A palavra compromisso remete para um pacto ou aliança coletiva para definir o comum plural e diversificado. Conceber o comum na dimensão urbana implica um esforço de compreensão do que é a cidade e qual o papel de seus habitantes na sua coconstrução.

O comum urbano é produzido na vida cotidiana do cidadão e nas práticas de fazer urbano no uso, apropriação e gestão da cidade como obra coletiva. Neste, o direito à cidade e ao lugar assumem revindicações e projeções dos direitos humanos fundamentais, isto é, pensar e conceber as cidades como lugares de proximidade, de diversidade e de ação.

Há 48 anos, Lefebvre, referência mundial no estudo das problemáticas urbanas, incita-nos a “Mudar a vida! Mudar a sociedade!”, mas avisa-nos que estas determinações não significam nada sem a produção de um espaço apropriado. Assim, é preciso primeiro mudar o espaço de discussão e o espaço vivido assente na experiência de uma transformação social que também altere o espaço e a sua construção para torná-lo inclusivo.

Neste contexto, surge o manifesto compromisso cidade que abre o espaço à comunidade científica e civil para a definição de “uma agenda para o futuro das cidades”. Um apelo ao esforço coletivo de reflexão e ação necessários para construir colaborativamente um pacto para as cidades portuguesas de amanhã alinhado com os desafios das várias agendas urbanas internacionais.

A missão dos promotores é clara, contribuir para alargar a consciência coletiva, essencial para enfrentar as questões urbanas encriptadas nos programas e compromissos políticos e mediáticos internacionais, nacionais e locais. Isso só é possível através do debate ampliado das temáticas de interesse para a comunidade, uma vez que permite gerar conhecimento comum e pensar em soluções de longo prazo.

Neste sentido, decorreu no passado sábado, na Universidade de Aveiro o primeiro momento de reflexão. Uma oportunidade para instituições públicas, privadas, academia, sociólogos, economistas, formalistas, geógrafos, urbanistas, arquitetos e cidadãos, trabalharem em conjunto, ao longo de um, trabalharem em conjunto, para colocar a aprendizagem coletiva no foco de toda e qualquer ação.

Na heterogeneidade dos argumentos e na partilha de experiências resultaram várias recomendações, emanadas das duas mesas redondas e de três grupos de trabalho, em que se destacam: a necessidade de valorizar o conhecimento produzido nos ecossistemas de ação local, a várias escalas e temáticas, como um dos contributos para uma agenda para as cidades; desencriptar as linguagens das agendas e programas públicos, definindo estratégias de comunicação para atrair e seduzir interlocutores e atores, reforçando o papel ampliado da comunidade e da cidadania no desenho de políticas públicas; e a relevância da responsabilidade política dos governos para um ação que permita a cidadania e as parcerias público-comunitárias com efetivo impacto nas cidades.

Em síntese, é preciso mais espaço para a aprendizagem coletiva. Só desta forma temos mais comum urbano no compromisso com a cidade.