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Dia Global da Dignidade. “A nossa própria dignidade é dependente da dignidade do ‘outro’”

Envolve centenas de milhares de jovens em dezenas de países de todo o mundo, incluindo Portugal. O Dia Global da Dignidade consiste em sessões de debate e reflexão nas escolas, promovidas por voluntários que explicam aos alunos o conceito de dignidade e outros direitos humanos. Saliu Djau esteve em escolas de Caxias e da Damaia e faz “um balanço positivo” da iniciativa.
10 Novembro 2018, 20h05

O Dia Global da Dignidade é uma iniciativa que se realiza desde 2006 em escolas de todo o mundo, tendo chegado a Portugal em 2013, por iniciativa da comunidade Global Shapers Lisbon Hub. A ideia teve origem no Fórum Económico Mundial, a partir de uma conversa entre Haakon (príncipe herdeiro da Noruega), John Bryant (fundador da Operation HOPE) e Pekka Himanen (filósofo e autor finlandês) sobre a crescente polarização do mundo e divisão entre as pessoas. Com o objetivo de “unir mais pessoas na crença de que todas merecem ter uma vida de dignidade”, fundaram a Global Dignity, uma organização sem fins lucrativos que promove, todos os anos, o Dia Global da Dignidade em escolas e comunidades locais de todo o mundo.

“Há tanta coisa que nos divide: política, religião, etnia, fronteiras. Estas divisões alimentam o ódio, conflito, guerra, intolerância e injustiça. Mas todas as pessoas, em todos os lugares, têm o anseio de serem compreendidas, de serem valorizadas e reconhecidas, de poderem realizar os seus sonhos e potencial na vida. Isto é universal e verdadeiro para todos e cada um de nós”, sublinham os fundadores, na página da organização.

As atividades da Global Dignity regem-se por um conjunto de princípios orientadores, a saber: “Todas as pessoas têm o direito de procurar o seu propósito e significado na vida e de alcançar o seu pleno potencial; merecem viver em sociedades que providenciam acesso humano à educação, saúde, rendimento e segurança; têm a sua vida, identidade e crenças respeitadas pelos outros; têm a responsabilidade de criar as condições para que outros possam concretizar o seu potencial, agindo para fortalecer a dignidade dos outros, construindo uma base de liberdade, justiça e paz para esta e para as futuras gerações; acreditam que a dignidade na ação significa enfrentar a injustiça, a intolerância e a desigualdade”.

À margem da cimeira do Fórum Económico Mundial, em 2006, os três fundadores lançaram a iniciativa numa pequena escola em Davos, Suíça, com a participação de 30 alunos. Ao longo de 12 anos, o Dia Global da Dignidade expandiu-se para 74 países e, no ano passado, envolveu cerca de 680 mil jovens (em Portugal participaram 64 escolas e cerca de 3500 jovens). Realiza-se sempre na terceira semana de outubro e consiste em sessões de debate e reflexão promovidas por voluntários, ou “facilitadores”, que explicam aos jovens alunos o conceito de dignidade e de outros direitos humanos elementares.

 

“Respeito, amor e paz”

“A questão da dignidade humana pode ajudar na construção de um mundo melhor”, sublinha Saliu Djau, um dos “facilitadores” que participou no Dia Global da Dignidade em 2018. Djau tem 23 anos de idade, é licenciado em Relações Internacionais e estudante de prós-graduação em Crise e Ação Humanitária. Esteve presente em duas sessões: na escola de São Bruno, em Caxias, e na Escola Professor D’Orey da Cunha, na Damaia. “Como ‘facilitador’, a minha missão é criar um ambiente em que os alunos possam refletir sobre a dignidade humana e a sua importância nas nossas vidas e na vida do ‘outro’, tentar que os alunos se exprimam sobre o que para eles significa a dignidade. Muitos associam logo a dignidade com respeito, amor e paz”, afirma.

“Durante a sessão faço com que os alunos percebam que a nossa própria dignidade é dependente da dignidade do ‘outro’, através de histórias inspiradoras e de exercícios. E, no final, desafio os alunos a comprometerem-se a proteger e reforçar a dignidade através das suas ações diárias, ou através de iniciativas que possam impactar positivamente as suas comunidades e a sociedade em geral”, salienta Djau, que diz fazer “um balanço positivo” da iniciativa.

Os alunos colocaram-lhe perguntas mais difíceis, ou complexas? “Sim, lembro-me de um aluno do 8º ano da escola de Caxias que perguntou sobre porque é que há sempre guerras no mundo e se isso não pode acabar. Outro aluno na escola da Damaia perguntou-me se há dignidade na Líbia”, destaca. E o que respondeu? “Sobre as guerras no mundo, respondi que há pessoas que por vezes não respeitam a dignidade humana e fazem as guerras. Mas nós, os mais novos, podemos acabar com isso, se em tudo o que fazemos valorizarmos a dignidade humana. E quando formos líderes, não vamos fazer guerras, porque é mau. Sobre a Líbia, disse que a maior parte das pessoas vive sem dignidade, devido às consequências da guerra”.

Com base na sua experiência, os jovens concordaram com a ideia de paz e união, em detrimento do conflito e polarização? “Sim, em geral foram recetivos a essa ideia. Mas expressaram dúvidas quanto às notícias de conflitos e violência que vêem nas televisões. Para alguns não faz sentido”.

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