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Dose dupla de Fábio Colaço ou reflexões sobre um futuro suspenso

Se o “amanhã” do artista Fábio Colaço traz crítica social com ironia e fino humor, o seu ‘show que não pode continuar’ alerta para os venenos do vil metal, desde a Antiguidade até aos dias de hoje. Duas exposições para ver em abril.
  • Untitled (blind pope), 2023 © Fábio Colaço & UMA LULIK__
11 Abril 2023, 17h15

Podemos falar em dose dupla, sem que tal remeta para gastronomia. Antes para o facto de poder ver a exposição “Tomorrow”, na capital portuguesa, de Fábio Colaço, e, se estiver por Milão, apreciar a individual que a galeria lisboeta uma lulik leva à MIART – Feira Internacional de Arte Moderna e Contemporânea, que decorre de 14 a 16 de abril na capital da Lombardia. Intitulada “The show can’t go on”, poderá ser vista na secção Emergentes, patente ao público no Pavilhão 3 da viale Scarampo, em Milão.

Aquele que é um evento de referência no mundo da arte moderna e contemporânea conta, este ano, com a presença de 169 galerias de 27 países, sendo uma montra relevante para todos os artistas presentes. Fábio Colaço não é exceção e tem na MIART a oportunidade de destacar a ironia, o fino humor e subversão dos trabalhos expostos. Reflexo da sua prática artística, feita de associações visuais e conceptuais que partem do dia a dia para chegar a temas que questionam a realidade social, política e económica da vida contemporânea.

“The show can’t go on” aborda a mudança de perceção do ser humano em relação ao valor do dinheiro e, também, o poder que este tem exercido sobre nós desde tempos imemoriais até hoje em diversos suportes, desde pintura e fotografia, passando pelo vídeo, luz, papel e pequenas esculturas. O fundo azul, num tom que remete para o azul da bandeira europeia, ironiza sobre “os ideais de unidade, solidariedade e harmonia entre os povos da Europa”.

Em Lisboa, mais concretamente em Alvalade, na galeria uma lulik, encontra o “amanhã” visto por Fábio Colaço, “um artista neo-conceptual” cuja obra assenta “sobre a tríade ideia-conceito-objecto”, mas que admite gestos “de forma e expressão, mais ou menos contidos, na sua prática. Destes gestos resulta um trabalho em que o formalismo – a importância formal da obra – é, também, relevante para os significados que constrói”, descreve Ana Cristina Cachola, curadora da exposição “Tomorrow”, que pode ser vista até dia 22 de abril.

Aqui se questiona o estado do mundo e em que estado estamos no mundo. Um questionamento marcado pela descrença e desânimo, em muitos casos ilustrados pela desconstrução de néones de “frases apócrifas grafitadas em espaços urbanos”, como “The world is full of Kings and Queens, who blind your eyes and steal your dreams”, chamando a atenção para as desigualdades provocadas pelo sistema capitalista.

Mas não só. Também a crise da habitação está presente em “Tomorrrow” através de um balde de construção civil perfurado, simbolizando a especulação imobiliária que devora o mercado. Citando uma vez mais a curadora da exposição, “controlo, vigilância, extractivismo, domesticação dos corpos e das imaginações… tudo cabe no amanhã de Fábio Colaço”.

Licenciado em Escultura, concluiu o mestrado em Performance e Instalação pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, tendo também estudado na Akademie der Bildenden Künste em Munique. Em 2016, foi nomeado para o prémio “Artes e Talentos”, no ano seguinte foi Prémio “Revelação D. Fernando II” e, em 2019, venceu o prémio “Arte Jovem Fundação Millennium BCP”.

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