[weglot_switcher]

Economias estão a recuperar mas o crescimento será divergente

Temos o mercado mundial a recuperar globalmente e esse é o fator crítico para o crescimento dos seguros de crédito. Mas, nem todas as regiões crescem da mesma forma.
27 Fevereiro 2022, 16h00

O crescimento da economia mundial não afasta os problemas decorrentes da pandemia e aqui falamos das cadeias de abastecimento e da inflação, que deverá levar – possivelmente no final deste ano – o Banco Central Europeu a subir taxas de juro e a normalizar a política monetária. Os dados que dispomos sobre risco-país são da responsabilidade do segurador francês Coface e foram compilados pelo economista da mesma empresa que segue os mercados da Europa Ocidental, incluindo ibéria, Bruno de Moura Fernandes.

Os dados relativos ao 3º trimestre de 2021 mantinham o rating do país em A2, o que significa risco baixo, um nível idêntico ao de Espanha e Reino Unido e inferior ao de França e de Itália. Os países ocidentais e da América do Norte estão no melhor nível, ou seja, risco muito baixo ou baixo, enquanto países da América do Sul e de África – com quem Portugal mantém tradicionalmente relações económicas fortes – tem risco de crédito elevado ou muito elevado. Adianta, por seu lado, um trabalho da seguradora Crédito y Caución que o comércio mundial já estava nos níveis de pré-pandemia em 2021. No seu outlook divulgado no final e janeiro passado, a seguradora afirmou que o crescimento mundial em 2021 se situou entre os 8% e os 10%, devendo perder força em 2022 para um crescimento global entre os 5% e os 6% e para os 3% a 4% em 2023. Referem os analistas neste relatório que se assistirá a um “regresso a um padrão de crescimento normal, no qual o crescimento do comércio mundial estará mais ou menos a par com o crescimento do PIB, contrapondo-se às oscilações do dobro do PIB observadas em 2020 e 2021”. É realçado no mesmo documento a evolução desigual do comércio global de bens e de serviços, sendo que o primeiro recuperou com força “graças à forte procura de veículos automóveis, produtos eletrónicos e artigos de exterior”. Em contraste, o comércio de serviços “está a recuperar lentamente, sob o peso das restrições ainda vigentes” devido à pandemia. Como sabemos é bem possível que este conjunto de restrições termina até final deste 1º trimestre. Dados de janeiro indicavam que o sector dos serviços está globalmente 5% abaixo dos níveis registados em 2019 mas está 47% abaixo do nível de há dois anos no sector do turismo.

Crescimento divergentes
O mercado mundial tem reagido de forma diferente aos constrangimentos do comércio decorrentes da pandemia. Refere-se no outlook da Crédito y Caución (CyC) que “o crescimento do comércio da China abrandou devido ao impacto do nível pouco habitual de trocas comerciais registado em 2020. Em contraste, refere o mesmo documento, “o resto da Ásia emergente apresenta crescimentos acima da média mundial, vinculados ao seu papel de destaque na fabricação de bens”. Por seu lado, regista-se o crescimento da economia dos EUA devido ao pacote de estímulos, enquanto a União Europeia tem um nível de recuperação idêntica à média mundial. A perda do impulso a nível de trocas comerciais é também visível na América Latina, alerta a CyC, e que adianta não antecipar a dissipação dos constrangimentos antes de 2023. Durante o corrente ano “será necessário tempo para ampliar a capacidade no transporte marítimo e nos semicondutores”.

Na mesma linha de pensamento está Bruno e Moura Fernandes, o head of macroeconomic research da Coface. Questionado sobre os constrangimentos das economias para onde Portugal exporta, afirma que “os efeitos diretos da pandemia nas economias estão a tornar-se menos significativos a cada onda adicional, embora as consequências continuem a ser particularmente negativas para sectores diretamente afetados, tais como os transportes aéreos, turismo, hotéis e restaurantes”. Adiantou que “no entanto, esta nova onda exacerbou um dos principais fatores que afetam a recuperação global: as ruturas da cadeia de abastecimento. O outro grande risco, o deslizamento duradouro da inflação, está também a tornar-se cada vez mais significativo, especialmente à medida que a subida dos preços das mercadorias, alimentada pela inércia de curto prazo da oferta e pelas tensões geopolíticas, não terminou e está a fazer-se ao longo do tempo. Ainda sustentada pelos preços da energia, a inflação está agora firmemente enraizada nos preços dos bens manufaturados na Europa, à medida que as empresas transferem os aumentos dos custos de produção para os preços ao consumidor. Surpreendido com o recente aumento da inflação, o FED deu a entender que uma subida das taxas de juro está iminente, com mais para vir ao longo do ano, provocando um aperto monetário em alguns países emergentes (em particular na América Latina) – especialmente aqueles que enfrentam pressões descendentes sobre a sua taxa de câmbio e necessidades significativas de financiamento externo”.

Ainda sobre Portugal é interessante realçar o que foi escrito numa nota da seguradora Coface sobre os resultados eleitorais com maioria absoluta do Partido Socialista. Referem os analistas que até ao final de 2021, e em contraste com a Eurozona, o turismo (que representa 17% do PIB e 50% dos bens e serviços exportados em 2019) ainda não tinha recuperado para o nível pré-pandémico, muito embora o crescimento do último trimestre do ano tenha sido sólido, mais 1,6% QoQ. E acrescenta a mesma nota que enquanto é esperada a recuperação do turismo ao longo do ano, em paralelo com a estabilização da situação sanitária, a indústria transformadora e construção civil vão continuar a sofrer com as questões do abastecimento, a par das atividades limitadas no sector automóvel (representou 15% dos bens exportados em 2019) devido às disrupções na cadeia de abastecimentos.

E o que se diz sobre alguns países relevantes nas exportações nacionais. Acerca do Brasil a CyC escreve que a economia deste país enfrentará um círculo vicioso em 2022. Espera novas subidas de juros e adverte para o impacto da falta de reformas e de consolidação fiscal nas finanças públicas. Avança a seguradora que é de esperar novas subidas (dos juros) nos próximos meses, “podendo elevar a taxa básica de juros, a Selic, para mais de 10% em 2022”. Recorde-se que a Selic caiu para um mínimo de 2% em 2020, mas o nível de inflação a subir obrigou à inversão desta política. Os analistas realçam a perda de credibilidade da consolidação fiscal iniciada em 2016 no Brasil e isto porque o impacto da declaração do Estado de Calamidade no país para fazer face à pandemia fez subir o défice público para 9,4%. O relatório da seguradora diz ainda que “para situar o rácio da dívida numa trajetória descendente, o Brasil necessitaria de reformas fiscais, como a melhoria do complicadíssimo sistema fiscal e a redução obrigatória da despesa pública, em particular a elevada massa salarial, que se situa em quase 14% do PIB, muito acima da média dos mercados emergentes que é de 9%”. E na zona euro as recuperações serão diferentes. É assumido que o aumento da componente energética da inflação está ligado à subida dos preços do gás natural, da eletricidade e do petróleo. E foram as interrupções a nível da logística que afetaram a cadeia de abastecimentos e levaram à subida de preços dos alimentos e serviços. E em termos médios a dívida púbica da Zona Euro aumentou 14 pontos em 2020 para os 97% do PIB, sendo que a Grécia, Portugal, Itália e Espanha “são os mais sensíveis a um possível endurecimento da política monetária”. Uma outra região importante para as exportações nacionais é as economias do Golfo que a CyC acredita poderem crescer 5% em média para 2022, e que irão superar outros países do Médio Oriente e Norte de África.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.