Há uma revolução em curso em Portugal. Vai de lés a lés e já é imparável. Já devia ter acontecido. Tinha sido bom para os portugueses, mas tem falhado sempre, na maior parte dos casos havia projectos e não havia meios. Mas agora não vai parar, nem vamos deixar que falhe. Qualquer português que se preze quer que isto aconteça.

Já fizemos o que tínhamos a fazer pela rodovia: no plano europeu Portugal está no ‘top 5’ em termos da qualidade de sua rodovia.  Agora é decisivo a aposta na ferrovia nacional e concluir as ligações com a rodovia de modo a completar a malha de circulação que liga interior e litoral; Norte e Sul, para, assim, dar ao país a mobilidade que precisa para ser competitivo e sustentável.

Há meios, há projectos, há planeamento e há liderança. O Primeiro Ministro e o Ministro das Infraestruturas são os rostos desse empenho e dessa liderança. O ferrovia 2020 está a acelerar e tem 2000 milhões de euros em execução. São obras pesadas e de execução complexa, por isso, não acontecem de um dia para outro. Mas vale a pena sublinhar os bons sinais que darão ao país  contributos decisivos na mobilidade, na competitividade, nas contas públicas, na balança comercial e na sustentabilidade.

Mais comboios eléctricos, menos poluentes, também significa menos importações de petróleo.  Comboios, mais confortáveis, mais rápidos e disponíveis em todo o lado, com linhas modernas e adequadas às necessidades, melhoram a qualidade de vida dos cidadãos e a competitividade das nossas empresas. A redução da pegada ecológica implica um esforço extraordinário nos transportes públicos e isso é obtido com a aposta na ferrovia.

Mas esta nova forma de encarar a ferrovia não se esgota na construção de novas linhas, na requalificação de outras ou na electrificação de todas elas. Nem sequer fica apenas pelo investimento ímpar no material circulante.

Todavia, a este propósito, vale a pena lembrar que Portugal não comprava uma carruagem nova há 20 anos, mas já tem uma encomenda de 51 novas carruagens e previsto a aquisição de 129 automotoras eléctricas. Além de ter feito o que nunca foi tentado: recuperou, através da reabertura da oficina de Guifões, 13 carruagens, 10 locomotivas e cinco automotoras.

Tudo material que estava abandonado e que agora está em boas condições de circulação, com ganhos tremendos para o país. Mas, escrevia eu, há mais motivos de regozijo: a aposta na ferrovia vem acompanhada com o esforço de aproveitar as necessidades do país para criar um cluster industrial ligado ao sector.

Não são apenas objectivos programáticos. Está em curso: a recuperação da oficina de Guifões foi o primeiro passo, a fusão da EEMF com a CP também e, sobretudo, a criação do Centro de Competências Ferroviário que está em curso permitirá a transferência de tecnologia e a promoção da I&D no sector, em fina articulação com empresas e academia, numa verdadeira fertilização cruzada.

Envolver o sector privado e promover o empreendedorismo no sector permitirá a Portugal almejar edificar competências robustas e de valor acrescentado para a diversificação industrial num sector em crescimento. Tudo isto pode ser debatido no quadro do Plano Nacional Ferroviário, cuja discussão foi lançada recentemente, que não será uma lista de obras mas um programa estratégico para que o país possa assegurar uma rede ferroviária ao nível das melhores da Europa mas, ao mesmo tempo, se possa apresentar como player do sector no panorama mundial.

Apesar de tudo há assuntos a resolver, sendo que o primeiro é a solução efectiva da dívida da CP (superior a dois mil milhões de euros), gerado ao longo de anos em que a empresa pública tinha de dar resposta a todos os problemas, sem meios adequados, acumulando défices quase nunca cobertos, apesar do serviço público prestado. A liberalização do sector exige que não falhemos neste propósito. De resto, agrada-me a ideia que precisamos de um “campeão nacional” e os tempos estão propícios.

Mas se o Ferrovia 2020 é um sinal de esperança, materializado com um orçamento de 2 mil milhões de euros, a perspectiva de quase mais 10 mil milhões de euros disponíveis para o sector, assegura a esperança que o país deposita neste movimento sem precedentes na ferrovia nacional.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.