Não há margem para dúvidas: nunca se ouviu falar tanto de criptomoedas como nos dias que correm. Nos últimos meses, a Bitcoin atingiu máximos históricos e valorizou de tal forma que levou empresas como a Tesla a tomar posições milionárias. No entanto, pouco tempo depois Elon Musk reconsiderou aceitar que os seus clientes comprassem um automóvel em Bitcoin. Mas terá sido essa uma decisão sensata?

Os investidores institucionais de ativos digitais utilizam uma tese de investimento completamente consciente da volatilidade associada às criptomoedas, logo, não se preocupam tanto com os blips a curto prazo. Para o público em geral e para as entidades reguladoras, no entanto, as criptomoedas ainda são muito recentes. Há muito para aprender e muitas leis a ser definidas para estes ativos. Então porque é que continua a haver um certo ceticismo no mundo dos ativos digitais?

Não nos podemos esquecer que a indústria financeira atual foi construída há vários séculos e que pouco mudou desde então. Inovações foram sendo adicionadas, na sua maioria, a um conjunto ultrapassado de tecnologias. Em 2017, os bancos e as empresas que se aproximavam da fintech que lidero eram curiosamente céticos, e eu e a minha equipa tentámos explicar-lhes todo o conceito das criptomoedas.

Hoje em dia, estas instituições financeiras já constroem ativos digitais nos seus planos de negócio e pedem à Anchorage Digital para conceber produtos à sua medida. É o caso do projeto-piloto que lançámos este ano com a Visa, que vai permitir aos bancos oferecer serviços com criptomoedas, como armazenamento, compra e venda de bens digitais.

Mas então, perguntam-me, o ceticismo de que se falava anteriormente está a diminuir? Acredito que sim – e comprovo-o diariamente – mas o caminho para a sua dissipação ainda é longo.

A questão ambiental que envolve a produção de algumas destas moedas é um dos principais argumentos dos céticos. Sobre isso, comentei recentemente, numa entrevista, algo que tenho vindo a questionar ultimamente. É inegável que este tipo de tecnologia consome energia. Devem encontrar-se soluções que possam mitigar este impacto, o que representa uma das partes mais cativantes das criptomoedas. Foram criadas através de pura inovação e experimentação, e os protocolos irão continuar a desenvolver soluções para estes problemas.

Não exigimos que o YouTube reduza a sua pegada energética, e no entanto estamos perante uma indústria que prontamente procura resolver o seu problema de consumo energético. O que não se deve é pensar nisto de forma isolada. Já alguém perguntou, por exemplo, qual a quantidade de energia consumida pelos data centers? É algo de que não se fala. E porquê? Porque se trata de uma tecnologia útil. E o mesmo se pode dizer da blockchain. A energia que se despende para esta tecnologia é usada para a segurança dos ativos digitais.

Outro aspeto que não é tido em conta pelos mais céticos, é o que se pode poupar em termos ambientais e energéticos com as criptomoedas. Não há extração de ouro dos solos; não há produção e impressão de dinheiro constantemente; não há transporte de dinheiro em carrinhas especializadas; não há mais construção de espaços físicos para o armazenar, nem máquinas de Multibanco. Tudo isto deve também ser contabilizado.

As criptomoedas vieram para ficar e não podemos ficar aquém do avanço tecnológico. As vantagens são claras e visíveis. Devemos agora adaptarmo-nos e apanhar a onda.