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Do ‘pé descalço’ aos ‘saltos altos’. Turismo cresce ao ritmo de 10% por ano em Portugal

O turismo em Portugal tem crescido mais de 10% ao ano desde 2014 e o seu peso na economia nacional passou de 4% do PIB – Produto Interno Bruto antes da crise de 2008, para mais de 8% em 2018.
10 Dezembro 2019, 07h48

Os especialistas do setor evitam designar este segmento como ‘turismo de luxo’, preferindo expressões mais ou menos eufemísticas como ‘turismo de longa distância’, ‘turismo de compras’ ou ‘turismo de qualidade’.

Seja qual for a etiqueta que se lhe colocar, o certo é que este segmento está a ter um crescente impacto na atividade turística e na economia em Portugal, levando os responsáveis políticos e empresariais a mudar o paradigma de atuação.

É essa mudança em curso que vai ser, durante todo o dia de hoje, 10 de dezembro, avaliada e discutida no ‘2nd Shopping Tourism & Economy Summit Lisboa”, que irá decorrer no Pestana Palace Hotel, em Lisboa.

Longe vão os tempos em que o turismo em Portugal gerava a polémica em torno dos que se dividiam entre os turistas de ‘pé descalço’ e os outros, com mais poder de compra.

Agora, o centro da discussão passa para as realidades distintas proporcionadas pelos turistas de classe média  e os outros, com grande poder de compra, que vêm a Portugal oriundos de destinos distantes, como os Estados Unidos, o Canadá, ou dos confins da Ásia.

A nível global, as previsões apontam para que, em 2020, mais de 280 milhões de turistas chineses, indianos e sul coreanos irão gastar cerca de 430 mil milhões de dólares (quase 390 mil milhões de euros ao câmbio atual).

Um ‘avião’ que Portugal não deve – e não está a – perder.

Turistas de fora da UE gastaram 500 milhões em Portugal em 2018

Em 2018, estima-se que o turismo de compras dos turistas residentes em países fora da União Europeia tenha movimentado em Portugal entre 400 e 500 milhões de euros.

De acordo com dados da consultora Global Blue, em termos globais, os turistas angolanos ocupam o primeiro lugar, com 33% das compras realizadas em Portugal, mas em termos individuais, os turistas chineses são os que mais compram.

“De facto, os turistas chineses têm vindo a crescer, representado já 15% das compras feitas, o que significa um impacto de 7,2% nos negócios nacionais, tendo já ultrapassado os brasileiros, cujo impacto nos negócios [em Portugal] ronda os 6,1%”, adianta um comunicado da organização do ‘2nd Shopping Tourism & Economy Summit Lisboa’.

Também segundo a Global Blue, nos primeiros oito meses deste ano, os gastos dos turistas provenientes de fora da União Europeia aumentaram 36%, o que representa um incremento face aos 12% registados no ano inteiro de 2018.

Cada turista chinês gasta 727 euros, quase o triplo de um angolano

“Por outro lado, o valor médio por compra dos turistas não residentes na União Europeia foi de 315 euros, o que significa um crescimento de cerca de 13% relativamente ao período homólogo de 2018”, avança o referido comunicado, acrescentando que “os angolanos consolidam-se como os que mais dinheiro gastam em compras em Portugal, apesar de o valor médio por compra ser de 254 euros, praticamente idêntico ao valor do ano anterior, quase um terço do valor médio por compra gasto pelos turistas chineses – 727 euros”.

O mesmo comunicado sublinha que “os maiores aumentos no valor médio gasto por compra verificaram-se nos turistas brasileiros e norte-americanos, com subidas de 23% e de 22%, respetivamente, para os 275 euros e 646 euros”.

Conforme referiu Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, numa entrevista ao Jornal Económico, a 13 de setembro passado, as previsões são de que 2019 encerre ultrapassando-se a barreira dos 24 milhões de turistas em Portugal.

Em 2018, de acordo com os dados do INE – Instituto Nacional de Estatística, o nosso país recebeu um total de 22,8 milhões de turistas, o que colocou Portugal no 17º lugar no ‘ranking’ dos países com maior número de turistas a nível mundial, de acordo com a OMT – Organização Mundial de Turismo.

“Apesar de o número de visitantes que o nosso país recebe anualmente ter vindo a crescer acima do número de cidadãos do mundo que efetuam viagens internacionais, a quota de turistas de países de longa distância, com classes médias emergentes, pode apoiar ainda mais esse crescimento”, defende o referido comunicado.

Esta nota adianta que, no primeiro semestre  deste ano, o número de hóspedes que chegaram a Portugal ascendeu a 12,1 milhões, o que representa um crescimento na ordem dos 7,6%, enquanto as receitas totais ascenderam a 7.308 milhões de euros, significando um aumento de 6,8% face ao período homólogo de 2018.

Turistas da Coreia do Sul cresceram 24% no primeiro semestre

“No período de janeiro a junho de 2019, segundo os dados provisórios do INE, registou-se novamente um aumento forte de hóspedes não europeus a Portugal, particularmente dos EUA (+ 19,5%), da China (12,2%) e da Coreia do Sul (+ 24%)”, destaca o referido comunicado.

Na verdades, estes crescimentos de turistas de longa distância têm compensado o decréscimo a partir de mercados emissores tradicionais para Portugal, como a Alemanha (quebra de 6,7% desde janeiro), França (- 3,03%) ou a Holanda (- 7,4%).

Em 2018, o total de receitas do turismo em Portugal ascendeu a 16,7 mil milhões de euros, sendo a maioria proveniente de turistas residentes em países europeus.

“Apesar da perda de quota do mercado europeu de 0,4% face a 2017, estes turistas representaram no ano passado 80,6% das receitas, o que significa um aumento de 7,7% face ao ano anterior”, destaca o referido comunicado.

“Os países do continente americano contribuíram com 12,3% das receitas, significando um aumento de 16%, enquanto a contribuição dos países africanos foi de 4%, representando um decréscimo nas receitas de 10,7%, e dos asiáticos, 3%”, salienta o comunicado da organização do ‘2nd Shopping Tourism & Economy Summit Lisboa’.

Setor está a crescer mais de 10% ao ano desde 2014

O turismo em Portugal tem crescido mais de 10% ao ano desde 2014 e o seu peso na economia nacional passou de 4% do PIB – Produto Interno Bruto antes da crise de 2008, para mais de 8% em 2018, o que traduz um crescimento muito superior ao conjunto da economia nacional no período em análise.

“Segundo o WTTC – World Travel & Tourism Council, Portugal é o país da Europa que tem registado o maior crescimento no setor do turismo, prevendo-se que esta tendência de aumento se mantenha nos próximos anos. Para 2019, o WTTC estima para Portugal um aumento turístico bastante acima da média europeia, que é de 2,5%, realçando que o destino está a ter um forte crescimento de mercados não tradicionais de fora da Europa”, destaca o comunicado da organização deste evento.

É neste contexto que se realiza o ‘2nd Summit Shopping Tourism & Economy Lisboa’, que, de acordo com o presidente do comité organizador, Miguel Júdice, tem como objetivo “colocar o turismo de qualidade e de compras na agenda política e económica do país, ouvindo as contribuições do lado da procura (embaixadores de países emissores e alguns grandes ‘players’ do setor) e da oferta (institucionais e privados), e também partilhar as melhores práticas de outros países que estão há mais tempo focados neste segmento e com grande sucesso”.

A nova secretária de Estado do Turismo, Rita Marques; Fernando Medina, presidente da CML – Câmara Municipal de Lisboa; e Francisco Calheiros, presidente da CTP – Confederação do Turismo de Portugal são alguns dos intervenientes previstos para a sessão inaugural deste evento.

Vitor Costa, diretor geral da Associação de Turismo de Lisboa; Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa; Cristina Siza Vieira, CEO da Associação da Hotelaria de Portugal; Gonçalo Reis, presidente da RTP; Celso Guedes de Carvalho, comissário geral de Portugal na Expo Dubai 2020; e Paulo Pereira da Silva, presidente da Renova, são alguns dos oradores confirmados deste congresso.

 

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