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Especialista em geopolítica e segurança teme novo Molenbeek na Mouraria

Em entrevista ao Jornal de Negócios, Filipe Pathé Duarte diz que a construção da nova mesquita no bairro da Mouraria pode levar a uma autossegregação da comunidade islâmica. E isso pode ser um caminho para a radicalização.
  • REUTERS/Khaled Abdullah
28 Junho 2017, 12h00

Filipe Pathé Duarte, especialista em geopolítica e segurança, acredita que o jihadismo é uma narrativa que vai além da dimensão religiosa e se apresenta também como um problema político e sociológico. Em entrevista ao Jornal de Negócios, Pathé Duarte diz que o que move os jihadistas é “pura revolta violenta e não a construção de uma qualquer utopia”. E justifica: “Uma parte significativa das cidades atacadas por jihadistas são cidades de países que estão a fazer uma operação militar fortíssima na Síria e no Iraque.” Para o especialista, existe uma “vontade de punição”, que move os atacantes, como aconteceu em França ou no Reino Unido, algo que “não acontece com Portugal”, diz.

Referindo que “uma margem significativa de atacantes provém de franjas de uma vasta comunidade muçulmana radical e tendencialmente não integrada nesses países”, aponta que Portugal não estará numa zona de perigo imediato, porque “[Portugal] não tem essa franja”.

Por isso, Pathé Duarte considera infundados os receios que a construção da nova mesquita em Lisboa, no bairro da Mouraria. Ainda assim, considera que a mesquita deve ser construída noutro local, para evitar os erros cometidos noutros espaços europeus. “Em zonas urbanas de forte presença muçulmana, constrói-se uma mesquita. Isso vai criar ainda maior fluxo a esses mesmos espaços urbanos, tornando-os autossegregados”, algo que o especialista acredita poderá dar azo à existência de “zonas guetizadas, descentralizadas, com dinâmicas sociais muito próprias e autoexcluídas”, o que dificulta o controlo por parte das forças e serviços de segurança.

Para Pathé Duarte, o que deve ser feito é “o contrário”, ou seja, a mesquita, a construir, deverá localizar-se noutra zona. O objetivo é “disseminar socialmente, considerando outro planeamento urbanístico, a fim de evitar a autossegregação e a hipercomunitarização destes mesmos indivíduos”. E termina com um aviso: “A Mouraria não pode ficar tipo Molenbeek, em Bruxelas”, relembrando o bairro belga onde foram planeados os ataques de 2016.

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