Os agentes ligados ao setor sabem que uma grande onda de transformação está a acontecer.

É agora claro que a forma como a eletricidade é produzida e consumida está a mudar de modo rápido e irreversível para um modelo distribuído. As energias renováveis estão a ser introduzidas na rede mais rapidamente que nunca.

O amadurecimento das tecnologias de energia renovável, a proliferação de recursos de energia distribuída, o custo decrescente de armazenamento das baterias e a mudança no comportamento dos consumidores estão a mudar a forma como produzimos, usamos, valorizamos e comercializamos energia elétrica.

A comunidade e os agentes ligados ao setor da energia estão a desenvolver soluções que possam enfrentar os desafios do Século XXI: crescimento da procura de energia elétrica, bi-direccionalidade do fluxo de energia, aumento do uso de fontes de energia limpas e criação das bases de uma rede inteligente.

O modelo atual, com mais de 150 anos, já não suporta as necessidades atuais do mundo cada vez mais populoso e industrializado.

Felizmente, estão a surgir novas tecnologias para gerir a procura, reduzir o desperdício e aproveitar novas fontes de energia, como por exemplo:

– Micro-redes que são sistemas de distribuição de eletricidade que têm recursos de energia próprios (ex.: painéis solares, mini turbinas, baterias de armazenamento) podendo estar ligados à rede de distribuição, ou não. Os VE’s (veículos elétricos) fazem parte deste sistema, sendo consumidores de energia quando carregam as suas baterias, ou podem ser fornecedores ao devolverem energia à rede, funcionando como baterias móveis.

– Nova geração de baterias para armazenamento de energia para consumo futuro ou venda à rede no momento mais oportuno

– Infraestrutura de transporte e distribuição que permitem o fluxo bidirecional de energia

– Contadores inteligentes que comunicam através da “cloud” e fornecem aos consumidores e às empresas de distribuição dados em tempo real que permitem uma gestão mais eficiente e resolução de problemas de modo remoto

– Sistemas ligados a equipamentos com sensores e assistentes virtuais inteligentes para otimizar o uso da energia

– A rede inteligente, que combina várias inovações para permitir balanceamento sistemático de carga, programas de nivelamento de picos e alavancagem total de fontes de energia sustentáveis. A “Internet das Coisas” (IoT), a proliferação de sensores, recursos energéticos distribuídos (DERs), geram grandes quantidades de dados. Tecnologias dotadas de inteligência artificial (AI) atuarão como “cérebro” da gestão ativa da rede digital.

Este novo paradigma requer um nível significativo de digitalização para funcionar de forma eficiente e eficaz.

O modelo distribuído cria oportunidades em toda a cadeia de valor para consumidores, comercializadores, distribuidores e também novos operadores, mas por outro lado gera alguns riscos:

– A necessidade de um aumento da flexibilidade do sistema (reforço da rede, interconexões, armazenamento, respostas do lado da procura e fontes de fornecimento flexíveis).

– Alterações regulatórias e tarifárias que têm impacto na recuperação de custos dos ativos.

–  Redução das receitas à medida que os consumidores de energia deixam de consumir ou consumem fora da rede.

– Aumento do escrutínio regulatório à medida que o custo de operação da rede é distribuído numa base menor, provocando tarifas mais altas.

– Perigos de interrupção do negócio por ataques cibernéticos.

Todos esses desenvolvimentos – e mais – estão a possibilitar fornecer eletricidade ao cliente certo, na hora certa e da maneira correta.

Essas implicações exigirão que consumidores, empresas de energia, reguladores e governos façam escolhas que moldarão o futuro cenário energético.

Fundamentalmente, acredito que a forma como a eletricidade é gerada e consumida está a alterar-se irreversivelmente para um modelo distribuído. O futuro do nosso sistema é descarbonizado, descentralizado, digitalizado e democratizado. E essa mudança está a ocorrer mais depressa do que pensamos.