Não há uma resposta única à pergunta. Mas compreender o contexto que nos fez chegar até estes máximos é importante.

Durante o último ano assistimos à constante renovação de máximos históricos nas principais bolsas mundiais, o que fez soar os alarmes de uma possível bolha. É um comportamento que levou a que certos investidores acreditassem que as bolsas, principalmente as norte-americanas, estavam caras.

O que é facto é que nunca foi fácil determinar exatamente onde nos encontramos no ciclo bolsista, e se as avaliações estão caras ou atrativas. E, apesar de não haver uma única resposta à questão, compreender o contexto que nos fez chegar até este ponto é importante.

O retorno das ações é proporcionado por dois fatores fundamentais. Por um lado, o fator económico do modelo empresarial através dos fluxos futuros, bem como a capacidade de adaptação e inovação ao longo do tempo. Por outro, o múltiplo que um investidor está disposto a pagar por esses fluxos, que é uma função da taxa de desconto exigida e depende de variáveis como taxas de juro, política monetária ou outras alternativas de investimento.

No fundo, o que nos pode levar a pensar que a bolsa está atualmente cara são os máximos atingidos e a comparação com o passado. No entanto, este tipo de comparações são uma falácia. Desde logo, nos vários outros momentos em que as bolsas atingiram máximos, também poderíamos ter feito a mesma pergunta que fazemos hoje. Isto demonstra que atingir máximos não é sinónimo de preços altos.

Existe, também, uma clara correlação entre o nível de avaliação do mercado e o retorno esperado das ações a 10 anos. Portanto, aos níveis atuais, não será expectável que os retornos dos próximos anos cheguem perto do dos últimos 10 anos.

Contudo, as empresas hoje têm uma capacidade de crescimento e de alcançarem novas tecnologias, com menores custos, que antigamente não tinham. Aqui, a inteligência artificial tem vindo a assumir um papel fundamental.

Adicionalmente, desde a Grande Crise Financeira assistimos a uma política monetária não convencional, levando a taxas de juro nulas ou mesmo negativas. Fatores que não favorecem o investimento em obrigações e que fazem com que o próprio valor atual dos cash flows futuros seja maior. Como resultado, muitos investidores foram forçados a assumir mais risco, explorando o mundo das ações. Em última instância, os programas de estímulos fiscais e monetários levaram a uma taxa de poupança mais elevada, alargando a base de investidores, o que fez crescer a procura por ações.

A composição dos índices também deve ser tida em conta, uma vez que as avaliações e prémios de risco serão diferentes. Se em 1990 havia apenas três empresas tecnológicas no Top 50 do mundo, em 2020 já eram 21. Não fosse a tecnologia uma grande força disruptiva, que proporciona fluxos de caixa futuros e níveis de rentabilidade mais elevados, seria surpreendente que essas empresas hoje não fossem mais eficientes e gerassem lucros astronómicos.

É também este fator que faz com que a bolsa europeia esteja atualmente mais atrativa do que a norte-americana do ponto de vista das avaliações. Ou seja, há uma presença muito superior de empresas growth na bolsa americana do que na europeia.

Assim, comparar múltiplos de há 30 anos com os atuais não é representativo, dado que as composições dos índices, as indústrias, a internacionalização e a escalabilidade dos negócios mudaram muito. Talvez o mais importante não seja pensar se os mercados bolsistas estão baratos ou caros para tentar acertar na altura de investir ou de sair. A isso chama-se especular e é exatamente o oposto de investir.