Diplomatas norte-americanos que serviram sucessivos governos aconselharam o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a suspender o envio de armamento ou recursos militares para o próximo governo de Israel – liderado por Benjamin Netanyahu e possivelmente em coligação com a extrema-direita – argumentando que os extremistas podem alterar o difícil equilíbrio de forças na Cisjordânia.
Em artigo publicado esta semana no jornal “The Washington Post”, Daniel Kurtzer e Aaron David Miller – ex-embaixador norte-americano em Israel e ex-chefe de negociações do Departamento de Estado, respetivamente – afirmaram que a Casa Branca deve manter o seu apoio conforme “as necessidades legítimas de segurança”, mas deve opor-se a qualquer mudança do estatuto da Cisjordânia, do complexo de Al-Aqsa e dos postos coloniais ilegais.
No artigo, Kurtzer e Miller manifestam receios de que o novo governo avance ainda mais com colonatos ilegais nas terras palestinianas, além de encorajar atos de violência por parte dos colonos e dos soldados israelitas no terreno.
Os diplomatas – ambos judeus americanos que trabalharam no chamado “processo de paz” para a região – aconselham ainda Biden a estabelecer condições a Israel sobre a participação de Ben-Gvir, Smotrich e outros líderes dos partidos religiosos extremistas no próximo, sob pena de colocarem em causa o suporte tradicional nos Estados Unidos em instâncias internacionais, incluindo as Nações Unidas.
Kurtzer e Miller reafirmaram que Biden não deve negligenciar o lado palestiniano e deve estimular esforços para a realização de eleições democráticas na Cisjordânia e em Gaza – que não acontecem há quase uma década.
Ambos os diplomatas aconselharam a Casa Branca a “informar os países dos Acordos de Abraão – Emirados Árabes, Bahrein, Marrocos e Sudão” – uma agenda criada pelo ex-presidente Donald Trump mas que se tem revelado valiosa – sobre a postura que Washington considera a acertada para manter o bom entendimento com Israel.
Segundo fontes citadas pelos jornais norte-americanos, os Estados Unidos forneceram a Israel cerca de 150 mil milhões de dólares em assistência militar e mísseis de defesa por ano.
Benjamin Netanyahu já disse que, mesmo que tenha de recorrer aos partidos da extrema-direita nacionalista, será sempre ele a gerir os dossiês mais importantes. E afirmou mesmo que Israel não passará a ser gerido pelo Talmud. Mas a futura oposição a Netannyahu, liderada pelo ainda primeiro-ministro Yair Lapid não acredita que, se a coligação avançar mesmo, o próximo líder de Israel não tenha que fazer conceções à agenda extremista dos religiosos.