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Estarão os motores térmicos à beira do fim? A Apetro acha que não

Na sua mais recente Folha de Opinião, a Apetro declara que os veículos elétricos servem atualmente para cumprir normas de emissões e que o motor de combustão interna ainda terá uma palavra a dizer no futuro da mobilidade.
20 Abril 2017, 12h37

Sob o título “Veículos Elétricos e Motor de Combustão Interna: Factos que se Esquecem de Mencionar”, a mais recente Folha de Opinião da Apetro declara que a opinião de que o fim do motor de combustão interna (MCI) “está ao virar da esquina” é errada. Para tal apoia-se no volume total de veículos elétricos (VE) alimentados por baterias em circulação na Europa, que é de cerca de 0,15% do total (em Portugal, o total de VE, representam, em 2016, menos de 0,04% da frota).

Da mesma forma, alerta para o risco de o consumidor ser enganado pela afirmação de que um VE não emite CO2 no seu ciclo de vida. A associação que congrega as empresas petrolíferas em Portugal recorda que a a eletricidade produzida na Europa “está longe de vir a ser zero CO2 emitente” e que os dados de emissões de CO2 provenientes da fabricação do VE apontam para que “as poupanças acumuladas no fabrico, utilização/circulação e reciclagem dos mesmos são francamente inferiores às previsões e que, para uma boa parte, não chega sequer a haver poupança”, o que, na sua opinião engana, “os consumidores e cidadãos que foram conduzidos a acreditar que optaram por uma mobilidade com zero emissões.” Na verdade, para a Apetro, os VE servem atualmente para satisfazer os cada vez mais rigorosos standards da UE quanto à diminuição de emissões de CO2, que, dos atuais 130 g de CO2/km, terão de passar para 95 g de CO2/km em 2021. Tal obriga a que os construtores automóveis sejam “forçados a vender mais e mais VE para puderem cumprir com a lei, colecionando o máximo possível de vendas a ‘zero emissões’, de forma a reduzirem a média exigida”.

O tema da acessibilidade económica aos VE é também controverso para a Apetro: “Enquanto o custo das baterias está de facto em queda, as ONG pugnam de uma forma geral por mais incentivos à compra de VE.”, diz a associação em comunicado, recordando que, na maioria dos países da UE, a compra de um VE é subsidiada em cerca de 5000 € e que, cumulativamente, há lugar a benefícios fiscais, que a associação calcula serem de mais 5000 € para a vida útil do veículo. Apesar disso, a Apetro acredita que a transformação de toda a frota europeia (250 milhões de veículos) para VE custaria 2,5 biliões de euros, o que leva à conclusão de que “a eletrificação dos transportes desapontará a prazo a sociedade europeia, à medida que a realidade venha à superfície, e que a defesa predeterminada da eletrificação da mobilidade vem simplesmente cedo de mais”.

Apesar destes subsídios, diz a Apetro, o ritmo de compra de VE é ainda muito baixo, pois, “os preços de compra praticados (…) são ainda incomportáveis para muitas famílias, que continuarão assim a adquirir, por muitos anos, veículos a gasolina ou a gasóleo, pagando através dos seus impostos e provavelmente sem se aperceberem, os subsídios atribuídos aos VE, que por sua vez não pagam os mesmos impostos na compra e na energia que utilizam”. Aliado a um valor de compra mais elevado está o decréscimo da autonomia dos VE e das suas baterias com a idade, o que leva a associação a perguntar: “Qual será o impacto deste efeito nos segundos e terceiros proprietários desses VE?”

Assim, a associação contrapõe que os MCI terão ainda uma palavra a dizer no futuro da mobilidade, mas também na competitividade da indústria automóvel europeia e nos restantes setores que utilizam estes motores. Para tal, há que conseguir melhorar a sua eficiência, satisfazendo ao mesmo tempo os limites relativos à qualidade do ar, algo que poderá ser alcançado através da redução do peso do veículo. O aumento da inclusão de biocombustíveis sustentáveis será outro dos caminhos, pois tal “irá reduzir as emissões de CO2 (considerando o ciclo completo) dos novos veículos vendidos, mas também beneficiará a frota já em circulação”. Por isso, e com os incentivos adequados, “há forte probabilidade de que novas tecnologias sejam desenvolvidas, melhorando a performance de emissões dos combustíveis tradicionalmente disponíveis”. A eletrificação e hibridização dos veículos é a terceira via de futuro apontada pela Apetro e terá “um papel complementar aos MCI, proporcionando veículos práticos e leves, com emissões de CO2 reais inferiores, evitando o custo do carbono emitido, bem como a penalização inerente às baterias pesadas”.

A Apetro termina apontando o dedo à legislação atual limitadora das emissões de CO2 dos veículos automóveis, que, apesar do “franco sucesso nas melhorias conseguidas, pode ser enganadora para a indústria automóvel, conduzindo-a a uma oferta prematura de opções elétricas sem que outras tecnologias, mais custo eficientes na redução de emissões, sejam desenvolvidas e suportadas”. Por todos estes motivos, a Apetro propõe uma revisão da regulamentação relativa à fabricação de veículos automóvel, assegurando aos consumidores e ao planeta um melhor compromisso mobilidade/custo/clima.

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