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Ecologistas consideram “imoral” nova meta de redução de emissões poluentes do Brasil

Segundo os grupos de defesa ambiental, o Brasil só pretende atingir a neutralidade das emissões de carbono em 2060, ou seja, dez anos após a meta estabelecida pela maioria dos países, com exceção da China, um dos maiores poluidores do mundo e que fixou a mesma meta brasileira.
9 Dezembro 2020, 19h26

Os principais grupos ambientalistas do Brasil classificaram hoje como “insuficiente e imoral” a nova meta traçada pelo país sul-americano como signatário do Acordo de Paris, na qual promete neutralizar as suas emissões de gases poluentes até 2060.

Em causa está um anúncio feita na noite de terça-feira, em que o Governo brasileiro indicou que poderá antecipar o cumprimento da meta se eliminar as emissões de carbono, fixada no Acordo de Paris, se receber anualmente 10 mil milhões de dólares (8,29 mil milhões de euros, no câmbio atual).

“O Brasil anunciou uma meta climática insuficiente e imoral e está a tentar chantagear os países ricos novamente”, disse em comunicado o Observatório do Clima, consórcio que reúne 56 grupos ambientalistas que atuam no país, incluindo organizações internacionais como ‘Greenpeace’, ‘World Wide Fund for Nature’, ‘Conservation International’ e a ‘Friends of the Earth’.

Segundo os grupos de defesa ambiental, o Brasil só pretende atingir a neutralidade das emissões de carbono em 2060, ou seja, dez anos após a meta estabelecida pela maioria dos países, com exceção da China, um dos maiores poluidores do mundo e que fixou a mesma meta brasileira.

A nova meta do Brasil foi anunciada na terça-feira pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, quando falta menos de um mês para concluir o prazo legal que os signatários do Acordo de Paris têm para anunciar as suas Contribuições Nacionais Determinadas (NDC, na sigla em inglês), como são conhecidos os compromissos obrigatórios de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.

Salles frisou que a meta de 2060 poderá ser antecipada caso os países desenvolvidos destinem 10 mil milhões de dólares por ano aos cofres brasileiros, já a partir de 2021, para financiar projetos de preservação ambiental.

“Numa outra tentativa de chantagear os países ricos, o ministro do Meio Ambiente do Brasil condicionou a antecipação da meta de 2060 ao pagamento ao país de 10 mil milhões de dólares por ano a partir de 2021”, criticou o Observatório do Clima.

Nos termos do Acordo de Paris, neutralizar as emissões de gases poluentes significa mudar a matriz energética e ficar apenas com fontes sustentáveis que não dependam de combustíveis fósseis, para ajudar a mitigar o atual aquecimento global.

A neutralização prevê que, no caso da manutenção de fontes poluentes, cada tonelada de gás carbónico emitida deva ser compensada com medidas de proteção climática que revertam essa mesma tonelada, como o plantio de árvores.

Antes de anunciar a sua nova meta, o Brasil comprometeu-se em 2015 a reduzir em 43% as suas emissões de gases poluentes até 2030, em relação aos volumes de 2005, ano em que lançou para a atmosfera 2,1 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono.

Segundo ecologistas, a meta anterior do Brasil (redução de 43% até 2030) já era insuficiente para impedir uma limitação do aquecimento global de menos de dois graus Celsius, assim como a nova meta também o é.

“Se todos os países tivessem a mesma ambição, o aquecimento global poderia aproximar-se de três graus Celsius”, explicou o Observatório do Clima, insistindo que a nova meta também é insuficiente.

“É imoral porque, num momento em que dezenas de países começam a elevar significativamente a ambição das suas metas, em linha com as novas recomendações da ciência, o Brasil oferece um esforço adicional de apenas 6%, o que já havia sido proposto, inclusive, antes mesmo da adoção do Acordo de Paris”, acrescentou.

O secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, afirmou que enquanto os demais países esperavam que o quinto maior emissor de gases poluentes do mundo aumentasse a ambição das suas metas, o Brasil “aponta uma motosserra contra a maior floresta tropical do planeta e faz exigências de resgate para parar a desflorestação e neutralizar as emissões em 40 anos”.

Para que o Brasil assumisse metas compatíveis com as previstas pelo Acordo de Paris, teria de se comprometer a reduzir as suas emissões em 81% até 2030 e atingir a neutralidade em 2050″, segundo os técnicos do Observatório do Clima.

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