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Draghi segura juros da dívida europeia por mais um ano

O sentimento do mercado foi ficando mais pessimista ao longo da sessão, à medida que os investidores absorviam a informação. ‘Yields’ acabaram mesmo por disparar.
  • Reuters
9 Dezembro 2016, 07h25

O Banco Central Europeu decidiu dar com uma mão e tirar com a outra. Na última reunião do regulador esta ano, há muito aguardada pelo mercado, os responsáveis pela política monetária europeia decidiram estender o programa de compra de ativos em mais nove meses, ou seja, até dezembro do próximo ano, mas reduzir o montante de compras mensais, que cai assim dos atuais 80 mil milhões para 60 mil milhões de euros. O anúncio começou por ser bem recebido nos mercados de dívida mas os investidores foram assumindo um tom mais pessimista ao longo da sessão. A dívida portuguesa a dez anos encerrou nos 3,75%, 23 pontos base acima do fecho de quarta-feira, a maior subida diária em quase seis meses.

A redução no ritmo de compras mensais oferece, no entanto, contrapartidas: o BCE deixa cair o limite para as ‘yields’ inferiores à sua taxa de depósito, que ficou inalterada em -0,4%, o que levou a uma queda adicional das ‘yields’ da dívida alemã até quatro anos, com ‘yields’ em torno dos -0,7% e que passam assim a ser elegíveis para as compras mensais do BCE; e reduz a maturidade residual mínima dos títulos elegíveis de dois para um ano. Ambas as medidas aumentam o bolo total de ativos elegíveis para as compras do BCE, com impacto na dívida portuguesa, cuja linha com vencimento em junho de 2018 passa agora a poder integrar o programa de compra de ativos, aumentando assim os ativos portugueses elegíveis em 2,7 mil milhões de euros.

A extensão do programa ontem anunciada significa um montante de compras adicionais no valor de 540 mil milhões de euros, aumentando assim o valor total do programa de compra de ativos de 1,9 para 2,4 biliões de euros. Até novembro, as compras já realizadas somavam 1,2 biliões de euros, com os títulos alemães, franceses e italianos a representarem cerca de 60% do total. Foi aliás nestas geografias que o BCE mais aumentou as compras nos últimos meses, de forma a controlar a subida das ‘yields’ que se faz sentir desde abril. Com a introdução do novo limite de 60 mil milhões de euros, o Eurosistema terá de refrear os montantes de compras dos últimos meses, que têm ficado sistematicamente acima dos 70 mil milhões de euros. Na conferência de imprensa, Mario Draghi frisou no entanto que o BCE mantém a porta aberta a uma nova revisão do programa caso “o ‘outlook’ se torne menos favorável ou as condições financeiras ser tornem inconsistentes com o ajustamento sustentável dos níveis de inflação”.

O BCE actualizou ainda as projeções económicas para a área do euro. Antevê um crescimento real do PIB em 1,7% em 2016 e 2017 e de 1,6% em 2018 e 2019, em linha com as estimativas avançadas em setembro. Já a taxa de inflação deverá ficar em 0,2% este ano, 1,3% em 2017, 1,5% em 2018 e 1,7% em 2019, um valor que Mario Draghi diz não ser suficientemente próximo do objectivo de 2% do BCE. A taxa de juro de referência ficou inalterada em zero.

As ‘yields’ da dívida europeia encerraram a sessão com subidas generalizadas, enquanto o euro, que chegou a disparar 1,2% antes da conferência de imprensa de Draghi, acabou por afundar 1,3% face ao dólar. Uma tendência que não afetou as bolsas europeias, que continuam a refletir o otimismo que se vive em Wall Street. As principais praças somaram mesmo ganhos superiores a 1% na sessão. n

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