Cerca de um ano após o primeiro caso de Covid-19 em Portugal, a propagação do vírus atinge dimensões gigantescas e inimagináveis. Em todo o mundo, contabilizam-se para cima de 105 milhões de infetados e dois milhões e trezentos mil mortos.

Mas é em Portugal que, incompreensivelmente, desde o início de 2021, os números são absolutamente dramáticos: o nosso país passou a barreira dos 6.000 mortos desde o início do mês, contabilizando 6.111 óbitos desde o dia 1 de janeiro. É, de longe, o mês mais letal da pandemia em Portugal, representando num único mês quase 50% do total de óbitos por Covid-19, quando no resto do mundo e apesar do drama se manter, os Estados lá vão compondo e contendo a alastramento.

Nós por cá, segundo os dados e a avaliação do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa), somos mesmo o pior país da Europa em novos casos e mortalidade da pandemia. E com todo este aparente, mas certo descontrolo, o país vai empobrecendo muito mais que os outros e ficando cada vez mais dependente da ajuda externa, na medida em que estamos crescente e exponencialmente endividados.

Mesmo antes desde drama que se iniciou em janeiro último, o ano de 2020 terminou com a dívida pública a atingir 136,3% do PIB, 270,4 mil milhões de euros, o valor mais elevado de sempre, quer em rácio do PIB quer em valores absolutos, crescendo num ano só 19,1 pontos percentuais, o que corresponde a um aumento de 20,4 mil milhões de euros só em 2020.

Feitas as contas, cada cidadão português deve mais 26 mil euros, para além do que individualmente cada um deve aos bancos, a que acresce o endividamento das empresas e da economia. Com a atual gestão não sei mesmo onde iremos parar…

Em 2020, a economia portuguesa contraiu 7,6%, a maior queda de sempre desde que há registo de séries disponíveis desde 1961, superando a instabilidade económica dos primeiros anos de democracia em 1975, onde a queda tinha sido de 5,1%, ou da intervenção externa de 2012 onde a queda do PIB tinha sido de 4,1%.

No contexto europeu, Portugal, até o final do ano de 2020, sofreu muito mais com o impacto da pandemia do que a média dos países da União Europeia, pois a nossa queda do PIB foi bem pior do que nos restantes Estados-membros, com 1,2 pontos percentuais acima da média.

A verdade é que, não obstante o reforço dos meios financeiros da bazuca europeia, estamos mais pobres e exponencialmente mais endividados, e ainda temos pela frente um combate gigantesco com este inimigo sem rosto nem piedade.

Todos nós, partidos incluídos, temos de estar indiscutivelmente juntos nesta luta pela sobrevivência, mas o cheque não pode ser em branco e a exigência na gestão pública tem de manter-se, pois não podemos ser os piores do mundo em todos os indicadores financeiros. É que a fatura a pagar no futuro, na qual se incluem os desperdícios, vai colocar em causa não só as próximas gerações, mas o país.