A frase do título deste artigo poderia muito bem terminar com um “e vão ver o que vos vai acontecer”…

Esta frase surge porque há dias, numa aula de um programa executivo de Liderança em Transformação Digital, quando apresentava os impactos que as tecnologias disruptivas terão na competitividade das empresas, um dos alunos, executivo de uma empresa que gere uma carteira de clientes do setor Industrial do Norte,  referiu: “nunca vi os meus clientes preocupados em perceber como mudarão os seus processos de negócio neste e nos próximo anos, muito menos em pensar em tecnologias de impressão 3D ou realidade aumentada e virtual!”.

Esta amostragem empírica trazida pelo meu aluno, traduz um cenário que obrigará a acelerar estratégias empresariais e a perceber que se não mudam os seus processos de negócio para visões mais digitais, mais ágeis e eficientes, o mundo irá atirá-los para fora do mercado.

No relatório da Economia e da Sociedade Digital de 2020, produzido pela Comissão Europeia, já com algumas análises pós-Covid, figuram alguns fenómenos que nos devem preocupar e que corroboram esta frase do meu aluno. Um dos fenómenos explícitos no relatório é que à medida que os governos foram atuando, neste último ano, com confinamentos para reduzir a interação social, as empresas tiveram que se adaptar introduzindo modelos de trabalho alternativos.

Contudo,  as PME, incluindo microempresas, com baixo nível de intensidade digital, consideram um desafio oferecer aos seus colaboradores a possibilidade de trabalhar desde casa, ou pelo menos de qualquer outro local.

Refere ainda o relatório que um dos principais obstáculos à transformação digital das PME é a lacuna de conhecimento sobre o potencial que o mundo digital permite na competitividade e sustentabilidade das empresas. Tal como é explícito, é causada pelos baixos níveis de literacia digital de todos os colaboradores das empresas, a começar pelos próprios gestores e proprietários.

Quando começamos a analisar em maior detalhe sub-indicadores como competências digitais de recursos humanos e da integração de tecnologias na transformação do negócio das empresas, o fosso da implementação de processos de transformação digital entre PME e Grandes Empresas é também ela grande. O risco fundamental, e sabendo que 99% do tecido empresarial português é composto por PME, é que as grandes empresas nacionais e as multinacionais globais, por causa da tecnologia, consigam de forma mais profunda dominar a atividade económica mundial, uma vez que é hoje possível colocar os seus produtos e serviços, de forma personalizada, adaptado à necessidade específica do cliente e em qualquer parte do mundo.

Abordar estas falhas estruturais europeias, e de Portugal, é fundamental para entender que o país necessita de rumo digital profundo, caso contrário há riscos, não só do ponto de vista económico, mas também ao nível social. Reposicionar o tecido empresarial (os 99% de empresas no país) promovendo alinhamentos estratégicos e dando a conhecer tecnologias capazes de potenciar os negócios ou tornando os processos mais ágeis/eficientes tem de ser a base estratégica.

Posicionar o país como hub tecnológico da Europa é fundamental para a competitividade nacional daqui a cinco ou 10 anos. Apostar na requalificação do tecido empresarial português é crítico, começando pela requalificação de líderes. Hoje em dia a Transformação Digital não é uma ‘questão’, é uma necessidade!