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Draghi: “O BCE não vê nenhum país com um rácio de dívida insustentável”

“O risco de deflação desapareceu na zona euro”, mas quanto à sustentabilidade da subida da inflação rumo ao objectivo do BCE: perto de 2% na zona euro, Draghi ainda não está convencido. Esse objectivo “tem de ser sustentável”.
  • Kai Pfaffenbach/Reuters
19 Janeiro 2017, 15h31

Mario Draghi respondia às questões dos jornalistas sobre os riscos na zona euro, como futuros resgates de países mais endividados. “O BCE não vê nenhum país com um rácio de dívida insustentável”. Essa afirmação é especialmente positiva para Portugal cujo rácio de endividamento é de cerca de 130% sobre o PIB – em novembro de 2016 os números do terceiro trimestre davam conta de que a dívida pública portuguesa tinha mantido a tendência de agravamento, atingindo 133,08% do PIB, o valor mais elevado desde 2007. Mas o Orçamento do Estado para 2017 prevê que a dívida alcance no final deste exercício os 129,7% do PIB, uma revisão em alta das estimativas de 127,7% do PIB inscritas no OE do ano passado.

Subida da inflação tem de ser sustentável e não depender da conjuntura

“Ainda não há sinais convincentes de um tendência ascendente na inflação subjacente”, disse o presidente do BCE, na conferência de imprensa que se seguiu à primeira reunião do ano.

“O risco de deflação desapareceu na zona euro”, mas quanto à sustentabilidade da subida da inflação rumo ao objectivo do BCE: perto de 2% na zona euro, Draghi ainda não está convencido. Esse objectivo “tem de ser sustentável”, disse o responsável pela política monetária, ou seja, tem de se manter depois do fim do programa do BCE.

“Ainda é preciso um grau substancial de estímulo”, disse. “Continuaremos a olhar para as variações da inflação para avaliar se não haverá interferências na expectativa de médio prazo para a estabilidade de preços”, disse o presidente do BCE.

Recorde-se que a inflação na zona euro acelerou para 1,1% em Dezembro, o dobro face à variação de 0,6% em Novembro, revelou nesta quarta-feira o Eurostat. Mas essa subida foi sobretudo influenciada pela subida dos combustíveis (preço do petróleo).

A primeira aparição do ano de Draghi ocorre numa altura em a subida de preços causa alarme na Alemanha, a maior economia da região, ronda já os 2%. Wolfgang Schaeuble, ministro das Finanças alemão, já veio dizer que espera que o BCE decida o que é melhor.

Draghi respondeu a essa questão dizendo que a “recuperação que se assiste na zona euro é do interesse dos cidadãos alemães”.

Adiantou que “é necessário um grau muito substancial de acomodação monetária para que a inflação subjacente da área do euro convirja para o nível da inflação nominal no médio prazo”. Pede assim paciência aos cidadãos alemães.

O BCE examinará a recente aceleração da inflação nominal, ao mesmo tempo que as pressões subjacentes dos preços (inflação subjacente) permanecem contidas.

“É improvável que a divergência entre rácios de inflação entre os países da zona euro se torne incontrolável”, explicou o presidente do BCE.

O BCE confirmou no seu comunicado lido por Draghi que “no que respeita às medidas de política monetária não convencionais, continuará a efetuar aquisições ao abrigo do programa de compra de ativos ao atual ritmo mensal de 80 mil milhões de euros até ao final de março de 2017 e que, a partir de abril de 2017, as compras líquidas de ativos prosseguirão a um ritmo mensal de 60 mil milhões até ao final de dezembro de 2017, ou até mais tarde, se necessário, e, em qualquer caso, até que o Conselho do BCE considere que se verifica um ajustamento sustentado da trajetória de inflação, compatível com o seu objetivo para a inflação. As compras líquidas serão realizadas a par de reinvestimentos dos montantes dos pagamentos do capital dos títulos vencidos adquiridos ao abrigo do programa de compra de ativos”.

‘Tapering’ não foi discutido

Esta descida para 60 mil milhões de euros de compra de activos por mês, não é visto por Draghi como o início do “tapering”, mas sim uma calibração do programa.

Mas assume que não foi discutida na reunião de hoje a forma como irá ser reduzido esse ritmo mensal do programa de compra de activos de 80 mil para 60 mil milhões de euros e diz que essa decisão tem de ser acompanhada de uma análise muito cuidadosa e profunda aos fundamentais económicos. “A performance da produtividade não tem sido sustentável”, alerta Draghi.

O BCE  considera que o programa de QE de compras abaixo da taxa do depósito, já tem um universo de ativos extremamente amplo, quando questionado sobre o alargamento do leque de ativos.

A grande questão é sobre quando é que o ‘tapering’ – ou a forma gradual que o BCE poderá adotar para reduzir as compras no QE para zero – poderá começar, pois um acelerar da inflação na zona euro em dezembro está a reavivar apelos ao BCE para reduzir as compras de ativos, apelos esse vindos especialmente da Alemanha. O “tapering” voltou a não ser discutido.

Sobre o impacto no sector bancário, que se queixa da política dos juros baixos ou negativos e do quanto isso afecta a sua conta de resultados, Draghi responde “o nosso programa melhorou as condições onde a banca actua” e cita o facto de o “risco de deflação ter largamente desaparecido da zona euro “, das condições de financiamento dos bancos terem melhorado e de as empresas não financeiras (suas clientes) terem melhorado os seus balanços no sentido da redução do endividamento

Questionado sobre o possível impacto das possíveis políticas do presidente dos Estados Unidos que toma posse amanhã, Draghi disse que em torno do G20 e do G7 (onde os Estados Unidos estão incluidos) há um forte consenso para travar a desvalorização competitiva das moedas.

Sobre o “hard Brexit” anunciado pela primeira-ministra Theresa May, Draghi disse que ainda era cedo para comentar as negociações entre o Reino Unido e a Europa com vista ao Brexit.

Mas o BCE está de olho nas incertezas políticas decorrentes de uma série de eleições na Europa, da saída da Grã-Bretanha da União Europeia, e do início da presidência dos EUA de Donald Trump, já na sexta-feira.

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