[weglot_switcher]

Esquerda mantém voto contra OE2022 e critica falta de apoios aos trabalhadores

“A inflação permite um brutal aumento da receita fiscal, mas o Governo decidiu não usar essa receita para apoiar quem trabalha e vê o salário comido pela inflação”, disse Catarina Martins no Parlamento. E Jerónimo de Sousa fez uma comparação direta desta proposta com a dos da Geringonça: “o tempo de conquista de direitos acabou mesmo”, declarou.
  • Tiago Petinga/LUSA
29 Abril 2022, 18h03

A esquerda parlamentar já tinha anunciado os seus votos contra o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) na generalidade e, no segundo dia de debate, tanto o Bloco de Esquerda como o PCP deixaram críticas à proposta do Governo. A coordenadora do Bloco, Catarina Martins, acusou o Governo de não usar a receita fiscal, fruto da inflação, para apoiar quem trabalha, e Jerónimo de Sousa insiste que Costa promove a acumulação de privilégios dos grandes grupos económicos em detrimento do povo.

“Lembram-se do orçamento que António Costa segurava para as câmaras no último debate eleitoral, previa o défice de 3,2%, no debate de hoje o ministro das finanças respondeu ao Bloco que o défice de António Costa previa há três meses era afinal uma irresponsabilidade”, sublinhou Catarina Martins.

Para a bloquista esta é “uma crítica que é também uma clarificação”. “A inflação permite um brutal aumento da receita fiscal, mas o Governo decidiu não usar essa receita para apoiar quem trabalha e vê o salário comido pela inflação, nem mesmo para responder aos enormes problemas dos serviços públicos essenciais”, frisou.

“O Governo vai usar receita suplementar para rever em baixa a meta do défice, ir além das metas europeias que hoje alias estão suspensas”,  destacou Catarina Martins, acrescentando que esta abordagem não representa “mudança de política”.

“Hoje com o conforto da maioria absoluta o PS arrisca a clareza”, salientou Catarina Martins que ao longo do seu discurso lembrou que os preços vão subir quatro vezes mais do que os salários.

O BE já tinha anunciado ontem, no primeiro dia de debate na generalidade, que ia votar contra. O líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, justificou a rejeição do documento com o argumento de que o atual Orçamento “repete o mesmo diploma apresentado em outubro passado e que, já nessa altura, o Bloco de Esquerda considerou que não estava à altura das necessidades do país”.

Do mesmo lado da bancada, não muda o sentido de voto e o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse que o Governo “não responde às necessidades dos trabalhadores e do povo, dando exemplo da teimosia própria das maiorias absolutas”.

Aquilo que é mais grave: “pode-se esperar deste governo nos próximos quatro anos e meio a falta de respostas  dos trabalhadores e do povo e o recurso a qualquer pretexto para explicar a deterioração das condições de vida, enquanto promove a acumulação de privilégios e benefícios dos grandes grupos económicos”, acrescentou.

Apesar de a inflação estar neste mês nos 7,2%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, e das previsões de que vai permanecer elevada até 2024, o Executivo insiste que é conjetural, lamenta Jerónimo.

Fazendo uma comparação direta desta proposta com a dos Orçamentos da Geringonça, declara perentoriamente: “o tempo de conquista de direitos acabou mesmo” e o PS não esteve naquele caminho por opção, subentendendo aqui as pressões dos partidos mais à esquerda,

“O país tem recursos e possibilidades para enfrentar a atual situação, assim houvesse vontade de meter em prática as políticas necessárias nesse sentido”, conclui.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.