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Eleições em Timor-Leste. Lisboa regista “muita adesão”

O processo eleitoral para as legislativas timorenses está este domingo a decorrer na embaixada de Timor-Leste em Lisboa, onde se regista “muita adesão”, incluindo muitos jovens que vieram para Portugal à procura de melhores condições de vida.
21 Maio 2023, 14h22

O processo eleitoral para as legislativas timorenses está este domingo a decorrer na embaixada de Timor-Leste em Lisboa, onde se regista “muita adesão”, incluindo muitos jovens que vieram para Portugal à procura de melhores condições de vida.

“Desde as 07:00 até agora [cerca das 11:00], tem havido muita adesão, principalmente de jovens. Está a correr bem. Não há nenhum problema. Até aqui, não há nenhum problema”, disse a embaixadora da República Democrática de Timor-Leste para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Marina Ribeiro Alkatiri, em declarações à agência Lusa.

Acompanhando presencialmente o processo eleitoral junto da embaixada de Timor-Leste em Lisboa, onde os timorenses podem votar até às 15:00, Marina Ribeiro Alkatiri reforçou que, “desta vez, as eleições aqui estão a decorrer com presença de muitos jovens”, associando isso ao recente fluxo de emigração para Portugal.

Para ajudar os “muitos” timorenses recém-chegados, a embaixada de Timor-Leste disponibilizou informação “a todos os níveis” sobre o processo eleitoral, através de publicação na rede social Facebook e de comunicação para as bases em Portugal.

Ainda assim, há jovens que se queixam hoje de não conseguirem votar, isto porque não fizeram o recenseamento, indicou a embaixadora no local.

Sentado no muro em frente à embaixada de Timor-Leste em Lisboa, no Largo dos Jerónimos, junto a dezenas de outros jovens timorenses, Dino Pereira, de 25 anos, conta que veio para Portugal há oito meses, decidiu vir sozinho, sem qualquer acordo de trabalho, à procura de melhores condições de vida.

“Em Timor, não há trabalho e, também, o salário mínimo é 115 euros”, refere o jovem timorense, em declarações à Lusa.

Os primeiros quatro meses em Portugal, concretamente em Lisboa, foram muito difíceis, porque não tinha trabalho, não falava português, só falava tétum, idioma nacional e co-oficial de Timor-Leste, acabando por ficar “a dormir na praia perto do Terreiro do Paço”.

Com o tempo, começou a aprender português, sendo hoje capaz de comunicar, inscreveu-se no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), arranjou trabalho e tem autorização de residência, estando agora a dormir num salão de futebol, perto de Sete Rios, em Lisboa, que partilha com “muitos timorenses”, onde estão entre 200 e 300 pessoas.

Apesar de todas as adversidades no acolhimento em Portugal, Dino Pereira conseguiu exercer o direito de voto nas eleições timorenses e confidenciou que seja qual for o resultado eleitoral continua a querer ficar por Lisboa, pelo menos durante cinco ano para obter a nacionalidade portuguesa, porque o salário mínimo é superior ao de Timor-Leste, admitindo que o objetivo é emigrar para o Reino Unido, mas hoje “é muito difícil” por causa da saída do país da União Europeia.

Com uma história de vida diferente, a timorense Tânia da Cruz, de 18 anos, está há sete meses em Lisboa, onde apenas é estudante. Veio com a família, porque o pai foi nomeado para trabalhar na embaixada, por um período de três anos.

Esta foi a “primeira vez” que participou num ato eleitoral, considerou “muito fácil” a escolha entre os 17 partidos que disputam estas eleições legislativas e desejou que o resultado traga “paz e estabilidade” para Timor-Leste, ainda que manifeste a vontade de ficar em Portugal, porque tem melhores condições de vida.

Ainda a limpar a tinta do dedo após votar, Leonilde Pinto, de 61 anos, está há mais de três décadas em Portugal, foi forçada a sair de Timor-Leste por causa da invasão indonésia, veio através da Cruz Vermelha Internacional.

“Espero bem que com estas eleições as coisas voltem a melhorar muito”, reclamou a timorense, afirmando que o ato de votar é um direito e é uma forma de “dar continuidade” ao processo que permitiu a independência do país.

Leonilde Pinto espera que o resultado destas eleições represente “uma boa mudança” para Timor, principalmente na reconstrução e no desenvolvimento do país, referindo que um dos problemas é o desemprego, que tem resultado nos recentes fluxos de emigração para Portugal, considerando “muito triste” que os jovens timorenses fiquem em situação de sem-abrigo quando vêm à procura de um futuro melhor.

A trabalhar na embaixada de Timor-Leste em Lisboa, Mário Batista, de 51 anos, veio para Portugal com a família, chegaram há seis meses, e hoje participou no ato eleitoral, porque “é um direito cívico” de, em cada cinco anos, o povo escolher o partido que quer para governar o país.

“Apesar de Timor estar a encarar uma situação de crise, agravada pela pandemia, bem como desastres naturais, está a recuperar economicamente […]”, declarou o timorense, acreditando que a recuperação económica pode permitir a estabilidade política.

“Pela forma que vi, tanto aqui em Lisboa, como em Timor, a situação, neste momento, é estável, calma e pacífica, portanto não houve nenhuma confusão durante as eleições”, disse.

São 17 os partidos que disputam as eleições legislativas em Timor-Leste, cuja contagem pode demorar vários dias. Mais de 890 mil eleitores estão registados para a votação, na qual vão ser escolhidos os 65 deputados do Parlamento Nacional.

Oito dos partidos têm assento parlamentar e um faz a sua estreia, sendo que para eleger deputados as forças políticas têm de obter mais de 4% dos votos válidos.

A jornada eleitoral terá o maior número de sempre de eleitores no país e na diáspora, e o maior número de centros de votação.

Milhares de observadores de Timor-Leste e de vários países e centenas de jornalistas estavam acreditados para acompanhar a votação.

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