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Escutas, ‘fake news’ e tribunais: os tweets mais polémicos de Trump

Se havia dúvidas sobre se Trump iria atenuar o uso do Twitter para passar a sua mensagem, muitas vezes colérica, após chegar à presidência, elas foram logo resolvidas. O presidente continua hiperativo nos tweets, como se viu ontem, quando fez cinco posts a acusar Obama de pôr os seus telefones sob escuta.
5 Março 2017, 11h15

Cinco dias antes de tomar de posse na Casa Branca em janeiro, Donald Trump confessou que não iria resistir, ia mesmo manter a sua conta pessoal no Twitter, ao contrário do que fez o seu antecessor Barack Obama em 2008, quando passou as suas contas nas redes sociais para uma organização sem fins lucrativos.

“Quando se pensa no assunto, tenho 46 milhões de seguidores, prefiro simplesmente deixar isso acumular e manter [a conta] como @realDonaldTrump. Está a funcionar”, disse Trump nessa altura.  Segundo o site  twittercounter, que analisa estatísticas da rede social, é precisamente isso que Trump tem feito, acumulando em média mais 100 mil novos seguidores por dia numa conta que é a 46a mais seguida no mundo, através de uma produção média de quatro tweets por dia.

Reservando a conta oficial @potus (sigla para President of the United States) para anúncios mais formais sobre a agenda e as nomeações (e o ocasional Make America Great Again), Trump tem continuado a usar a conta pessoal para emitir declarações mais polémicas. Ontem por exemplo, foi para acusar o seu antecessor de ter colocado escutas na Trump Tower durante a campanha eleitoral.

O jornal britânico de The Guardian questiona se o vício de Trump com o Twitter estará “fora de controle” ou se o presidente está simplesmente a usar os tweets taticamente para distrair as atenções de outros assuntos. Ontem, diz o jornal, o presidente estaria a tentar diluir a pressão das notícias de dizem que o attorney general Jeff Sessions esteve em contacto com o governo russo durante a campanha, apesar de Sessions ter dito o contrário, sob juramento, a audiência de confirmação para o cargo.

“Alguns observadores políticos vêem um padrão deliberado de distração e desvio nos tweets madrugadores que são o produto dos prodigiosos dedos do presidente. Quando a cobertura mediática, ou a pressão do Congresso, se torna difícil demais, um simples tweet é suficiente para enviar a imprensa para outra direção”, refere diário.

Com letras maiúsculas, pontos de exclamação, aspas, sarcasmo, ironia e repetição, Trump consegue dominar a agenda através de tweets polémicos. Veja aqui alguns dos mais controversos nas primeiras semanas do republicano na Casa Branca:

Obama e escutas: 

Trump acusou ontem Barack Obama de colocar escutas na Trump Tower antes das eleições de 8 de novembro. O presidente não apresentou provas, mas em cinco tweets acusou Obama de ter violado “o sagrado processo eleitoral” e comparou o caso ao McCarthyism (a caça aos comunistas nos EUA nos anos 50) e ao escândalo de Watergate, que levou à demissão do presidente Richard Nixon. No último tweet, chamou Obama de “tipo mau (ou doente)”.

 

O início:

O dia da tomada de posse foi marcado por vários tweets sobre como a nova administração planeia “trazer empregos de volta para os EUA”  e “fazer regressar as nossas fronteiras”, com a mensagem centrada na ideia que o “povo vai ser de novo o governante da nação” e que “hoje não estamos só a transferir o poder de uma administração para outra, de um partido para outro, mas de a transferir o poder de Washington de volta para o povo americano”.

Protestos:

Trump reagiu mal às manifestações contra a sua presidência que ocorreram logo a seguir à tomada de posse, questionando porque é que “essas pessoas [manifestantes] não votaram” e criticando as celebridades que participaram nos protestos. No entanto, passadas menos de duas horas, o novo presidente arrependeu-se e sublinhou que o protestos pacíficos são uma marca da democracia americana, e que embora não concorde sempre, reconhece o direito das pessoas para expressarem as suas posições.

Fake news:

O presidente não demorou muito a trazer a guerra que já tinha com alguns órgãos de imprensa para a Casa Branca. A 25 de janeiro, congratulou a Fox News por ter tido a maior audiência na transmissão da tomada de posse “muito mais alta que a FAKE NEWS CNN – o público é esperto”.

A imprensa tornou-se, de facto, no principal alvo do presidente no Twitter. Nunca passam muitos dias entre os posts sobre o assunto, com Trump a dizer que a imprensa “tornou-se num perigo para a nação” e a mostrar-se especialmente crítico em relação à CNN e ao New York Times, jornal que diz ser um fracasso e uma anedota. Mais recentemente o presidente optou por divulgar listas de notícias falsas e sondagens que mostram apoio popular às suas decisões.

A guerra escalou no dia 24 de fevereiro, quando a administração proibiu cinco órgãos de participar num briefing com o porta-voz Steve Spicer. No dia seguinte, Trump anunciou que não iria participar no jantar anual dos correspondentes na Casa Branca.

Os imigrantes e os tribunais:

Trump iniciou as funções de presidente a 100 à hora. Assinou vários decretos executivos nos primeiros dias para mostrar que as promessas que tinha feito na campanha eleitoral são para cumprir. Um dos mais polémicos foi para banir a entrada nos EUA de pessoas de sete países de maioria muçulmana. A medida afetou 60 mil pessoas na primeira semana e provocou protestos em aeroportos de várias cidades americanas e europeias.

“Toda a gente está a discutir se é ou não uma proibição [de entrada]. Chamem o que quiserem, é sobre manter pessoas más (e mal intencionadas) fora do país!”, escreveu o presidente.

A 4 de fevereiro, um juiz federal travou a medida, provocando a ira do presidente, que disse que o bloqueio pelo “suposto juiz” é “ridiculo”, no primeiro de oito tweets sobre o assunto em dois dias. Trump prometeu reverter a suspensão do decreto, mas ainda não conseguiu, com sucessivos tribunais a manterem a decisão do juiz.

O muro na fronteira com o México:

Cinco dias após o discurso na inauguração, no qual não mencionou o assunto, Trump confirmou que vai mesmo cumprir uma das promessas mais controversas: construir um muro na fronteira com o México, com um tweet muito claro: “Vamos construir o muro”.

Este é um tema sobre o qual Trump tem dado poucos detalhes específicos, e ainda não se sabe quando o muro vai ser construído, quanto poderá custar e quem vai pagar a obra. Inicialmente o presidente disse que seria o México a pagar, mas nas últimas vezes que falou sobre o projeto não repetiu essa ideia. A 11 de fevereiro, Trump explicou que o muro vai custar muito menos que o governo estimava anteriormente, pois quando o ex-magnata se envolver no design e nas negociações o preço VAI CAIR MUITO”.

 

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