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Empresários sem literacia digital “ficam pelo caminho”

Formadores em economia digital e marketing digital dzem que os temas que mais aliciam os executivos são inteligência artificial, redes sociais, SEO/websites, blockchain ou faturação eletrónica.
21 Maio 2022, 21h00

É simples, quer para um reputado empresário quer para o cidadão comum, explicar o conceito de automação, digital e até online, mas o desafio intensifica-se quando se fala de blockchain, machine learning ou mesmo faturação eletrónica. Para responder às necessidades dos consumidores, as empresas têm de ter estes conceitos na ponta da língua e investir na constante literacia digital dos seus quadros.

Marco Gouveia, consultor e formador de executivos em Marketing Digital, sentiu um aumento “evidente” na procura de qualificação digital em áreas como a saúde, os seguros, a estética ou a indústria automóvel devido à pandemia e à consequente “obrigação” de fazer a passagem das vendas e contactos físicos para o online.

“Num mundo cada vez mais acelerado e digital, a formação nessa área é absolutamente essencial para os executivos das empresas portuguesas, bem como para os seus quadros. Diria que é muito difícil acompanhar as tendências no que diz respeito ao comportamento e preferências dos consumidores e conseguir responder aos desafios atuais se os executivos não tiverem um know-how satisfatório sobre matérias de digital”, diz o especialista ao Jornal Económico (JE).

“As pessoas movimentam-se cada vez mais no meio online, por isso, as empresas devem estar preparadas para corresponder às expectativas dos consumidores e oferecerem as melhores e mais práticas soluções. E é impossível fazer isso se os próprios executivos não possuírem formação digital e uma visão holística sobre as estratégias de negócio dos dias de hoje”, garante o fundador da Escola Marketing Digital.
A sociedade de advogados Cuatrecasas investiu recentemente na área da formação ao lançar a “escola” Academia Cuatrecasas para auxiliar empresas e profissionais na aprendizagem ao longo da vida e, portanto, qualificar (mais) quem já está no terreno. Um dos cursos que oferece endereça, chamado “Como enfrentar os desafios da economia digital” endereça temáticas que vão ao encontro das atuais preocupações dos empresários: o e-commerce, a contratação à distância, os dados pessoais e privacidade.

“Por exemplo, os executivos têm dúvidas sobre a integração da sua oferta física de produtos ou serviços com a sua oferta online e sobre as obrigações legais que devem cumprir para preparar a sua oferta digital, principalmente quando estão em causa novos produtos/serviços em áreas mais reguladas, como a banca, saúde, investigação e ensaios clínicos, produtos de tabaco, comércio de bebidas alcoólicas, entre outros”, conta ao JE Sónia Queiróz Vaz, sócia co-coordenadora da área de Propriedade Intelectual (TI), Tecnologia, Media e Telecomunicações da Cuatrecasas. A advogada considera que a literacia digital “é absolutamente crucial” para os executivos das empresas portuguesas, porque o comércio eletrónico cresceu 46% em 2020 para 4,4 mil milhões de euros, de acordo com o “CTT E-Commerce Report 2021” e a “população portuguesa está mais digital do que nunca”.

No entanto, Sónia Queiróz alerta para as conclusões do estudo da ACEPI – Associação da Economia Digital Portugal e da IDC no qual se conclui que só 27% das empresas portuguesas admite que a transformação digital tem uma estratégia e liderança bem definidas, enquanto menos de metade (48%) refere que as iniciativas de digitalização internas são isoladas e geridas por diversos departamentos, sem uma estratégia harmonizada, e quase um terço (25%) nem sequer têm ações de transformação digital. As empresas “ou se adaptam ou ficam pelo caminho”, adverte a coordenadora técnica da formação sobre economia digital da Academia Cuatrecasas.

Até porque “continuam a surgir dúvidas” sobre assuntos do quotidiano, entre os quais “a faturação eletrónica e a utilização de documentos e assinaturas eletrónicas, a legislação recente que regula os direitos do consumidor na compra e venda de bens, conteúdos e serviços digitais ou a melhor forma de proteger os direitos relativos às criações e ativos imateriais e de otimizar e valorizar o portefólio de PI”, exemplifica Sónia Queiróz. “Por último, destacaria as questões sobre os tratamentos de dados pessoais que muitas das tecnologias implicam e sobre cibersegurança, numa altura marcada por um aumento muito expressivo das queixas relativas a cibercrimes”, acrescentou.

Empenhados em estar constantemente a expandir as suas marcas, aquilo que hoje os executivos mais procuram nos cursos é o conhecimento sobre como ter sucesso e obter resultados através de redes sociais, garante Marco Gouveia: “São, cada vez mais, o foco de interesse das empresas, que conseguem comunicar e chegar a vários tipos de públicos através dessas plataformas. Existem também outros temas que têm bastante procura, como SEO e websites. Já não basta existir uma estratégia orgânica”.

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