Vivemos tempos de incerteza onde grande parte do que tomávamos por certo foi alterado por esta pandemia. É nestas alturas que se espera dos principais decisores cabeça fria para definir o leque de ações possíveis, definir os riscos de cada uma e escolher o caminho mais promissor em termos de resultados.

É claro que ninguém tem uma bola de cristal, nem está imune a tomar más decisões, mas espera-se dos responsáveis políticos, municiados de uma análise concreta da realidade, decisões ajustadas e que as corrijam se necessário. Em todo este processo, é essencial um conjunto de informação que permita não só entender a realidade, mas principalmente entender o impacto das decisões na vida das pessoas e nos objetivos que se pretendem.

Se não vejamos, são várias as entidades que têm feito investimentos consideráveis para mitigar a propagação da Covid-19 entre a população. Por exemplo, as autarquias de Lisboa, Cascais e Oeiras foram responsáveis pelo maior volume de adjudicações em março, usando o regime de exceção devido à pandemia, com um valor total de 17 milhões de euros. Estas adjudicações (e seguintes) serviram para propósitos muito distintos, desde a distribuição até à produção de máscaras comunitárias, drones, centros de alojamento, caixas solidárias, serviços de juristas, serviços de vigilância, campanhas de sensibilização, soluções informáticas, serviços de dados…

Já dizia um grande economista liberal: “um dos grandes erros é julgar as políticas e programas pela sua intenção em vez de ser pelos seus resultados”.

Ora, quando tentamos olhar para os dados que existem da pandemia estes são insuficientes. Por exemplo, qual a taxa total de incidência de infetados nas escolas, ao longo do mês e ao longo das semanas? E relativamente às empresas? E aos transportes públicos? Qual a percentagem de hospitalizações nestes três cenários nas três escalas temporais? Qual a evolução dos indicadores nestas diferentes perspetivas numa escala nacional, intermunicipal, municipal e da freguesia.

Qual o objetivo de cada medida no que respeita aos principais indicadores? E estão esses indicadores a ser atingidos? É preciso fazer mais? Fazer menos? Fazer diferente?

Exemplificando, foi tornado público que havia casos de alunos infetados em algumas escolas fazendo manchete na comunicação social. Mas para que serve essa informação se não temos o número total de alunos para nos permitir saber a percentagem de incidência?

Vejamos, se a percentagem for superior à média nacional temos efetivamente um problema. Neste caso o importante será olhar para as escolas onde houve surtos e aquelas em que não os houve. O que é que as diferencia? O que é que as escolas menos seguras podem aprender com as mais seguras.

No entanto, se a percentagem for menor não existem razões para atuar e as escolas em vez de serem vistas como antros de infeção podem ser vistas como um dos espaços mais seguros das nossas comunidades. Neste caso, teremos a nossa confiança reforçada e mais calma quando olhamos para as escolas. Calma e cabeça fria são bens preciosos no contexto atual. E a confiança um elo que não devia ser quebrado.

E esse é exatamente o problema na gestão desta pandemia, desde o executivo nacional até ao mais pequeno responsável municipal, uma vez que não existe uma definição dos indicadores essenciais para acompanhar e um plano contínuo de recolha e tratamento da informação além de uma divulgação o mais rápida e aberta à sociedade civil possível.

Enquanto isso acontecer navegamos à vista e vemos todos os dias pessoas com responsabilidades governativas a jogar com os receios e medos das populações por falta de capacidade de gestão. É por isso que a Iniciativa Liberal defende desde maio a divulgação pública dos dados sobre a pandemia. Permitem melhores decisões que não abalam a confiança.

Está na hora de cabeça fria, liderança e transparência. Deveria ter começado antes, mas já não há margem para erros. O momento é agora!