Aquilo a que estamos a assistir na TAP deve-se a vários factores, incluindo uma pandemia que forçou o sector da aviação mundial a fazer uma aterragem de emergência. Porém, ao contrário do que está a acontecer noutros países e com outras companhias, no caso da TAP a aterragem de emergência vai custar três mil milhões aos contribuintes.

Esta factura que vamos pagar deve-se a um erro de cálculo do Governo. No dia em que fez questão de assegurar o controlo público de 50% da companhia, António Costa  transmitiu um incentivo errado aos acionistas privados e colocou o país a pagar a conta. Por sua vez, os acionistas e obrigacionistas da TAP tiveram direito a um bailout com dinheiros públicos.

Este é o problema conjuntural. Mas há outro, de natureza estrutural, que está na origem de todo o imbróglio: a ausência de uma missão clara para a TAP. E já que não temos outra escolha senão sermos acionistas da companhia, pelo menos no médio prazo, não tenhamos receio de fazer um verdadeiro debate público sobre a TAP que queremos.

Portugal é um país virado para o mar, que tem milhões de cidadãos espalhados pelo mundo e cuja prosperidade depende do turismo e do comércio internacional. Uma companhia aérea bem gerida e com a dimensão certa pode ser um instrumento poderoso para a defesa dos nossos interesses. Mas não precisamos, certamente, de uma TAP que exista para manter lobbies, dar empregos a políticos ou manter rotas longínquas, sem ligação a Portugal ou à Lusofonia, que não tenham viabilidade económica.

O lado positivo é que, até 2025, enquanto pagamos a conta, podemos refletir sobre para que deve servir a TAP.