Desconfinamento versus festejos do campeão nacional

Se me dissessem há uns meses atrás, que o título de campeão nacional seria festejado, e pior que isso, seria festejado da forma como foi, certamente chamaria “doida” à pessoa que me estivesse a comunicar esse facto. Então não é que os sportinguistas e quem manda no País, acha que estamos em condições para fazer uma festa daquela dimensão?

Clubismos à parte, até porque se fosse com qualquer um dos outros dois clubes grandes tal como são conhecidos, seria exatamente igual. Mas haverá alguém com bom senso que acredite que o País já está em condições para realizar eventos desta natureza? Foram dados vários tiros nos pés, desde montagem de ecrãs gigantes, excursão de um famoso autocarro, etc, etc. Convém recordar que o País, e por consequência as Regiões Autónomas, vivem tempos difíceis, com clara necessidade de desconfinar economicamente, e não há margem para erros deste género, que nos possam voltar a obrigar a fechar as empresas, o comércio, a indústria, e principalmente, termos que voltar a fechar as portas do País, que já abriram, a todos os turistas que para cá irão trazer capital. Convém não esquecer que é deste capital que o País precisa para voltar a reequilibrar.

Esta situação demonstra muito a cultura de um povo, as imagens que aferimos naquele dia, é ilustrativo da cultura de grande parte dos portugueses, que apoiam estas situações irresponsáveis, que podem dar lugar a novos surtos enormes de Covid-19. Esteve mal o adepto que lá esteve, estiveram mal as forças policiais que não conseguiram controlar a situação, esteve mal o Governo e a Câmara que não antecipou que tal iria acontecer.

É uma questão cultural, o País pode estar de rastos, mas se o meu clube ganha, lá vamos nós para a rua porque isso é que é importante, demonstrar valor a um conjunto de atletas, que a única coisa que fizeram foi jogar à bola, esquecendo as reais consequências deste festejo inconsequente, e irresponsável. Muitos dos que lá estiveram, não tenho dúvidas que até estão a passar dificuldades na vida, mas para o futebol, conseguem alternativas.

Dito isto, percebe-se claramente que o que determinou a atitude inconsequente do Governo, da Câmara de Lisboa, etc, foi o facto de estarmos em ano de eleições. Está tudo dito, concordam? Não quiseram aborrecimentos, não quiseram perder votos e à custa disso, e oxalá não, possamos voltar a ter grandes surtos. Mesmo que não, quem lá esteve não estava em condições de assegurar isso e como tal, a atitude deveria ter sido responsável, ficar em casa.

Estamos a brincar com a saúde das pessoas, estamos a brincar com o esforço financeiro feito pelas empresas, pelos apoios que têm recebido, pouco ou muito, no sentido de manter postos de trabalho. Não esqueçamos que estes festejos ocorrem na semana anterior à abertura de portas do mercado britânico, a quem devemos muito do ponto de vista comercial, turístico, económico. Sendo eu um amante confesso do nosso País, fico realmente preocupado, às vezes até desmotivado, com aquilo que milhares de fanáticos pela clubite fazem e representam no nosso País, com o aval político de muitos partidos à custa de um ano eleitoral. Que tudo acabe bem, é o que se espera.