenciar outros agentes ao longo da cadeia de valor, como fornecedores ou transportadores, identifica a EY. O maior desafio, ainda assim, prender-se-á com a necessidade de reformular as embalagens, onde se gera muito desperdício e as tecnologias mais recentes têm dado sinais dúbios em relação à sua utilidade.

Finalmente, olhando para o sector tecnológico verifica-se um apetite pelo risco superior ao da generalidade das atividades, com margens sólidas e uma forte cultura de investigação e desenvolvimento (I&D) e inovação. No entanto, há a necessidade de desenvolver ferramentas menos intensivas em energia, nomeadamente soluções cloud, ao mesmo tempo que os governos se vão envolvendo mais na regulamentação do espaço virtual.

O uso de terras raras, por exemplo, apresenta-se como uma ameaça à sustentabilidade deste sector, bem como a necessidade de arrefecimento de servidores ou a reciclagem de materiais antigos, nota a EY, o que torna alguns aspetos deste problema específicos à área tecnológica. O financiamento de I&D através de dívida é complicado, até pelas “dificuldades das instituições financeiras em compreender inovações”, pelo que a monitorização assume uma importância acrescida.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.