A campanha eleitoral de 2016 de Donald Trump está a ser alvo de escrutínio depois de uma investigação de um consórcio de jornalistas ter acusado a candidatura republicana de tentar demover afro-americanos, tendencialmente democratas, de votarem.
A revelação é feita, esta terça-feira, numa investigação do canal de televisão britânico “Channel 4“, que teve acesso a um banco de dados usado pela equipa do atual presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição pelo partido republicano. A campanha de Trump terá compilado uma base de dados sobre 198 milhões de norte-americanos, com o apoio da consultora Cambridge Analytica, contendo informações sócio-económicas dos eleitores, segmentando-os em oito categorias.
Um destes grupos dizia respeito às pessoas que ainda estavam indecisas quanto ao candidato escolhido no boletim de voto, mas que estariam mais inclinadas a votar em Hillary Clinton, a então candidata do partido democrata à Casa Branca. Para este grupo de pessoas, com o nome de código “Detterence” (dissuasão), a campanha publicou anúncios nas redes sociais com a finalidade de dissuadir a ida aos locais de voto no dia da eleição. Esta visou mais de 3,5 milhões de afro-americanos de 16 estados, alguns que acabaram por dar um voto favorável a Donald Trump.
A estratégia justifica-se quando se observa a demografia de cada Estado. Na Geórgia, apesar da comunidade afro-americana corresponder a 32% da população, 61% das pessoas pertenciam à lista de “Detterence”. Na Carolina do Norte, os negros representam 22% da população mas 46% foram alvos da estratégia de dissuasão e em Wisconsin, essa percentagem desce para 17% embora a população negra corresponda a 5,4% da população.
Através das redes sociais, a campanha de Donald Trump teve como objetivo disseminar propaganda negativa contra a candidata democrata no feed de todos aqueles que potencialmente poderiam ter o sentido de voto inclinado para Hillary. A campanha do atual inquilino da Casa Branca gastou 44 milhões de dólares (37,7 milhões de euros) no Facebook, mas a investigação do “Channel 4” não conseguiu apurar os anúncios específicos que tinham a função de dissuadir a comunidade negra de votar em Hillary. No entanto, sabe-se que muitos alegavam, em alguns casos, que a concorrente na corrida à Casa Branca não simpatizava com afro-americanos.
A investigação argumenta que a campanha de 2016 resultou na primeira queda da participação negra em 20 anos e permitiu que Donald Trump obtivesse vitórias chocantes em estados-chave como Wisconsin e Michigan (por margens estreitas); vitórias que abriram caminho para a Casa Branca apesar de Trump ter perdido o voto popular para Hillary Clinton. A vitória de Trump foi concedida pelo voto do Colégio Eleitoral.
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O vice-presidente da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP) afirmou estar “chocado” com as conclusões da investigação.
Jamal Watkins diz estar particularmente chocado por haver uma “categoria de dissuasão”, argumentando que a associação usa os mesmos métodos mas para “motivar, persuadir e encorajar as pessoas a participar. Não usamos os dados para concluir quem pode votar e quem pode ficar em casa. Isso só por si vai contra a noção da democracia”, explicou.
Já o antigo responsável pela campanha digital de Trump, Brad Parscale, disse à PBS que não tem conhecimento de qualquer estratégia que “tivesse como alvo afro-americanos” na eleição de 2016.
Por sua vez, um porta-voz do Facebook explicou que desde as últimas eleições nos EUA, que a tecnológica tem 35 mil pessoas a trabalharem ativamente para “garantir a integridade de nossa plataforma”.
“Criámos uma biblioteca de anúncios políticos e protegemos mais de 200 eleições em todo o mundo. Também temos regras que proíbem a supressão de eleitores e estamos a realizar a maior campanha de informação ao eleitor da história americana”, cita o “Channel 4” as declarações do responsável.
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