Uma descida de 10 pontos percentuais da taxa social única (TSU) das empresas compensada por uma taxa de 5,4% sobre o valor acrescentado líquido (VAL) poderia traduzir-se na criação líquida de cerca de 200 mil novos empregos, conclui um estudo da CCP – Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, a que o Jornal Económico teve acesso.
O estudo “o setor dos serviços e os desafios da segurança Social”, que será apresentado esta quarta feira, defende que o atual cenário demográfico e laboral obriga ao alargamento da base de financiamento, além da massa salarial, e um modelo complementar poderá ser o alargamento da base de incidência da TSU ao VAL.
Atualmente, as empresas pagam uma TSU de 23,75% sobre a remuneração dos trabalhadores.
O economista Armindo Silva, que liderou a produção do estudo, escreve que este modelo permitiria uma maior neutralidade face ao atual sistema, que, diz, “favorece claramente as empresas que empregam pouca mão de obra e muito capital”.
Antevê que o modelo proposto iria aliviar a carga contributiva dos setores de comunicação e criativos, a educação, os serviços pessoais e diversos, a saúde, os serviços às empresas, os transportes, a construção e o conjunto das indústrias transformadoras.
Por outro lado, os setores de produção e distribuição de energia, as telecomunicações, a agricultura e o imobiliário seriam os mais penalizados, vendo aumentar a carga tributária.
Neste sentido, propõe uma alteração à TSU para incluir uma taxa sobre o VAL das empresas, que fossem sujeitos passivos de IRC, sustentando que são possíveis diversas hipóteses que assegurem um efeito fiscal nulo.
“Por exemplo, calcula-se que uma baixa de 10 pontos percentuais da atual TSU pudesse ser compensada integralmente por uma taxa de 5,4% sobre o VAL, de que se deduziria o montante pago sobre as remunerações”, salienta.
Para o economista “o alargamento da base contributiva produziria um efeito favorável ao emprego por via da substituição do capital por trabalho, e daí um crescimento mais rico em emprego”. E exemplifica: uma redução de 10 pontos percentuais da TSU iria traduzir-se numa redução do custo médio do trabalho, que poderia no curto prazo atingir os 8%, esperando que a redução tivesse um impacto positivo na criação líquida de emprego de cerca de 200 mil novos empregos.
Defende, ainda, que o financiamento da segurança social iria evoluir a um ritmo mais próximo do PIB e “não estaria tão dependente da evolução da massa salarial”, prevendo que com o atual modelo as receitas da TSU cairão dos atuais 8,6% para 6,6% do PIB em 2060.
Riscos podem ser mitigados
O estudo reconhece, no entanto, que a “solução apresenta um risco real de desincentivo do investimento nos setores penalizados pela reforma caso não seja possível transferir para o consumidor o efeito de aumento dos custos de exploração”.
Acresce ainda um um risco de evasão fiscal “mais pronunciado”, por o VAL se revelar mais difícil de controlar fiscalmente que a massa salarial.
“Sendo o efeito positivo da reforma sobre a carga contributiva distribuído por um grande número de empresas e setores, já o efeito esperado negativo estaria concentrado num pequeno número de grandes empresas, o que favorece uma reação concertada de bloqueio ao esforço reformista”, adverte ainda.
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