Um editorialista do Daily Telegraph demitiu-se, de forma polémica, ao acusar o diário conservador britânico de ter censurado informações sobre o banco HSBC, para conservar os favores deste seu importante anunciante.
Em artigo de opinião publicado na terça-feira no sítio da internet Opendemocracy.net, Peter Oborne explicou o seu gesto relatando vários episódios de censura de informações relativas ao Hongkong and Shanghai Banking Corporation (HSBC).
A propósito da cobertura do ultimo assunto, que respeita ao ramo suíço do HSBC, batizado “Swissleaks”, devido a um escândalo de fraude fiscal e lavagem de dinheiro, disse que era preciso “um microscópio” para encontrar informação no Telegraph.
“É uma evidência no jornalismo britânico de qualidade que a equipa da publicidade e a redação devem estar rigorosamente separadas. Há muitas provas que no Telegraph esta separação não existe”, lamentou.
Por seu lado, a direção da publicação reagiu, afirmando que “a separação entre a publicidade e a redação foi destacada por numerosos prémios e sempre foi fundamental na empresa”, refutando “totalmente qualquer alegação contrária”.
“É muito lamentável que Peter Oborne, colaborador do Telegraph durante cerca de cinco anos, se tenha lançado num ataque tão sem fundamento, cheio de imprecisões e insinuações”, acrescentou.
No seu artigo, Peter Oborne desenvolve a sua análise de uma lenta queda do título, marcada pela saída de nomes conhecidos, designadamente o do chefe de redação Tony Gallagher, despedido há um ano, para ser substituído por um “diretor de conteúdos”.
Um outro diário britânico de referência, o The Guardian, recuperou hoje o tema, garantindo que o HSBC tinha colocado a sua conta publicitária “em pausa” pouco antes da publicação do assunto Swissleaks.
Um outro concorrente do Telegraph, o The Times, desenvolveu este assunto de forma extensa nas suas colunas.
A justiça suíça anunciou hoje a abertura de um inquérito penal ao HSBC Suisse e realizou buscas às instalações do banco em Genebra, 10 dias depois da revelação do escândalo por vários jornais de referência internacionais.
Na base das notícias está o inquérito do Consórcio Internacional dos Jornalistas de Investigação, batizado SwissLeaks, realizado na base dos ficheiros do banco do HSBC na Suíça, roubados em 2007 por um antigo empregado, o informático franco-italiano Hervé Falciani.
O HSBC é acusado de, entre novembro de 2006 e março de 2007, ter feito transitar 180,6 mil milhões de euros, pertencentes a mais de 100 mil clientes e 20 mil entidades coletivas, por contas da sua filial suíça, dissimuladas em estruturas ‘offshore’.
Portugal aparece com 969 milhões de dólares (855,8 milhões de euros) depositados no HSBC Private Bank, distribuídos por 778 contas bancárias de 611 clientes. Daquelas contas, 531 foram abertas entre 1970 e 2006. Dos 611 clientes, 36% têm passaporte português.
OJE/Lusa