Dizíamos, no último artigo, que nas empresas familiares se impõe que a família saiba acolher dentro de si própria, sem reservas, a diversidade que os novos modelos sociais trouxeram.

Inovar é criar condições para que à empresa familiar suceda a família empresária e que a esta suceda a família investidora.

Inovar é compreender que há hoje desafios novos, problemas novos a que é necessário dar resposta. Do mesmo modo que há princípios que são eternos e que são a matriz que caracteriza a família investidora.

Se é verdade que vai uma enorme distância entre a empresa familiar dominada pelo patriarca seu fundador e o Family Office dos nossos dias, composto por profissionais altamente diferenciados, não é menos verdade que é a permanência dos valores que permite que, ao longo da linha do tempo, mais ou menos longa, a evolução e o crescimento vão ocorrendo e que a permanência em conjunto continue a fazer sentido.

É sempre um longo caminho que conduz à clara separação entre as funções accionistas e as funções de gestão. Caminho que deverá ter, o mais cedo possível, a inclusão de gestores profissionais externos à família.

De qualquer forma, e de relevância crucial a merecer especial destaque para a continuidade dos investimentos, é a constância de décadas nas preocupações estratégicas dos principais responsáveis e, consequentemente, da Empresa e da Família.

Se é verdade que só inovando e acompanhando o percurso do mundo é possível progredir, não o é menos que parece evidente que há um conjunto de preocupações que se devem manter constantes.

Preocupações e valores que a família tem de saber transmitir à empresa. Por isso entendemos que não há empresa, nem investimento, sem família. Dito de outra forma, pode existir, mas já não estamos a tratar de empresas familiares.

Parece-nos, por isso, que, nas famílias investidoras, como em qualquer família, há uma dimensão ontológica que dá sentido à pluridimensionalidade da vida. Sabendo nós o que um Family Office representa, gostaria de vos deixar o desafio para uma reflexão mais de cariz humanístico e menos de matriz financeira.

Uma reflexão que possa tentar responder à questão de saber se o Family Office não se deve integrar num Family Hub. Ou seja, se as famílias investidoras não devem proporcionar a criação – de forma organizada, simples, consensual, actual – de um Hub no qual coexistam os níveis (i) família; (ii) investimento; (iii) gestão; (iiii) governance.

O Family Hub é a “Casa Comum da Família”, o ponto de encontro e de decisão, o guardião das tradições e dos valores, o gestor dos activos e a consciência crítica que, sempre que necessário, a todos chama à realidade. É onde se gere o efeito família e o seu capital, “colando” as duas realidades.

Esta “Casa Comum da Família”, ou Family Hub, está vocacionada para ser a interface, a plataforma na qual, com a plasticidade que cada um for capaz de lhe dar, pode ser mantida a Família Investidora. Afigura-se-nos que esta visão holística de Família, Empresa e Investimento tem um longo e proveitoso caminho para fazer. Caminho muito exigente, mas que, se for bem feito, pode ser a chave do sucesso.

Caminho onde caibam direitos de personalidade, direitos obrigacionais ou contratuais, direitos sucessórios e, nalguns casos, direitos com origem em ordenamentos jurídicos, ou religiosos, diferentes da matriz original da família. Family Hub que possa ser a chave para:

  1. Conciliar a gestão dos afectos com a gestão da riqueza;
  2. Acolher a complexidade que a preservação da liberdade individual sempre encerra;
  3. Estruturar a produção e distribuição de rendimentos de acordo com o aumento do número de membros da família;
  4. Ser o poliedro, de geometria variável, que, a partir de um núcleo central forte, tem a capacidade de acolher as transformações, as mudanças, as entradas e saídas, o crescimento, a confluência da diversidade de interesses e de gerações.

Se conseguirmos acomodar, na concepção de Family Hub, de forma holística, a governance familiar, a governance do investimento das famílias e a governance das empresas, estaremos provavelmente a encontrar o ponto de equilíbrio que nos servirá de suporte para as próximas décadas.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.