É o Syriza o salvador da pátria?

Se ganhar as eleições de domingo, o Syriza terá de prestar contas ao seu maior credor – o cidadão comum, que deposita grande esperança no partido liderado por Alexis Tsipras para reverter o cenário de recessão.   Na véspera das eleições legislativas na Grécia, agendadas para domingo, dia 25, o partido de esquerda radical Syriza […]

Se ganhar as eleições de domingo, o Syriza terá de prestar contas ao seu maior credor – o cidadão comum, que deposita grande esperança no partido liderado por Alexis Tsipras para reverter o cenário de recessão.

 

Na véspera das eleições legislativas na Grécia, agendadas para domingo, dia 25, o partido de esquerda radical Syriza permanece à frente nas sondagens. O escrutínio disputa-se assim entre o partido liderado por Alexis Tsipras e os conservadores da Nova Democracia, no poder e encabeçados por Antonis Samaras.

Sob assistência financeira internacional da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) desde 2010, a Grécia tem dois empréstimos concedidos (que ascendem a 240 mil milhões de euros) em troca de duras medidas de austeridade e um alargado plano de privatizações. Os eleitores helénicos vão às urnas para decidir o próximo Governo após a derrota parlamentar, a 29 de dezembro, para a escolha do candidato presidencial proposto pelo Executivo de coligação Nova Democracia/Pasok. Fracasso que levou à interrupção dos trabalhos da troika e à suspensão do desembolso dos fundos acordados no segundo programa de assistência financeira.

Submersa numa recessão desde 2008, a Grécia viu o desemprego disparar para acima de 25%, registou reduções salariais entre 30 e 40%, e tem 20% da população no limiar da pobreza. Após seis anos de recessão económica e já no segundo resgate internacional, o país deverá crescer quase 3% em 2015, o desemprego permanecerá nos 25% e a dívida pública ficará perto dos 170% do PIB, segundo estimativas da Comissão Europeia, que apontam para um défice de 0,1% e para contas externas negativas em 2,5% do PIB.

Redução da dívida e sem mais medidas de austeridade
O Syriza, muito crítico dos programas de resgate negociados com a troika, é então o favorito, com as sondagens a darem-lhe a vitória face à Nova Democracia, mas com uma diferença apertada, entre 2% e 4%. Alexis Tsipras tem repetido que, em caso de vitória do seu partido, o país continuará no euro, mas pretende renegociar os acordos de assistência financeira, com uma redução da dívida e sem mais medidas de austeridade.

O partido de Alexis Tsipras exclui a saída da Grécia do euro porque levaria à rutura da zona euro e a mais austeridade, exatamente o que o Syriza quer combater caso vença as eleições. Yannis Miliós, um dos quatro economistas responsáveis pelo programa económico do partido, recusou, em entrevista à agência espanhola EFE, a ideia – avançada pelo Governo de Antonis Samaras – de que o Syriza tem uma “agenda oculta” de que faz parte a saída do euro. Para Yannis Miliós, “não é possível sair sem quebrar a zona euro por completo. Seria passar de um sistema de moeda única para um de taxas de câmbio fixo, como tivemos na década de 1990”, adiantando que “somos contra a depreciação das condições de vida da maioria das pessoas e uma depreciação monetária seria equivalente a aplicar um plano de austeridade”. Quanto à renegociação da dívida, explica que existem vários instrumentos técnicos para o fazer. Acrescenta que o objetivo do Syriza é avançar com uma moratória do pagamento da dívida para todos os países, com juros nulos e um prazo de pagamento a cerca de quatro décadas, até que as respetivas dívidas fiquem abaixo de 20% do produto interno bruto (PIB); e o Banco Central Europeu (BCE) trocaria os juros da dívida dos países por obrigações de cupão zero (não se paga juros até à liquidação integral). Yannis Miliós diz que uma operação deste género custaria só 1,3 milhões de euros, dado que o BCE não trocaria a dívida mas sim os juros.

Juncker pede respeito. FMI desdramatiza
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse ontem esperar que o futuro Governo helénico respeite os compromissos assumidos pelo país, frisando que é a única coisa que pode e deve dizer sobre as eleições de domingo.“Não queremos interferir no debate eleitoral, por razões óbvias. Cabe aos gregos tomar a sua decisão e elegerem aqueles por quem desejam ser governados”. E adiantou que “a única coisa que podemos dizer é que pensamos que os compromissos assumidos pela Grécia serão respeitados por qualquer novo Governo grego”.
E o Fundo Monetário Internacional (FMI) desdramatizou a possibilidade de a Grécia deixar a zona euro em caso de vitória do Syriza nas eleições legislativas de domingo. “Não vemos a Grécia a abandonar o euro como uma previsão de futuro” disse ontem Bill Murray, porta-voz do FMI.

 

Compra de dívida pelo BCE saudada
O Syriza saudou o anúncio da compra de dívida pelo Banco Central Europeu (BCE), decisão que considera contrária aos que “semearam o medoe o pânico”. “Esta é uma decisão importante, que o próximo Governo grego usará em benefício do país”, afirmou ontem o partido de esquerda num comunicado emitido após a conferência de imprensa do presidente do BCE, Mario Draghi.
De acordo com o Syriza, o programa anunciado pelo BCE dá “uma resposta às políticas restritivas extremas e advoga uma expansão qualitativa contra as vozes neoliberais extremas, entre as quais se inclui a do senhor Samaras”. O partido refere-se a Antonis Samaras, primeiro-ministro e líder da Nova Democracia (direita), que na campanha eleitoral vaticinou um novo resgate para a Grécia e mesmo a saída do país do euro em caso de vitória do Syriza.

Armanda Alexandre

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