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Diplomatas russos estão a morrer de causas estranhas

Cinco altos quadros da diplomacia de Moscovo morreram em situação inexplicável ou vítimas de violência, no espaço de 60 dias. O mesmo vem sucedendo a opositores de Putin.
25 Fevereiro 2017, 14h59

O caso mais recente de mortes de diplomatas russos, foi o do embaixador junto das Nações Unidas, Vitaly Churkin, que morreu no passado dia 20 em Nova Iorque, um dia antes de completar 65 anos, aparentemente, de ataque cardíaco fulminante. Os médicos legistas pediram na passada quarta-feira a realização de novos exames, tendo-se recusado a especificar a causa da morte de Churkin, uma pessoa saudável.

O diplomata, que representava o seu país na ONU desde 2006, destacara-se, em 2016, por uma série de trocas de palavras tensas com a então representante dos EUA, Samantha Power, sobre o bombardeamento russo a Aleppo.

Outros casos recentes ocorreram em Atenas e Nova Deli. No primeiro caso, o responsável pela secção consular, Andrei Malanin, de 55 anos, apareceu morto no seu apartamento, no início de janeiro, aparentemente de causas naturais. Foi aberta uma investigação pelas autoridades locais. O segundo caso aconteceu no final do mês passado na capital da Índia, quando o embaixador Alexandre Kadakin, de 67 anos, morreu subitamente de ataque cardíaco, não tendo historial deste tipo de doença. Segundo algumas fontes, estaria a servir como mediador entre a Índia e o Paquistão, cuja relação é bastante tensa.

Menos dúvidas levantaram as mortes do embaixador na Turquia, Andrei Karlov, abatido a 19 de dezembro de 2016, em Ancara, por um agente de polícia no ativo, que invocou os ataques russos em Aleppo para o seu gesto. Karlov era creditado pela reaproximação entre Putin e Recep Tayyip Erdogan. Horas antes, em Moscovo, o responsável pelo departamento da América Latina no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Petr Polchikov, de 56 anos, era encontrado morto no seu apartamento em Moscovo. Tinha uma ferida de bala na cabeça.

Além dos diplomatas referidos, um elemento próximo de Putin e seu conselheiro, Mikhail Lesin, fundador da Russia Today, foi encontrado morto num hotel de Washington, em novembro de 2015. A investigação final concluiu que a morte de Lesin se deveu a excesso de álcool. Mas um detalhe, resultado de uma anterior investigação de março de 2016, apontava noutro sentido: todo o corpo de Lesin apresentava contusões graves provocadas por “instrumento contundente”. Lesin passara a viver nos EUA após se distanciar de Putin.

Outras dúvidas existem no desaparecimento de opositores a Putin. Em 2006, Alexandre Litvinenko, de 44 anos, que abandonara os serviços secretos russos, que colaborava com o MI6 britânico, tendo-se tornado um crítico do Kremlin, acaba por morrer em Londres devido a envenenamento por ação de polónio-210, uma substância radioativa. O inquérito britânico apontou a responsabilidade à secreta russa.

Em novembro de 2012, Alexandre Perepilichny, de 44 anos, um banqueiro que revelara as ligações entre o Estado e as máfias russas, é encontrado morto enquanto fazia desporto. No estômago foram encontrados vestígios de uma planta venenosa, que só existe nos Himalaias.

Boris Abromovich Berezovsky, de 67 anos, foi encontrado enforcado na sua residência nos arredores de Londres. Opositor desde a chegada de Putin ao Kremlin, Berezovsky era alvo de um pedido de extradição de Moscovo, que as autoridades britânicas sempre se recusaram a dar luz verde. Não havia bilhete de despedida e a polícia nunca descartou o cenário de “uma segunda parte”.

Na Rússia, o líder da oposição, Boris Nemtsov, de 55 anos, foi morto a tiro em Moscovo, em fevereiro de 2015; em outubro de 2006, fora a vez da jornalista Anna Politkovskaya ser assassinada à entrada de sua casa, na capital russa. Politkovskaya era intransigente crítica da estratégia de Putin para o conflito na Chechénia.

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