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Do Imobiliário à Construção: o que podem as empresas esperar do novo ano?

Gostaria de ter um ano fácil, mas vai ser difícil”, confessava recentemente o Senhor Presidente da República.
31 Dezembro 2018, 17h30

António Saraiva: Presidente da CIP

Gostaria que o meu último ano de mandato enquanto Presidente da CIP fosse um ano de crescimento económico, mas vai ser muito difícil, diria eu.
Não quero parecer demasiado pessimista, mas 2019 não será definitivamente um ano fácil. E são vários os fatores internacionais e internos que não nos permitem acalentar grades esperanças para o ano que se aproxima.
O mundo entrará no novo ano com uma tensão comercial crescente entre os EUA e a China. A própria relação da maior superpotência com a Rússia não advinha tempos de maiores facilidades. Diz-nos a história que uma guerra comercial multipolar nunca resulta em nada de positivo para o comércio internacional. A nova ordem internacional com a ascensão dos BRIC’s e sob este pano de fundo reúne todos os componentes para uma tempestade perfeita.
Na União Europeia, o resultado do Bréxit para a EU e para Portugal em particular, como um recente estudo lançado pela CIP o demonstra, constitui um sério revés no projeto de uma Europa unida e comercialmente integrada. Situação agravada por uma eleição próxima onde o Parlamento e a Comissão, fruto da onda populista que invade muitos estados membros, em muito dificultará o funcionamento e a própria constituição da Comissão, sob os moldes moderados, integracionistas e construtivos com que um dia todos sonhámos. A União monetária, expoente máximo do próximo passo de integração constitui cada vez mais uma miragem longínqua de alcançar.
A nível interno, o novo ano será sinónimo de crispação política, social e, inevitavelmente, económica e empresarial. Com 3 eleições no horizonte – Regionais na Madeira; Parlamento Europeu e Legislativas, a tensão político-partidária irá conhecer expoentes não produtivos. Primeiro porque nenhuma reforma urgente conhecerá a luz do dia; depois porque o aumento da instabilidade política será diretamente proporcional à incerteza no investimento. E neste quadro, o crescimento económico não passará de um sonho adiado.
Em suma, perante a instabilidade das guerras económicas internacionais, perante a destruturação da UE e a tensão política em Portugal, o novo ano tende a ser uma crónica de um crescimento adiado.

Gonçalo Lobo Xavier: Diretor-geral da APED – Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição

“Julgo que o ano de 2019 será muito marcado pelos dois períodos eleitorais em Portugal (legislativas e regionais da Madeira) e pelas eleições europeias que decerto condicionarão a atividade legislativa e política, com o consequente impacto na economia nacional e europeia. A incerteza é factor que destabiliza a economia.
Acreditamos, no entanto, que o tecido empresarial nacional continuará a ter capacidade para dar resposta aos desafios da economia e, particularmente a distribuição e o retalho, continuarão focados na criação de emprego, sustentabilidade e inovação, factores essenciais para um sector que tem dado um enorme contributo para o crescimento do país”.

Manuel Reis Campos: Presidente da CPCI – Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário

“Após um ano de recuperação da atividade das empresas da construção e do imobiliário, 2019 deverá prosseguir uma trajetória de consolidação da economia, para o que é fundamental a retoma do investimento público e a dinamização do investimento privado.
Tendo em conta que se trata de um ano marcado, no plano externo, pelas incertezas acerca da conjuntura económica e social e, no plano interno, por eleições europeias e legislativas, é essencial assegurar a confiança de empresários e investidores.
No que diz respeito ao investimento privado, a estabilidade fiscal e a competitividade de Portugal em matéria de captação de investimento estrangeiro, a normalização das condições de acesso ao financiamento por parte das empresas e a implementação de uma visão global e abrangente para a habitação e para a reabilitação urbana são condições imprescindíveis.
Quanto ao investimento público, é fundamental encetar uma recuperação sustentada desta variável essencial para o crescimento. É necessário assumir uma calendarização adequada para o investimento estruturante, quer pela concretização do Plano Estratégico de Infraestruturas PETI 3+, quer pela definição do novo quadro para os projetos do designado pós-2020. São investimentos consensualmente identificados como necessários e que devem ser objeto de um compromisso estável e duradouro.
Se estes fatores forem devidamente acautelados, estaremos em condições para que este novo ano seja definitivamente marcado pelo início de um novo ciclo de crescimento, seja ao nível do investimento, da atividade das empresas e do emprego assegurado por estas, com reflexos na competitividade do País e na sua sustentabilidade”.

Artigo publicado na edição semanal do Jornal Económico de 28 de dezembro de 2018. Para ter acesso em primeira mão a todos os nossos conteúdos premium, aceda aqui ao JE Leitor.

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