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Excesso de mortalidade em Portugal: Covid, altas temperaturas e SNS pós-pandemia entre as principais causas (com áudio)

O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública acredita que a Covid e as altas temperaturas poderão ser responsáveis pela a elevada taxa de mortalidade. Já o virologista Pedro Simas rejeita a ideia de que a Covid possa ser responsável, mas aponta que o SNS esteve “muito condicionado ao Covid”.
18 Agosto 2022, 07h10

Os dados estatísticos mais recentes revelam que a taxa de mortalidade em Portugal tem registado níveis elevados, tendo em junho o país ultrapassado a média da União Europeia. O Jornal Económico falou com dois especialistas para averiguar as causas para este excesso de mortalidade.

Na quarta-feira, 17 de agosto, o Eurostat divulgou que Portugal registou a taxa de excesso de mortalidade mais elevada na União Europeia em junho, mais do triplo da média comunitária (6%), com 24%. Antes, a 12 de agosto, o Instituto Nacional de Estatística indicou que a mortalidade disparou 21% em julho, resultado de 1.850 óbitos a mais relativamente ao mesmo mês do ano passado.

“Desde o início do ano até agora aquilo que eu consigo ver que tem parcialmente justificado este aumento de mortalidade foi a Covid”, disse Gustavo Tatto Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública ao JE.

Segundo o especialista, no começo do ano “existiu uma grande intensidade de casos Covid e isso fez com que as pessoas mais vulneráveis também falecessem mais durante os meses de janeiro e fevereiro e depois em abril e maio quando libertámos o uso de máscaras e assistimos a um aumento da mortalidade por Covid”.

Por outro lado, o virologista e diretor executivo do Catolic Biomedic Research, Pedro Simas, destacou que a Covid não tem relação com a elevada mortalidade. “Quando me pergunta se esta taxa de mortalidade elevada é responsabilidade do Covid intuitivamente eu diria que não porque as pessoas estão vacinadas”, sublinhou.

“Desde que se vacinaram os grupos de risco em Portugal que o Covid passou de uma mortalidade que era superior à da gripe para uma taxa de letalidade muito baixa”, afirmou Pedro Simas acrescentando que “a taxa de letalidade do Covid foi curta, mesmo durante a vaga de Ómicron, que em poucas semanas infetou 20% da população portuguesa”.

Os dados mais recentes da Direção Geral de Saúde (DGS) davam conta de 62 óbitos nos últimos sete dias. Já o relatório de linhas vermelhas da DGS em conjunto com Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA) indicou que a mortalidade específica por COVID-19 (12,6 óbitos em 14 dias por 1 000 000 habitantes) apresentou uma tendência decrescente.

Além da Covid, as ondas de calor podem ser outra justificação para a elevada mortalidade. “A segunda causa que consigo identificar foram de facto as ondas de calor que tivemos e que apanharam os mais vulneráveis também porque durante estes últimos dois anos a grande maioria dos nossos doentes crónicos não foram devidamente acompanhados devido às medidas de combate à pandemia”, referiu Gustavo Tato Borges.

Por sua vez, Pedro Simas admite que a sua especialidade não lhe permite tirar conclusões nesta matérias, mas que enquanto cientista sabe “que as ondas de calor estão associadas a uma mortalidade”.

O virologista introduz ainda uma terceira opção para a elevada letalidade: o facto de o Serviço Nacional de Saúde ter estado “muito condicionado ao Covid” e como tal ter deixado “muitas situações clínicas por diagnosticar”.

Ambos os especialistas asseguram que para se chegar a conclusões mais certas nesta matéria é necessário haver ainda mais informação disponível sobre o assunto.

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