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Empresas estão demasiado focadas no financiamento através do sistema financeiro

A diversificação do financiamento é um tema antigo mas que continua a estar em cima da mesa. BEI e Banco de Portugal querem contribuir para alterar a perspetiva dos empresários.
4 Dezembro 2017, 12h13

Menos de 1% dos empresários portugueses considera a possibilidade de permitir a entrada de equitie finance nas suas empresas – o que aponta para a evidência de que o financiamento por via do sistema financeiro continua a ser a zona de conforto empresarial, mesmo num quadro em que o acesso a esse financiamento continua brutalmente restringido.

A conclusão é do Banco Europeu de Investimento (BEI) – que, juntamente com o Banco de Portugal, organizou hoje, no Porto, um debate sobre matéria de ‘Investimento e financiamento do investimento: financiar a recuperação da economia e o crescimento’.

Este fator – que coloca os empresários portugueses numa situação muito diversa da dos seus congéneres europeus – parece ser uma surpresa para o BEI, que pela voz de Debora Revoltella, diretora do departamento de <economia da instituição, alertou para a necessidade de diversificação das fontes de financiamento. Nada de novo, portanto, o que vem deixar claro a manutenção de um desfasamento entre as necessidades de capital e o encontrar de formas simples de o conseguir.

Alberto Castro, presidente da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD), não deixou de referir isso mesmo, numa intervenção em que recordou todos os outros mecanismos existentes no mercado. Mas recordou que o lado público do financiamento também tem que dar o seu contributo, não só divulgando o que são as diversas alternativas, mas – principalmente pelo lado da fiscalidade – levar as empresas a optar por outras vias de financiamento.

Debora Revoltella já tinha abordado a questão, e Gabriela Figueiredo Dias, presidente da CMVM a ele voltaria, para recordar que continua a existir um problema de ‘governance’ que impede as empresas de procurar outras formas de financiamento. Mas não só, recordou: custos associados ao recurso ao mercado de capitais; obrigações de transparência que estão para além do que é a prática comum; e uma persistente dificuldade de partilha de responsabilidades continuam a marcar a diversificação do acesso ao financiamento.

Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive, do setor têxtil, conhecedora do processo, admitiu que, no seu caso, é preciso assumir a diversificação: “estamos a reestruturar a empresa para a hipótese de avançar para o mercado de capitais”, afirmou, o que é importante desde logo porque obriga a uma organização profunda da ‘governance’.

Guilherme Costa, presidente da Phyxius (uma private equitie), referiu-se a esse facto: a discussão em torno da matéria de diversificação do financiamento é antiga e recorrente, sendo esse um sintoma que acaba por ser difícil de explicar – a não ser por via da manutenção de uma forte percentagem de empresas onde a gestão continua entregue, restritamente, a soluções familiares. “Falta gestão profissional”, concluiu.

Já para Luís Gonçalves Simões, vice-presidente dos Laboratórios Basi, que também tem em execução um projeto de investimento, referiu-se a outra questão bem menos abordada: a banca tradicional não tem condições para compreender especificidades ou diferenciações relativamente aos projetos que lhe chegam acima da mesa, sendo por isso que o ‘grau de sinistralidade’ é tão elevado.

O segundo painel versou precisamente as modalidades alternativas de financiamento – onde se inscreve precisamente a função, uma delas, do BEI, para usar, algumas, de forma complementar `s que se podem considerar tradicionais.

José Carlos Caldeira, presidente da Agência Nacional de Inovação (ANI), salientou que existem alternativas nacionais mas também internacionais – nomeadamente no que tem a ver com a internacionalização – que importa considerar em termos de gestão. Parte delas inscrevem-se nos fatores de inovação e conhecimento, que acabam por ser, considerou, instrumentos que permitem influenciar a envolvente às empresas, sendo, desse ponto de vista, capazes de consolidar os investimentos tidos como mais tradicionais.

Birthe Bruhn-Léon, diretora de Operações do BEI, deteve-se sobre os diversos segmentos que aquela instituição suporta em termos de financiamento dos investimentos – e que já se encontram disseminados no mercado português há muitos naos, com evidentes mais-valias tanto em termos empresariais como da envolvente macro.

Carlos Martinez Mongay, da Comissão Europeia, e Pablo Millán Cantero, do Fundo de Investimento Europeu, falaram sobre as capacidades de ajuda ao financiamento que cada uma das suas instituições. Mongay deixou uma pergunta pertinente: o crescimento da economia portuguesa, assinalável em termos da União Europeia, será, a longo prazo, sustentável? Não se sabe à priori, mas aquele responsável recordou que os cortes no financiamento público que se verificaram em Portugal nos anos de intervenção do FMI mas ainda existem, o que é contraproducente. Como o é também, disse, o uso de sistemas de emprego que coloquem os colaboradores em situações de precaridade – que induzem a um menor comprometimento com a inovação e o emprenhamento pessoal. Tudo isto, disse – a que se soma a necessidade de aumentar os níveis de gestão – são impedimentos claros ao financiamento.

Seja como for, as fontes alternativas de financiamento já existem e o BEI é líder nesta matéria: em 2016 acumulou 1.780 milhões de euros de investimento.

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