O povo americano e o mundo já entraram em contagem decrescente para aquelas que poderão ser consideradas as eleições americanas mais conturbadas de sempre, não só pelo carácter dos candidatos, mas também pela crise sanitária e económica que assombra este país e o mundo.

Dado o estado de incerteza e instabilidade da sociedade americana, importa comparar os resultados económicos da presidência de Barack Obama com os da administração de Donald Trump e analisar o plano económico dos atuais candidatos, bem como a perceção dos resultados económicos pelo povo americano.

Se, por um lado, é inegável o tremendo impacto da crise sanitária na economia americana, tendo no segundo trimestre do ano registado um crescimento de -31,4% em comparação com o período homólogo. Por outro, no período antecedente à pandemia, é inquestionável que, durante a administração de Trump, a economia deste país foi caracterizada pela prosperidade. Mas será que, tal como Trump afirma, os resultados económicos foram melhores que os obtidos durante a presidência de Obama?

Durante o mandato de Trump, o pico de crescimento económico foi de 3% enquanto que durante a presidência de Obama foi de 3,1%. Analisando os períodos de crise, o maior declínio durante o mandato de Obama foi de -2,9% em 2009, enquanto sob a administração de Trump, espera-se que a maior queda seja registada este ano, estando prevista uma queda de -6,5% no crescimento económico. Para além disso, o rendimento aumentou, sendo o maior aumento registado no período de Trump, e a taxa de desemprego caiu com ambas as administrações, exceto neste ano, onde o desemprego aumentou largamente e em 2009, ano em que os salários diminuíram e o desemprego aumentou.

A análise dos resultados destas diferentes administrações levou os economistas a atribuir a Obama a sólida recuperação económica da crise e a Trump a manutenção dos resultados económicos até à recessão pandémica.

Importa também comparar o plano económico dos atuais candidatos. Em relação aos impostos, Trump estabeleceu o objetivo de reduzir os impostos, estendendo o Tax Cuts and Jobs Act até 2030, o que reduzirá as receitas fiscais em 1,5 biliões de dólares, enquanto a proposta de Biden vai na direção oposta, isto é, um aumento de impostos, como o imposto sobre os rendimentos mais altos e os rendimentos das empresas, o que aumentará a receita tributária em quatro biliões de dólares entre 2021 e 2030. Esta receita financiaria o desenvolvimento de infraestruturas e I&D, que, de acordo com o plano de Biden, desempenham um papel fundamental para enfrentar os países rivais, evitando uma guerra comercial.

A política de Trump em relação às infraestruturas ainda não é clara, mas sugeriu um plano de dois biliões de dólares “grande e ousado” financiado por empréstimos com juros baixos, o que aumentará ainda mais a dívida americana e, em relação ao comércio, acredita-se que o atual presidente continuará a guerra comercial com a China, mantendo sua estratégia America First”.

Relativamente ao emprego e aos salários, ambas as estratégias dependem fortemente do plano de desenvolvimento de infraestruturas. O plano de Trump ainda não está totalmente definido, mas sugeriu a injeção direta de dinheiro em certas indústrias chave e pretende aumentar o salário mínimo, deixando ao critério dos diferentes estados. O plano de Biden é criar empregos ao nível da classe média através do seu plano de infraestruturas: isso implica a construção de infraestruturas de energia renovável, instituições-âncora e indústrias de resiliência climática, planeia ainda apoios fiscais para comunidades que passaram por lay-off em massa ou o encerramento de uma grande instituição governamental; e pretende aumentar o salário mínimo em 15 dólares e, devido à crise sanitária, a sua proposta é fazer com que todos os 50 estados adotem programas de remuneração de curto prazo que serão integralmente financiados pelo governo federal. Posto isto, investigadores sugerem que a proposta de Biden levaria a um crescimento económico mais rápido, salários mais altos e reduziria a dívida americana.

Finalmente, aquela que poderá ser considerada a componente mais importante é a perceção dos resultados económicos pelo povo americano. Estudos afirmam que, quando as pessoas avaliam a saúde económica do país, podem ser mais influenciadas pela história recente do que pelas últimas flutuações (como a atual crise pandémica) ou por tendências de longo prazo, o que favorece Trump, pois a economia prosperou. Antes da crise de saúde, 59% dos americanos classificaram esta como a melhor economia desde o final dos anos 90, o que é, pelo menos, discutível ao comparar a economia de Trump com a economia de Obama. Por outro lado, apesar de enfrentarem uma das maiores crises de todos os tempos, 30% dos americanos acreditam que a “economia está bem”, enquanto apenas 17% acreditavam o mesmo na crise de 2008.

Numa realidade marcada pela incerteza, na qual, cada vez mais, as emoções toldam a leitura dos números, o confronto entre a realidade económica e a perceção dos resultados económicos, os perfis e as propostas dos candidatos Joe Biden e Donald Trump terão um papel fulcral no resultado das eleições americanas, que até agora se mantém incerto.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.