Sabemos todos que desde que há actividade económica que há empresas e que, desde que há empresas, existem empresas familiares. Também sabemos que há famílias desde que a humanidade se reconhece como tal e, também sabemos, que a composição e o próprio conceito de família foi variando ao longo do tempo.

O que é novo é o estudo e a caracterização teórica e o estudo como disciplina autónoma das empresas familiares. Tal como é novo que à realidade histórica das empresas familiares sucedam as famílias empresárias e, a estas, as famílias investidoras. Diria mesmo que esta é a inovação determinante para colocar termo ao velho aforismo “Pai rico, filho nobre, neto pobre”.

E é por isso que entendo que o que verdadeiramente tem sido inovador, no sentido de diferenciador, é a preocupação de perpetuar o “sonho” do fundador, adaptando-o a cada momento histórico. Certamente que a mercearia de há cem anos evoluiu para um supermercado e, nalguns casos, para uma rede de hipermercados.

Claro que os construtores do pós-guerra evoluíram para empreiteiros e gestores de grandes infraestruturas, que operam à escala global e que diversificaram para negócios conexos.

Evidentemente que as grandes fiações deixaram de fazer sentido e hoje operam com fibras sintéticas que incorporam avançada tecnologia.

Mas todas estas mudanças não são identitárias da realidade que motiva que todos aqui estejamos hoje. Aquelas são mudanças que ocorreram em todo o tipo de empresas, sob pena da sua não sobrevivência.

A inovação que distingue as empresas familiares é a forma como conseguiram, e vão conseguindo, em simultâneo:

  1. Internalizar e enquadrar as profundas mudanças que as famílias, todas as famílias, conheceram;
  2. Assumir a preparação dos processos sucessórios como essenciais à perpetuação da empresa;
  3. Assegurar a preparação das gerações seguintes para gerir o capital da família;
  4. Acompanhar, e antecipar, as mudanças do mundo, a par do progresso científico e tecnológico;
  5. Abrir-se à profissionalização, às novas regras de Governance ou às preocupações ambientais.

Dito isto, facilmente concluímos que tradição e inovação não são nem um dilema, nem um paradoxo, antes sintetizam o desafio da perpetuação do investimento familiar.

Mas, entendemos também, que a perpetuação impõe também que à empresa familiar suceda a família empresária e, a esta, a família investidora. Tal como é essencial para a perpetuação da relação entre a família e os investimentos que se aceite que aquela mudou muito e que não é possível preparar o futuro com base em velhos arquétipos.

E é aqui que verdadeiramente é necessário inovar. Impõe-se que a família saiba acolher dentro de si própria, sem reservas, a diversidade que os novos modelos sociais trouxeram.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.