O processo de descarbonização não se faz apenas com a aposta nas grandes centrais renováveis. A produção descentralizada, de eletricidade e calor, localizada mais perto do consumo, com menos perdas e maior eficiência energética, tem um papel determinante neste objetivo. E há cada vez mais cidadãos e empresas a produzir a sua própria eletricidade verde.

Os preços da eletricidade no mercado grossista, que iniciaram uma subida vertiginosa em 2021, essencialmente devido ao aumento do preço do gás natural, levaram muitos cidadãos e empresas a lançarem-se neste investimento – com retorno garantido – que é a produção renovável in loco.

Os dados da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) falam por si. Em 2021 a potência instalada de UPAC (Unidades de Produção para Autoconsumo) atingiu os 480 MW, o que representa um aumento de 88% face aos 256 MW registados em 2020.

Nos últimos seis anos – entre 2016 e 2021 – a capacidade anual instalada de autoconsumo multiplicou-se por onze, já que em 2016 estavam instalados apenas 43 MW.

O salto do autoconsumo em 2021 verificado em Portugal foi ligeiramente superior àquele registado em Espanha, onde a subida foi de 85%. Portugal cresceu mais do que Espanha, que, no entanto, já leva um avanço significativo neste domínio. Nuestros hermanos têm atualmente 2,5 GW de potência instalada e querem chegar aos 9 GW em 2030, número que pode subir para 14 no cenário mais otimista.

O Roteiro para a Neutralidade Carbónica prevê que o aumento da capacidade instalada de solar descentralizado atinja os 2,3 GW em Portugal, em 2030, e se aproxime dos 12 ou 13 GW, em 2050, o que demonstra o papel fulcral que tem esta componente descentralizada no processo na transição energética.

Os apoios previstos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, como é o caso do “Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis”, entre outros, poderão impulsionar ainda mais o investimento no autoconsumo, um pouco por todo o país, sobretudo no segmento residencial.

A eletricidade e a energia térmica produzida pelas unidades de autoconsumo é consumida instantaneamente, o que permite a estes consumidores e empresas satisfazer parte das suas necessidades de consumo, reduzir a compra da energia à rede e, consequentemente, a fatura a pagar no final do mês. A energia excedente pode ser ainda injetada na rede elétrica de serviço público.

É inquestionável que o autoconsumo veio democratizar o acesso à energia, mas mais do que isso trouxe vantagens económicas inegáveis a consumidores e empresas que, cada vez mais, se rendem a esta opção sustentável.