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CEO da Electronic IDentification: “Estivemos quase a desaparecer duas ou três vezes”

Iván Nabalón, fundador e CEO da Electronic IDentification, conta ao JE como quer aumentar os clientes digitais dos bancos e seguradoras.
28 Maio 2022, 21h00

A empresa espanhola Electronic IDentification, que chegou ao mercado português em fevereiro, utiliza a inteligência artificial e o machine learning para desenvolver soluções de reconhecimento de identidade. Através de vídeo e assinatura digital, a tecnológica diz que utiliza o melhor método para certificar a identidade de alguém de forma remota, porque considera a videoconferência ou as selfies “obsoletas” e tem dúvidas de que cumpram a regulamentação europeia.

O Jornal Económico falou com o fundador e CEO da Electronic IDentification, Iván Nabalón, que em 2013 começou a vender tecnologia que sabe quem todos nós somos. Hoje, tem mais de 1.500 clientes em 42 países e o seu principal objetivo é que bancos, seguradoras ou outras organizações possam reduzir os custos associados à integração de clientes digitais – e que os dados biométricos valham mais do que uma rubrica em papel.

Tecnologia, identidade e democracia. Como é que uniu estes temas e criou a Electronic IDentification?
A minha paixão era ver como se podia mudar o mundo com a tecnologia. Num determinado momento da minha vida, já com dois filhos, decidi dar o salto e fazer um projeto de impacto social: dar uma identidade digital aos cidadãos para que, em algum momento, se pudesse mudar o paradigma da democracia e que todos possam participar ativamente, votar, etc. Nessa altura já se utilizava a assinatura digital, mas era muito difícil de usar e era muito complexa. É um instrumento magnífico, que tem 20 anos, mas a usabilidade é má. Propus-me a mudar as coisas e a criar uma rede social por cima, a Civitana.org, para cidadania, e ano passado até estivemos na Casa Branca porque nos convidaram para falar de democracia eletrónica.

De que forma se dá a viragem para o sector financeiro?
Eu conhecia muita gente dos bancos e de outras instituições financeiras [da carreira enquanto consultor no grupo CMC e na GTBC] e comecei a mostrar-lhes a tecnologia. Numa altura em que estavam a fechar grandes escritórios e balcões de rua por causa da digitalização, [esta tecnologia] para notificar uma pessoa e assinar um contrato era perfeita. Em Espanha, bancos de retalho como o Santander, CaixaBank ou BBVA, líderes, levaram-nos ao regulador e acabou por ser autorizado. Tivemos sorte, porque estivemos quase a desaparecer duas ou três vezes antes de convencer os bancos e o Banco de Espanha. Na Alemanha este sistema havia desde 2014, mas era uma espécie de entrevista, como há hoje em Portugal, em que há uma entrevista com uma pessoa, a quem mostras o documento de identificação. O problema é que não é escalável, porque requer pessoas.

Mas chegou a 2020 e foi nomeado um dos 25 melhores CEO de fintech…
Tens sempre de ter uma atitude positiva e pensar que tens algo que dá um valor importante à sociedade. É o que dá resiliência para continuar a insistir. Algumas pessoas até dizem que é uma travessia no deserto, que custa. Creio que o nosso principal êxito foi termos conseguido fazer uma tecnologia e convencermos os reguladores em todo o mundo, especialmente na Europa, de que vale e é uma oportunidade. Sem dúvida que o maior sucesso é do ponto de vista regulatório. Por exemplo, temos um projeto para digitalizar a Segurança Social de 44 milhões de cidadãos em França. Além que já temos 120 pessoas a trabalhar connosco [nos escritórios de Madrid, Paris, Cidade do México e Hong Kong].

E com a supervisão em Portugal? A abordagem foi fácil?
Há quatro anos, o Banco de Portugal aceitou fazer as videoconferências e copiar o modelo alemão e dissemos-lhes que era um modelo antigo, que a tecnologia estava a evoluir muito. Não se pode pedir aos cidadãos e às instituições que façam uma entrevista de 15 ou 20 minutos para criar uma conta [bancária]. Depois, para abrir outra noutro banco, fazer outra e outra. É um processo pesado. Decidiram envergar pelo modelo alemão quiçá pela marca alemã. A bandeira da Alemanha pesa na Europa. Nestes quatro anos arranjámos vários clientes porque também temos soluções de videoconferência.

Que ideia tem da posição da União Europeia sobre a assinatura digital?
O que se está a passar é uma estandardização na Europa. Há alguns anos, cada Estado-membro da União Europeia tinha uma regulação, no entanto agora conta a regulação europeia. A União Europeia está a harmonizar todo o tema da identidade digital. Claro que cada mercado tem a sua maturidade, tem o seu timing, a sua pressa. O importante é que ao dia de hoje a identidade digital na lei está a ser o que o euro foi para a moeda há 20 anos, pois está a estandardizar-se. Custou-nos quatro anos mas creio que agora estamos a entrar com muita força.

Diz que não inventaram a assinatura digital, porque existe há 20 anos. O que fizeram?
Tornámo-la mais fácil de utilizar. Além disso, podemos fazer identificação à distância. Com estas duas coisas, identificar um cidadão e dar-lhe uma assinatura digital válida para toda a Europa, é possível abrirem contas, gerar relações com a Administração Pública, viajar de forma transfronteiriça. Há muitos âmbitos de aplicação. A conexão da assinatura digital, que é simples, com a identificação é o nosso foco. Ou seja, fazemos a transferência de uma identidade analógica, como o passaporte ou o Cartão de Cidadão, com a assinatura digital. Temos três produtos muito completos, do vídeo à autenticação biométrica facial, que envolvem muito investimento em desenvolvimento. Por isso não estamos focados em mais tecnologia mas na expansão do negócio.

A empresa encaixou 2,2 milhões de euros em rondas de investimento e em 2021 foi comprada pela Signicat. Para essa expansão, vão precisar de mais financiamento?
Decidimos que não queríamos ser uma empresa tão agressiva em captação de dinheiro. Foram três rondas, embora tenhamos um modelo de negócio que não precise de muito capital de risco. Já investimos 20 milhões de euros só com receitas dos clientes.

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